❛Sejam um bom exemplo para as crianças. A COVID não discrimina e nós também não devemos fazê-lo❜

Tem 40 anos e está associado ao Goryeb Children’s Hospital do grupo Atlantic Health System, em Morristown, estado de New Jersey, o pediatra luso-americano Francisco Silva, filho de imigrantes de Seia (Guarda). O médico, que nasceu no bairro nova-iorquino de Brooklyn, onde viveu até aos 25 anos, foi recentemente entrevistado pelo diário ‘New York Times’ para o artigo ‘How to Keep Kids Moving (Personal Bounce House Not Required)’ – na qualidade de membro do Comité Executivo do ‘Sports Medicine and Fitness’ da American Academy of Pediatrics.

“Quando entrei para o liceu já sabia que iria seguir carreira em medicina, só não sabia em que área específica”, afirma o médico Francisco Silva, que fala português, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “No último ano da escola secundária tornei-me técnico socorrista com a convicção de que iria ser médico, mas só na Faculdade é que optei pela especialização em pediatria”.

Depois do St. Agnes Boys High School em Manhattan, Francisco Silva tirou um mestrado em Saúde Pública pela Colgate University, em Hamilton, NY, seguindo posteriormente para a St. George’s University, em Granada, onde prosseguiu formação académica superior. Silva faria todo o seu programa de estágio no Goryeb Children’s Hospital de Morristown, NJ, onde acabaria por permanecer durante um ano como chefe do departamento pediátrico, optando depois pelo exercício da carreira na área privada; para além da ligação à já citada unidade hospitalar, também atende doentes numa clínica privada em Summit, a ‘Advocare Summit Pediatric Associates’.

Os pais do médico, Joaquim e Fernanda Silva, são oriundos de Vila Verde, Seia, no distrito da Guarda, e emigraram para Brooklyn, NY. Francisco chegou mesmo a frequentar a extinta escola portuguesa ‘Luís de Camões’ na baixa de Manhattan, “uma vez que os meus pais trabalhavam na cidade, tal como também fiz o liceu em Nova Iorque pela mesma razão”.

De acordo com Silva, depois do mestrado em Saúde Pública, “com foco na prevenção, a pediatria seria o passo seguinte mais lógico. Queria con- centrar-me em medicina preventiva e nada melhor para o fazer seguindo pediatria, uma vez que poderia exercer impacto na saúde dos meus pa- cientes desde a hora do nascimento. Há uma sen- sação que não se explica quando se vê o nosso paciente crescer à nossa frente, ou sermos o pri- meiro médico que os pais conhecem quando têm um filho. É uma ligação para a vida”.

A carreira de Francisco Silva também o levou a uma clínica que lidava com jovens problemáticos em New Jersey, onde é ‘Chief Pediatric Resident’, e até mesmo a ‘Head School District Physician’ em Rutherford, NJ; no campo académico, é ‘Clinical Assistant Professor of Pediatrics’ no Sidney Kimmel Medical College da Thomas Jefferson University, em Filadélfia, PA, e chegou a leccionar ainda na Touro College of Osteopathic Medicine em Manhattan.

Com muita obra de investigação médica publicada nos mais diversos meios, o pediatra tem uma lista de honrarias e prémios conquistados ao longo da sua trajectória profissional; esteve de 2014 a 2019 no grupo dos ‘NJ’s Favorite Kids’ Docs’ (sempre nomeado pelos pais dos seus pacientes); recebeu o ‘Arthur Ackerman Award’, ‘Natural Medicines Comprehensive Database Recognition Award’ e o ‘President’s Student Service Award’, que lhe foi atribuído em 2000 pela Casa Branca.

O luso-americano tem ainda tempo – e determinação – para participar em programas médicos de voluntariado como ‘Hands up for Haiti’ e ‘Shoulder to Shoulder’, este último com actuação nas Honduras.
Em relação a como lidar com crianças em tempos COVID, o pediatra lembra aos pais:

■ Ensinem-lhes e reforcem acções preventivas diárias como: lavar as mãos com frequência; usar máscara (para menores a partir dos 2 anos de idade) em público ou quando em contacto com alguém fora do círculo familiar; praticar o distanciamento social (ou seja, ficar em casa sempre que possível e evitar estar em grupos); ensinar-lhes a tossir e espirrar para um lenço e deitar este fora de imediato ou então para o cotovelo e nunca para as mãos; lavar os brinquedos de acordo com as instruções dos fabricantes; evitar tocar na cara; seguir as instruções de viagem emanadas pelos estados e pelo governo federal; levar as crianças às consultas médicas regulares e vaciná-las (as vacinas são extremamente importantes para proteger e prevenir as crianças de doenças).

O pediatra também sublinha que a Academia Americana de Pediatria sugere e recomenda que se filtre a informação sobre a COVID ou outras tragédias que se faça chegar às crianças, “lembrando-lhes que os médicos e investigadores estão a fazer todo o possível para controlar e combater o vírus no sentido de manter a população em segurança”.
O Dr. Francisco Silva alerta ainda: “Tenham atenção aos sinais de ansiedade. As crianças podem não ter palavras para expressar as suas preocupações, mas podem dar sinais disso. Podem ficar rabugentas, mais pegajosas, ter problemas para dormir, ou parecer distraídas. Mantenha a tranquilidade e tente manter as suas rotinas normais”.

Quanto ao acesso às redes sociais e imprensa em geral, “mantenha as crianças afastadas de imagens assustadoras. Para as mais velhas, falem em conjunto sobre o que estão a ouvir nas notícias e corrijam qualquer desinformação ou rumores que possam ouvir”.

O pediatra termina dizendo: “Sejam um bom exemplo para as crianças. A COVID-19 não discrimina e nós também não devemos fazê-lo. Embora a COVID-19 tenha começado em Wuhan, na China, isso não significa que ter ascendência asiática – ou qualquer outra ascendência – torne alguém mais susceptível ao vírus ou mais contagioso. O estigma e a discriminação ferem toda a gente, criando medo ou raiva para com os outros. Quando mostrar empatia e apoio àqueles que estão doentes, os seus filhos também o farão”.