EMIGRANTE CENTENÁRIA RENOVA PASSAPORTE EM NOVA IORQUE PARA PODER CONTINUAR A IR DE FÉRIAS À TERRA NATAL

Por HENRIQUE MANO | Yonkers, NY

Maria Rosa Dias fez 100 anos no passado dia 28 de Março. No entanto, para a emigrante transmontana de Montalegre, distrito de Vila Real, deixar de ir de férias à terra que a viu nascer não está nos seus planos…

Vai daí, quando a emigrante centenária soube da visita consular que o Consulado-Geral de Portugal em Nova Iorque levaria a cabo no Portuguese-American Community Center de Yonkers, fez questão de pedir ao filho que marcasse vez.

“A minha mãe quer ir de férias a Portugal em Agosto do próximo ano e precisava de renovar o passaporte português”, conta o filho de Maria Rosa Dias, Benjamim Carneiro, em entrevista ao jornal LUSIO-AMERICANO.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Maria Rosa Dias mostra o passaporte português caducado que hoje renovou durante a visita consular dos Consulado-Geral de Portugal em Nova Iorque que decorreu no PACC de Yonkers

Um direito de cidadania que não se nega a ninguém. Muito menos a esta senhora aversa à vida sedentária…

No dia da visita consular, a emigrante acordou a tempo e horas na sua casa de Mount Vernon e estava no local combinado para se sentar em frente ao quiosque móvel da equipa do consulado, tirar a sua fotografia e dar as impressões digitais. Teve até direito a um ramo de flores, entregue pela (visivelmente emocionada) cônsul-geral de Portugal Luísa Pais Lowe, ali presente.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | A centenária recebeu um ramo de flores das mãos da cônsul-geral Luísa Pais Lowe depois de ter sido atendida na visita consular; na imagem estão ainda Aurora Pereira (do PACC), o filho, Benjamim Carneiro, Ana Franco e a sogra Maria Ramos Carneiro

“Proporcionou-me uma alegria enorme e confirmou-me a certeza de que estamos a fazer o trabalho certo e de que gostamos”, comenta a diplomata portuguesa, falando ao jornal LUSO-AMERICANO. “É para isso que nós estamos a ir aos clubes e a ajudar os nossos concidadãos e sobretudo a faixa etária mais idosa, que tem sempre prioridade nos nossos serviços. Hoje foi uma grande alegria!”

Diz ainda Luísa Pais Lowe, sobre a emigrante centenária: “É uma senhora que tem 100 anos, que tem o cartão de cidadão válido e que veio requerer o seu passaporte para ir a Portugal, para viajar. É fantástico! Ela tem uma vitalidade magnífica, uma grande cabeça, tem sentido de humor e pudemos conversar um bocadinho. São estes utentes que dão alegria e sentido ao nosso trabalho”.

Maria Rosa Dias veio ao mundo ao virar da década de 20 do século XX. Não eram tempos fáceis para uma mulher do campo em Portugal nem mesmo no resto do mundo (afinal, na América, o movimento sufragista acabara de conquistar o direito ao voto para o sexo feminino). Por terras de Tio Sam, Warren Harding ocupava a Casa Branca e o 1.º jogo de beisebol acontecia no mítico Yankee Stadium, em Nova Iorque – não longe de onde a emigrante portuguesa hoje passa os seus dias.

SEM SABER LER NEM ESCREVER, ATIROU-SE À EMIGRAÇÃO AOS 60 ANOS DE VIDA

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | A centenária transmontana contou com a ajuda da sogra, Maria Ramos Carneiro, e do filho Benjamim Carneiro, para ter ido de sua casa em Mount Vernon ao clube português de Yonkers para renovar o seu passaporte

De regresso a Portugal, onde Rosa Maria Dias fazia vida em Montalegre, casada e mãe de três filhos menores.

“A vida da minha mãe foi uma sucessão de obstáculos”, conta Benjamim Carneiro. E explica: “quando tinha 7 meses, o meu pai morreu num acidente de mota. A minha mãe ficou com três filhos de colo para criar. Como se isso não bastasse, a situação em que se encontrava levou ao colapso do meu avô, que esteve 7 anos de cama e igualmente sob a alçada da minha mãe. Ou seja, eram precisos pelo menos dois homens (e dos fortes) para fazer o trabalho que lhe coube”.

Aos 60 anos, sem saber ler nem escrever, sai finalmente de Portugal. A América abre-lhe os braços, corria o ano de 1980, como o tem feito a tantos outros emigrantes. Rosa Maria Dias estabelece-se em Mount Vernon, no condado de Westchester, onde ainda mantém residência.

“Ela foi sempre de férias a Portugal sozinha até aos 95 anos”, nota o filho, Benjamim Carneiro. “Como entretanto me reformei, desde 2019 que vou com ela – já tenho mais tempo. Estivemos lá em 2022 e agora vamos em 2024”.

As férias em Portugal são, regra geral, passadas em Montalegre, com idas esporádicas a Fátima – “que a minha mãe gosta muito”.

Com a morte da única irmã, a família, agora, está toda na América – e inclui 5 netos e 8 bisnetos.

Maria Rosa Dias, garante o filho, que foi carpinteiro de profissão em Nova Iorque, “não tem mazelas de que se queixe nem toma medicamentos. É dura como o ferro!”

O segredo para a longevidade desta emigrante? “Para mim, foi ter trabalhado arduamente toda a vida. É por isso que ainda está viva”, palpita Benjamim Carneiro.