• Por HENRIQUE MANO | Newark, NJ

Nas declarações feitas à imprensa no seu primeiro dia de trabalho como Secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth foi indagado sobre o significado da pulseira com que tem surgido em público desde que foi nomeado para comandar o Pentágono.

“Quem é a pessoa com o nome na pulseira que tem ao pulso?”, pergunta um dos muitos repórteres à entrada do icónico edifício em Arlington, Virgínia, no passado dia 27 de Janeiro.

De acordo com a transcrição oficial do Pentágono, a resposta de Hegseth não se fez esperar: “Este é o Jorge Oliveira […], que morreu no Afeganistão. Trago esta pulseira todos os dias comigo. Foi um soldado com quem servi na Baía de Guantánamo quando era líder de pelotão. Ele morreu no Afeganistão, não na minha unidade, mas quando eu estava lá”.

Foto: CORTESIA FAMÍLIA OLIVEIRA/LUSO-AMERICANO | O sargento Jorge Oliveira numa das suas missões militares no estrangeiro

A pulseira de Pete Hegseth com o nome do português Jorge Miguel Oliveira durante a sua confirmação no Senado

O recém-empossado líder militar norte-americano diz ainda que “é por pessoas como ele que defendemos a nação, alguém que deu a vida e fez o sacrifício supremo pelo seu país”.

O gesto solidário e de patriotismo de Hegseth apanhou de surpresa a família do falecido militar português, natural de Cantanhede, uma cidade do distrito de Coimbra, que faleceu a 19 de Outubro de 2011 aos 33 anos de idade, quando cumpria a sua sexta missão militar no Afeganistão (durante a Operação “Liberdade Duradoura”), enquadrado num pelotão de infantaria da Guarda Nacional de New Jersey.

Foto: CORTESIA FAMÍLIA OLIVEIRA/LUSO-AMERICANO | Jorge Oliveira (direita) com os pais, Armanda e Manuel Oliveira, e os irmãos Marco e Jessica

“Foi uma surpresa para mim”, disse Marco Oliveira, irmão mais novo do sargento Jorge Oliveira, falando ao jornal LUSO-AMERICANO. “Soube através de um grupo de militares que foram colegas do meu irmão e de Hegseth, com quem ainda mantenho contacto. Tanto eu como o resto da família e os amigos do meu irmão ficámos muito felizes e sensibilizados com o seu gesto, que muito nos honra. É bastante comovente”.

Oliveira explica que a pulseira é feita por uma organização afiliada ao Pentágono que trabalha para que a memória dos que morrem de farda não caia no esquecimento, e que as distribui gratuitamente a familiares de militares mortos em combate.

“Os meus pais, que ainda vivem no Ironbound, na Darcy Street, também sabem que o Secretário de Defesa leva no pulso a pulseira com o nome do meu irmão”, acrescenta.

Foto: CORTESIA FAMÍLIA OLIVEIRA/LUSO-AMERICANO | O sargento Jorge Oliveira estava afecto à Essex County Sheriff’s Office

As inscrições na pulseira incluem o nome do militar português, Jorge M. (Miguel) Oliveira, o número do seu pelotão e da localidade no Afeganistão onde pereceu (Paktika) e a data da sua morte (19 de Outubro de 2011).

“Estou satisfeito com o facto de Pete Hegseth estar na posição a que chegou e espero que faça um bom trabalho, tem todo o meu apoio”, acrescenta Marco Oliveira. “É realmente incrível este gesto dele, não apenas pelo facto de ser agora Secretário de Defesa, mas pelo reconhecimento que demonstra para com a marca positiva que o meu irmão deixou na vida das pessoas. Eles deviam mesmo ser amigos, porque, pelo contrário, não optaria por andar com a pulseira a toda a hora”.

O novo Secretário de Defesa norte-americano exibe com orgulho a pulseira em memória de Jorge Oliveira, que diz usar todos os dias

Marco, que também nasceu em Cantanhede, diz mesmo que “gostaria muito de conhecer o Pete Hegseth, com quem nunca estive, quanto mais não fosse para lhe agradecer este simpático gesto para com o meu irmão e a nossa família”.

Jorge Miguel Oliveira tinha 7 anos de idade quando a família emigrou para os EUA, em 1985, radicando-se em Newark, NJ. O falecido militar e agente policial cresceu no Ironbound, onde os pais, Armanda Nunes dos Santos Oliveira e Manuel Moreira  de Oliveira, ainda residem. Para além de Marco, tinha ainda a irmã Jessica Oliveira.

Logo após ter terminado o Liceu East Side, alistou-se no exército e, como membro da Guarda Nacional, esteve em missões na Baía de Guantánamo, em Cuba, em Nova Orleães na operação de reconstrução após o furacão Katrina e no Iraque. Em 2001 juntou-se à polícia de condado Essex County Sheriff ‘s Office, onde integrou a unidade de intervenção rápida e chegou a detective no esquadrão de captura de fugitivos.

Foto: CORTESIA FAMÍLIA OLIVEIRA/LUSO-AMERICANO | O sargento Jorge Oliveira numa das suas missões militares no estrangeiro

A estátua de Jorge Oliveira no Essex County Veterans Memorial Park, em Newark

São várias as homenagens públicas feitas ao Sgt. Jorge Oliveira – da placa de rua com o seu nome no Ironbound, a uma praceta no Essex County Veterans Memorial Park, em Newark, com uma estátua em bronze com 7 pés; o seu nome figura ainda num monumento em Washington, DC dedicado a militares mortos na Guerra do Afeganistão. Por outro lado, um braço da organização Veteranos de Guerras no Estrangeiro (VFW) em Kearny, NJ promove anualmente uma maratona de 5 kms em sua homenagem para angariação de fundos para causas ligadas ao ensino.

Jorge Oliveira teve um funeral com honras militares e policiais, na catedral de Newark, com a presença do então Governador Chris Christie, e do xerife Armando Fontoura, e repousa num cemitério em North Arlington, NJ.