TEM 22 ANOS, NASCEU NO ESTADO DE NOVA IORQUE E CUMPRE UMA MISSÃO: SALVAR VIDAS

🖋Por HENRIQUE MANO

Quando põe o vestuário de trabalho e o estetoscópio ao ombro, Danny da Silva está pronto para se dedicar àquilo que lhe dá mais gosto fazer (e que escolheu como carreira): salvar vidas.

“Descobri no liceu esta inclinação para o serviço público na área da saúde”, conta o técnico socorrista luso-americano, de apenas 22 ano de idade. “As aulas de biologia eram, para mim, as mais gratificantes. Depois percebi que ser EMT era a melhor forma de aprender na prática o que seria uma carreira na saúde”.

Apesar da idade, Danny da Silva já viu de frente os efeitos devastadores de uma pandemia global que, apenas na América, ceifou quase 200 mil vidas humanas. E avisa: “O trabalho neste sector não é para todos, mas quando se descobre que é esta a nossa vocação, não há nada mais incrível”.

Danny nasceu e cresceu em New Rochelle, no condado nova-iorquino de Westchester. O pai, Dominick, é de Vilarelho da Raia (Chaves); a mãe, Maria da Graça, tem raízes em Bustos, Aveiro. “Passei sempre os verões em Portugal, onde visitávamos os meus avós”, conta. “Frequentei as comunidades lusas de Mt. Vernon e New Rochelle e fiz mesmo a escola portuguesa ‘Infante D. Henrique’”.

Depois da scumdária em New Rochelle, obteve um bacharelado em Ciências e Biologia na University at Albany, da rede SUNY, com estudos secundários em Matemática. Antes mesmo de ter arranjado uma posição remunerada, há 4 anos que se tornou EMT voluntário; era ‘patient coordinator’ numa clínica quando o novo coronavírus explodiu na América e o atirou para o desemprego.

“Com a experiência que já tinha acumulado como voluntário, resolvi arranjar emprego a tempo inteiro e fui para a Empress”, conta Danny da Silva, referindo-se à firma de fornecimento de serviços de saúde que actua no estado de Nova Iorque (predominantemente em Westchester), possibilitando ambulâncias e pessoal médico e ainda transporte de e para o hospital a doentes incapacitados.

❝QUANDO SE DESCOBRE QUE É ESTA A NOSSA VOCAÇÃO, NÃO HÁ NADA MAIS INCRÍVEL❞

➔Danny da Silva, técnico socorrista em Westchester, NY

A grande ‘escola’ prática de Danny da Silva tem um nome: COVID. New Rochelle foi palco de um dos primeiros focos comunitários da doença. “Passámos um período deveras agitado, na altura”, reconhece. “Só a Empress, registou em apenas três semanas o volume de trabalho equivalente a um ano. Ainda assim, tentámos dar resposta ao maior número de pedidos de ajuda”.

Silva explica que a formação para EMT inclui precisamente treino “que nos ensina a gerir situações de pânico e medo. Aliás, quem escolhe esta carreira, não o faz pela recompensa monetária. Há formas muito mais fáceis de ganhar mais dinheiro noutras áreas. Quem faz isto, é porque realmente gosta”.

Como técnico socorrista, Danny da Silva teve de enfrentar doentes COVID e sem COVID, durante o pico da pandemia. “Tínhamos de ajudar toda a gente, mesmo porque se não fôssemos nós a fazê-lo, quem seria?” – interroga.

❝QUEM ESCOLHE ESTA CARREIRA, NÃO O FAZ PELA RECOMPENSA MONETÁRIA❞

➔Danny da Silva,técnico socorristaem Westchester, NY

Danny da Silva espera, daqui a 8 meses, dar o salto para paramédico – que considera o nível mais elevado na área de cuidados de saúde em primeiros socorros. Para tal, está agora matriculado na St. John’s College e na Westchester Community College, onde estuda. “Permite um tipo de intervenção médica muito mais profundo”, diz. “Como paramédico, estarei na linha da frente dos casos mais complicados, com situações de vida ou morte”.

O luso-americano não se quer ficar por aqui… “O meu objectivo é chegar um dia a ‘physician assistant’, onde vou poder fazer uso de toda esta experiência prática”.

O luso-descendente sublinha ainda “o impacto que a COVID teve nos profissionais de saúde em geral. Foi como se tivéssemos ido à guerra, nestes últimos meses; os níveis de depressão neste sector são dos mais elevados. Trabalha-se 24/7 e todos os profissionais de saúde chegaram aos seus limites – houve médicos que fizeram mesmo mais do que aquilo que se lhes pedia”.

Danny da Silva lamenta também o facto de “muitas pessoas olharem com certa indiferença para a COVID. Infelizmente isso sucede porque não tiveram contacto com ninguém infectado e desconhecem os efeitos devastadores que o vírus pode ter – de outra maneira, acredito que teriam uma atitude diferente”.

❝A INDIFERENÇA É O GRANDE PERIGO NO COMBATE AO NOVO CORONAVÍRUS❞

➔Danny da Silva,técnico socorristaem Westchester, NY

O futuro paramédico diz ter tratado de pacientes “que estavam completamente bem e que, depois de contraírem COVID, foram acometidos de problemas graves respiratórios, passando à condição de poderem morrer a qualquer momento”.

Aponta ainda o dedo ao “mito de que o novo coronavírus só é perigoso para quem tiver condições médicas pré-existentes. Ora, vi pessoas sem quaisquer problemas de saúde apanharem COVID e passarem muito mal assim como outras que, possuindo já problemas de saúde há muitos anos, apenas agravaram o seu estado por terem sido infectadas – e muitas morreram”.

E deixa um apelo: “Não nos podemos deixar levar pelo falsa sensação de que já está tudo bem e não tomarmos as precauções necessárias. Aí está o grande perigo de permitirmos uma segunda vaga da COVID”.