A palavra ao leitor

O Nobel da Paz e lições de Hiroshima

João Crisóstom Activista | Queens, NY

A Real Academia Sueca acaba de anunciar que o Prémio Nobel da Paz de 2024 foi atribuído a Hihon Hidankyo, fundador duma organização japonesa que tem lutado pela eliminação das armas nucleares.

Este prémio veio mesmo no momento certo, como sucedeu em 1996, quando a luta pela independência de Timor-Leste recebeu renovada energia pela atribuição deste prémio.

Há muito que este problema me preocupa: é me difícil compreender a indiferença e apatia quase geral com que o problema das armas nucleares é tratado, quando da solução deste problema depende a nossa própria existência e a do nosso planeta.

A proliferação de armas nucleares, em vez de ser objecto de diálogo e conversações visando uma redução agora e, futuramente, a sua eliminação, tem aumentado em número de armas nucleares e de países que as possuem.

Situações como as no Médio Oriente, Ucrânia, Rússia e Coreia do Norte, em que os governantes fizeram e continuam fazendo ameaças, falando sobre um eventual uso de armas nucleares, exigem um despertar de consciências e esforços visando a sua eliminação progressiva e até completa.

Antes que surja uma situação sem controlo; antes que um lunático, seja ele político, militar ou mesmo religioso, com acesso ao botão vermelho resolva pressioná-lo.

Se o que temos presenciado é já horrível, imaginemos uma situação, seja no Médio ou Extremo Oriente ou qualquer parte do mundo, em que armas nucleares fossem usadas. Muito provavelmente o mundo inteiro, no espaço de algumas horas, seria transformado num inferno a nível global.

Nada mais horrível do que o desespero de uma morte pelo fogo; mas se nada se fizer para que isso nunca suceda, é muito provável que, mais cedo ou mais tarde, seja mesmo esse o destino de todos nós, o destino da humanidade.

Nessa altura, tudo será tarde demais.

No ano passado, ao ouvir palavras ameaçadoras em várias regiões de conflito, resolvi juntar a minha inquieta voz às daqueles que têm lutado por uma solução. Uma inesperada situação de saúde não me permitiu fazer muito. Mas o que fiz foi o suficiente para me aperceber de que existe muita gente preocupada e ansiosa pela falta de iniciativas e esforços direccionados na solução desta grande ameaça que paira sobre todos nós.

A rapidez com que recebi uma resposta do Papa Francisco, a quem me dirigi também, mostra o seu grau de preocupação. “Estamos preocupados com as catastróficas consequências (…) que poderiam resultar de qualquer tipo de uso de armas nucleares”, diz o sumo pontífice na sua carta de 5 de Fevereiro deste ano, para logo a seguir acrescentar: “O destino da humanidade e do nosso planeta está nas nossas mãos e nas das novas gerações”.

A quem me ouvir, peço que não ignorem este apelo do Papa e de muitos outros indivíduos responsáveis, e os oiçam com atenção e não com indiferença. Embora eu não saiba a melhor maneira de acção, permitam-me sugerir que uma das maneiras de fazer ouvir a nossa voz – e fazendo-o, sermos influentes no nosso destino -, é a de contactarmos, se possível por escrito, os nossos dirigentes, a nível local, nacional ou mesmo mundial. Dirijo-me especialmente à gente nova a quem desafio a serem os nossos líderes neste movimento.

Não receiem fazê-lo, porque, na maioria dos casos, eles ouvem quem os procura e por vezes até esperam estes contactos que lhes permitam agir.

Este Prémio Nobel da Paz pode ajudar a que as vozes de senso comum sejam ouvidas e prevaleçam.

E não esqueçamos nunca que “o destino da humanidade (…) está nas nossas mãos e nas das novas gerações”.