NOVA IORQUE. Cozinha de autor dominou em jantar com chefes lusos

O restaurante Kanopi, no 42. º andar do Hotel Opus, na cidade nova-iorquina de White Plains, voltou a ser palco de uma experiência gastronómica com chefes vindos de Portugal. O jantar especial decorreu sexta-feira e sábado da semana passada, tendo como anfitrião o luso-americano Anthony Gonçalves e convidados os chefes Leandro Carreira e Márcio Baltazar.

A refeição contou com uma dezena de pratos de carne e peixe, incluindo um ravioli de bacalhau à Brás e secretos de porco com favas – confeccionado a quatro mãos por Gonçalves e Carreira, finalizando em apoteose com três sobremesas feitas por Baltazar (trigo doce, filhós de joelho e bolo açoriano).

Uma das prioridades do chefe Anthony Gonçalves, que começou carreira no ‘Trotter’s’, é elevar a gastronomia portuguesa a um novo patamar e fazer a América acreditar no seu potencial. A juntar à fórmula, a sempre latente vontade de criar uma ponte entre Nova Iorque e Portugal com chefes conceituados e novos talentos.

“Tem sido uma experiência incrível!”, revela o chefe de origem portuguesa, falando ao jornal LUSO-AMERICANO. “Ter trazido cá o Leandro [Carreira] foi uma boa oportunidade para celebrar o sucesso do seu livro, que tem ajudado bastante muitas pessoas que se querem emergir na gastronomia portuguesa”.

Gonçalves referia-se a ‘Portugal – The Cookbook’, que Carreira lançou há cerca de dois anos em inglês, onde “descreve a essência da nossa cozinha, sob uma óptica muito sua”.

O chefe do Kanopi considera o espaço “um restaurante português”, uma espécie de laboratório de ideias onde “trabalhamos todos os dias nesta missão de promoção à nossa cultura. Queremos que os nossos clientes americanos, depois de comerem aqui, vão a Portugal e conheçam o país e o que de melhor ele tem para oferecer”.

Gonçalves revela que, em Novembro, fará um jantar degustativo em parceria com uma marca vinícola interessada em penetrar no mercado norte-americano e, lá para Janeiro de 2025, espera trazer mais chefes portugueses a White Plains.

Há duas décadas fora de Portugal, o chefe Leandro Carreira, que se formou pela Escola Profissional de Leiria (cidade de que é natural), passou por várias cozinhas lisboetas antes de optar por fazer caminho no estrangeiro. Em Espanha brilhou no aclamado Mugaritz e em Londres no The Sea, onde esteve até há meses.

O chefe, que agora põe o avental para fazer jantares pelo globo e dedicar-se a consultoria na área de restauração, considera que “Portugal tem produtos absolutamente incríveis, ao nível de Espanha, Itália e de outros países”, pecando, contudo, por alimentar “um bocado a mentalidade do empreendedor nacional, a quem falta ousadia para arriscar. O consumidor evoluiu, e nós ficámos para trás”.

Daí dizer ser “de louvar o que o Anthony [Gonçalves] está a fazer, as pessoas normalmente não arriscam assim”.

Márcio Baltazar também subiu ao 42.º andar do Kanopi com ‘bagagem’ profissional. Apesar de estar num período “sabático”, a fazer colaborações esporádicas com o chefe Anthony Gonçalves, ganhou experiência no Ocean, do Vila Vita Park, em Porches (Algarve), esteve vários anos em Espanha e acredita estar em transição da pastelaria para a cozinha no sentido mais lato da profissão.

“Este é o meu primeiro jantar no Kanopi e que venham mais chefes de Portugal”, afirma. “Acho que é importante haver este intercâmbio entre Portugal e Nova Iorque em que o Anthony tem estado tão empenhado”.

Com duas décadas de carreira e formação numa escola profissional, o chefe de pastelaria Márcio Baltazar defende que, “na cozinha, quando criamos algo, temos que tocar sempre nas memórias, em algo que esteja ligado à nossa infância”.

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