❝AS ORIGENS PORTUGUESAS SÃO UMA INFLUÊNCIA PROFUNDA NO MEU PROCESSO CRIATIVO❞

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

É à vivência do dia-a-dia, dos convívios familiares ao ritual do jantar, que Michael de Brito vai beber como fonte de inspiração. As suas telas, umas gigantescas, outras minúsculas, são um roteiro a cores e pinceladas do quotidiano do Ironbound – ou de qualquer outra família portuguesa na diáspora.

“Vivemos em Newark até 1990 e só depois nos mudámos para a periferia, embora ainda lá tenha muita família”, diz o pintor Michael de Brito, em entrevista concedida no seu atelier ao jornal LUSO-AMERICANO.

Aos 41 anos, pode orgulhar-se de ter marcado um trajecto nas artes plásticas ímpar; poucos luso-descendentes da sua geração, sobretudo nesta costa, fizeram a carreira sólida e produtiva de Michael de Brito, que se formou pela Parsons School of Design, em Nova Iorque, e já expõe desde 2003.

🌐DE NEW JERSEY PARA O MUNDO

Representado em Portugal pela Galeria Graça Brandão, de Lisboa, e nos EUA pela Collins Galleries, de Massachusetts, Michael de Brito passou já por espaços como Meymac Scéne Portugaise (Corrèze, França), Museu Afro Brasil (São Paulo, Brasil), Arnold and Sheila Aronson Galleries (Nova Iorque), Affero Gallery (Newark, NJ), The Ex-Photo Show (Nova Iorque), University of Maine Museum of Art (Bangor, Maine), Arbermarle Gallery (Londres), ARCOmadrid (Espanha), Eleanor Ettinger Gallery (Nova Iorque), The Kitchen/Whitney ISP (Nova Iorque), Museu da Electricidade (Lisboa), Museu da Presidência da República (Viana do Castelo), Scottish National Portrait Gallery (Edinburgo), National Portrait Gallery (Londres), Salmagundi Club (Nova Iorque), Society of Illustrators  (Nova Iorque) – entre outros.

Nasceu em New Jersey em 1980, filho dos emigrantes algarvios Nédia Galvão de Brito e Juvenal de Brito. É no liceu de Watchung, NJ que descobre, através do programa de artes, a inclinação para a pintura. Na Parsons opta pela ilustração. “Interessavam-me as figuras e formas humanas”, diz. Para aprimorar técnicas, ainda passou pela New York Academy of Art, também em Manhattan. “Mesmo quando se tem talento, é fundamental dominarem-se as técnicas. Alargam-nos os horizontes”, explica.

🌐’DESCOBERTO’ POR GALERIA NOVA-IORQUINA

A Eleanor Ettinger Gallery acredita nele e, aos 24 anos, entra na primeira mostra colectiva, em Nova Iorque; a individual aconteceria quatro anos depois.

À actividade criativa, junta a de docente, passando a dar aulas primeiro na Parsons School of Design, mais tarde numa instituição privada em Englewood, NJ e ultimamente – com a pandemia – a título privado e à distância.

Inspirado por mestres como o espanhol Diego Velázquez, o norte-americano John Singer Sargent ou o francês Georges Seurat, a figura humana – e o realismo – são presenças constantes nas suas telas. “Tento captar nos meus traços da forma mais natural aquilo que observo no mundo real”, nota.

“As origens portuguesas são uma influência profunda no meu processo criativo”, reconhece Michael de Brito, “mesmo apesar de já ter aqui nascido. Mas os meus pais sempre me levaram a Portugal e tenho lá raízes bem vincadas. Acho mesmo que tudo o que pinto tem uma ligação qualquer ao meu ADN.”

🌐REALISMO NU E PURO

Também admirador do “realismo brutal” de Paula Rego, o criador luso-descendente diz que tenta “captar a beleza, seja ela boa ou má. Às vezes, até onde os outros só vêem o que parece feio, há beleza. Não gosto de glorificar nada, apenas captar o que observo, o que está ali, e isso para mim é o realismo nu e puro.”

Apesar dos seus quadros poderem custar de mil a 40 mil dólares, Michael de Brito não se rebaixa ao vil metal. “Na minha óptica, o dinheiro está em segundo lugar e os meus princípios artísticos sempre em primeiro”, refere. “Sacrificaria quase tudo para continuar a pintar e acredito que, se tiver essa convicção, se acreditar no meu próprio trabalho, ele vingará.”

www.michaeldebrito.com