Em Angola vitimas de “contaminação dolosa” por VIH/Sida são incentivadas a fazer queixa
O Instituto Nacional de Luta Contra a Sida (INLS) angolano está a incentivar as alegadas vítimas de contaminação intencionalporVIH/Sida a denunciarem os casos.
“Ouvimos pelos corredores, ouvimos nas ruas (relatos de contaminação dolosa), mas ninguém ainda teve coragem de oficializar essas queixas”, afirmou a directora geral do INLS, Lúcia Furtado à margem do segundo dia do workshop sobre o Plano Estratégico Nacional de resposta ao VIH/Sida e Hepatites Virais.
Lúcia Furtado explicou igualmente que há dois anos que Angola não regista rotura de stock de antirretrovirais, garantindo que o país tem garantidos fármacos para as pessoas que vivem com o VIH/Sida até Março de 2023. “Neste momento, estamos em processo de aquisição de uma nova encomenda para os próximos anos “, argumentou.
No workshop, que decorre em Luanda, o INLS apresentou as estimativas do quadro do VIH/Sida em Angola, dando a conhecer a realidade de que 320.000 pessoas vivem com o VIH em Angola, destas 36.000 são crianças dos zero aos 14 anos, 190.000 mulheres, 25.000 gestantes seropositivas, 17.000 novas infecções e registaram-se 15.000 mortes relacionadas à Sida.
Uma organização não-governamental angolana denunciou, em Outubro passado, que pessoas com estabilidade financeira no país, entre membros do governo, deputados, empresários, polícias e militares, estão a “contaminar dolosamente muitas jovens” com o VIH/Sida, um fenómeno que “renasce” no país. Segundo o presidente da Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida e Grandes Endemias (Anaso), organização não-governamental, António Coelho, “As pessoas com alguma saúde financeira de todos os estratos da sociedade, entre membros do governo, deputados, empresários, polícias e militares, neste momento estão com esse comportamento que é a questão da contaminação dolosa”.
“De forma consciente, essas pessoas têm estado a utilizar as nossas jovens para passarem e disseminarem a epidemia; temos que realizar um estudo para perceber que fatores têm estado a contribuir para termos este fenómeno de volta”, apontou António Coelho.