EXCLUSIVO | 3.º ESTADO MAIS PEQUENO DA AMÉRICA TEM 5 JUÍZES DE ORIGEM PORTUGUESA

Por HENRIQUE MANO | News Editor

Contribui para este artigo: FERNANDO G. ROSA

O 3.º estado norte-americano mais pequeno da América – Connecticut, conta agora com pelo menos cinco juízes de origem portuguesa. A proporção de número de juízes luso-descendentes em relação à presença lusa no chamado “Estado Constituição”, é notável; para termos de comparação, New Jersey, com uma das maiores comunidades portuguesas no país, tem actualmente apenas dois juízes em funções.

Maria Araujo Kahn é juíza na mais alta instância judicial em Connecticut – o Supremo Tribunal – e está nomeada para um tribunal federal pelo Presidente Joe Bidern, aguardando aprovação no Senado

A subida de número de figuras no universo judicial em Connecticut deu-se com a eleição, em Novembro passado, dos juízes “probate” Rosa Rebimbas (Waterbury), Steven Boa de Moura (Bethel) e Joseph da Silva Jr. (Danbury). A quem se juntam duas juízes nomeadas na área de Hartford, a capital: Maria Araujo Kahn e Carla Nascimento.

É Araújo Khan a luso-descendente que ocupa, actualmente, a posição judicial mais elevada: presentemente juíza na mais alta instância judicial no estado de Connecticut – o Tribunal Supremo, a jurista foi nomeada em 2022 pelo Presidente Joe Biden para um cobiçado assento no 2.º Tribunal de Apelos dos Estados Unidos (a última instância antes do Supremo Tribunal).

O denominado em inglês “Second Circuit Court of Appeals”, funciona na baixa de Manhattan no “Thurgood Marshall U.S. Courthouse” e tem jurisdição sobre seis distritos nos estados de Connecticut, Nova Iorque e Vermont.

O 2.º Tribunal de Apelos foi criado pela Câmara dos Representantes em 1891 e inclui actualmente 13 juízes.

A juíza Maria Araújo Kahn nasceu há 57 anos na cidade de Benguela, em Angola, filha de pais portugueses: a mãe, Teresa Araújo, é natural do Porto, no norte do país, e o pai, Manuel Araújo, é de Vil de Souto, uma freguesia portuguesa do concelho de Viseu. Tinha dez anos de idade quando a família emigrou para os Estados Unidos da América, numa primeira fase para Waterbury, no estado de Connecticut. Mais tarde, os Araújo mudar-se-iam para a cidade de Filadélfia, na Pensilvânia, onde a hoje juíza faria a escola secundária.

A sua formação académica superior inclui um bacharelado em Ciências Políticas pela New York University, em 1986, e o doutoramento em Direito pela Fordham University, três anos depois.

Ex-procuradora federal e defensora pública, a carreira de juíza de Maria Araujo Kahn inicia em 2006 com uma nomeação para o Tribunal Superior de Connecticut pela então governadora republicana M. Jodi Rell; seria duas vezes promovida, no ano seguinte, por outro governador entretanto eleito, Dannel P. Malloy – para o Tribunal de Apelos e depois para o Supremo Tribunal, e sempre confirmada pela Assembleia Legislativa de Connecticut.

A nomeação de Araújo Kahn avançou para o Comité Judicial do Senado federal, onde espera aprovação; nessa altura, passará pela primeira vez para a jurisdição federal.

A juíza é casada com o médico Benjamin Kahn e tem ainda um irmão, Rui Araújo, cuja carreira está ligada ao ensino.

A juíza Carla Nascimento, do Tribunal Superior

Já Carla Nascimento, 43, foi nomeada pelo governador Ned Lamont para o cargo de juíza no Tribunal Superior há cerca de 2 anos. Acima do Tribunal Superior de Connecticut, estão apenas o Tribunal de Apelos e o Supremo Tribunal.

Carla Isabel Nascimento nasceu em Hartford; o pai, Carlos Nascimento, é natural de Reguengo da Parada, concelho de Caldas da Rainha, tendo emigrado em 1969 para a cidade-capital de Connecticut. A mãe, Maria Isabel, é emigrante cubana natural de Havana.

Nascimento está há mais de uma década como advogada, exercendo estritamente na área do matrimónio. Formou-se pelo Trinity College em 2001, em Ciências Políticas e Espanhol, e tirou Direito pela Faculdade de Direito da University of Connecticut, em 2004 – sempre como aluna de quadro de honra. Entra em 2004 para a Ordem de Advogados do estado de Connecticut.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Rosa Rebimbas trocou o cargo de deputado estatal pelo de juíza “probate”

A ex-deputada estadual Rosa Rebimbas tomou posse no final de 2022 do cargo de ‘Judge of Probate’ no Distrito Eleitoral 21, a englobar os municípios de Beacon Falls, Prospect, Middlebury e Naugatuck.

Como deputada estadual, a republicana  representou em Hartford o Distrito Eleitoral 70 na câmara baixa da Assembleia Legislativa; advogada de profissão com escritórios em Naugatuck, começou carreira política ao ser eleita em 2009 para o referido cargo, de que desiste para concorrer a juíza.

Possui uma licenciatura em Ciências Políticas pela Fairfield University e um doutoramento em Direito pela S.J. Quinney College of Law da University of Utah.

É filha dos emigrantes Francisco e Maria Rosa Rebimbas, naturais respectivamente de Pardelhas (Murtosa) e Salreu (Estarreja), no distrito de Aveiro.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O juiz “probate” Joseph da Silva, Jr. em frente ao edifício da Câmara de Danbury, onde funcionam serviços “probate”

Na cidade de Danbury, condado de Fairfield, o luso-descendente Joseph da Silva Jr., 52, subiu a juiz “probate” nas eleições de Novembro passado. Tomou posse dia 21 de Dezembro e assumiu o cargo a 4 de Janeiro, estando instalado na Câmara Municipal a servir os 80 mil moradores da urbe.

Natural de Danbury, é neto do emigrante Benjamim da Silva, que em 1921 deixou Múceres-Tondela, no distrito de Viseu, ficando-se na “Cidade dos Chapéus” – onde iria nascer o pai do agora juiz, Joseph da Silva.

“Fiz o liceu em Danbury e ainda passei pela Western CT State University, onde tirei História, antes de, depois, decidir formar-se em Direito pela Quinnipiac University”, conta, falando em exclusivo ao jornal LUSO-AMERICANO.

A cerimónia de tomada de posse de Joseph da Silva, Jr.

Tinha 29 anos quando se tornou advogado, em 1999, juntando-se primeiro a uma firma em Danbury e, mais tarde, a outra em Norwalk, onde já está há 19 anos.

Silva Jr. concorreu como democrata ao cargo de juiz, que vagou depois de o seu anterior ocupante se ter reformado.

“Se o meu avô estivesse vivo para me ver chegar a juiz, diria que é a concretização do sonho americano”, afirma o juiz. “Ele trabalhou arduamente todos os dias numa fábrica e nunca teve carro.”

O pai do juiz é uma figura conhecida dos meios políticos locais, tendo sido professor, vereador e chefe de gabinete do “mayor”.