ESTADOS UNIDOS | Empresa luso-americana no ramo do mobiliário aposta na tecnologia e inovação
Em 1989, dois emigrantes portugueses de Alheira, Barcelos, que o destino fizera primos e as circunstâncias da vida juntara na América, criaram a ‘Cousins Furniture and Home Improvements Corp.’. Trabalhar por conta própria era a rampa de lançamento para a nova vida nos Estados Unidos de Ilídio e Joaquim Rodrigues, onde havia uma língua nova por aprender e um vasto mercado por conquistar.
Um quarto de século depois (a firma completa este ano o seu 25.º aniversário de actividade), a aposta agora é na inovação, no crescimento e na integração da nova geração de Rodrigues – já nascida em terras de Tio Sam.
“Desde pequeno que gostava do ofício da marcenaria”, conta Ilídio Rodrigues ao jornal LUSO-AMERICANO. “O meu pai era carpinteiro e os meus brinquedos, em criança, eram as suas ferramentas.”
A emigração leva-o primeiro à Venezuela e quatro anos depois, em Dezembro de 1984, aos EUA. “Foi aqui que tirei o ‘curso superior’ e realmente me tornei carpinteiro profissional”, reconhece o emigrante minhoto, referindo-se às raízes criadas na zona nova-iorquina de Long Island.
Antes de ter, em sociedade com o primo Joaquim (Jack), criado a ‘Cousins Furniture’, Ilídio Rodrigues esteve quatro anos na firma D. Reis Contracting, em Mineola; Jack Rodrigues, por seu lado, emigrara em 1980 para a América, estabelecendo-se em Mineola, onde ainda vive. “Trabalhei alguns anos num restaurante mas não me adaptei àquele estilo de vida”, conta. “Mudei-me depois para a construção civil onde estive até montar negócio com o meu primo Ilídio.”
A firma de mobiliário, que hoje emprega meia centena de empregados, começou com mão-der-obra reduzida: os dois sócios iniciais. “O nosso primeiro cliente foi um português”, recorda Ilídio Rodrigues. “Encomendou-nos uma cozinha. Um cliente trouxe outro e nós fomos mostrando do que éramos capazes.”
Cinco anos depois, ultrapassados altos e baixos (“foi uma época difícil” – reconhece Ilídio Rodrigues), chegava a vez do mercado não-étnico. “Era importante mostrar o nosso potencial e conquistar outra fasquia de clientela”, explica o empresário de Long Island.
Os portugueses hoje continuam a representar 5% do trabalho ali efectuado, mas o grosso da carteira de clientes está no competitivo eixo Manhattan-Hamptons (passando pela zona de North Shore) e inclui desde personalidades do mundo do entretenimento ao universo das finanças.
“A primeira cozinha que fabricámos para um cliente de peso [o investidor e multimilionário Carl Icahn], em East Hampton, envolvia um orçamento com o qual se podia comprar uma casa modesta”, relembra Ilídio Rodrigues.
A aposta da ‘Cousins Furniture’ é nas encomendas ao gosto e medida do cliente. “Criámos uma equipa sólida e treinada para isso”, acrescenta Jack Rodrigues, sublinhando o facto de operarem muitas vezes em espaços residenciais com 30 mil pés quadrados de área.
Na fábrica na cintura industrial de Deer Park, e a movimentar agora cerca de 5 milhões de dólares anuais, a empresa mantém uma equipa de jovens profissionais (na sua maioria luso-americanos); são arquitectos e programadores de informática e representam a ligação entre o velho ofício da carpintaria e as novas tecnologias.
“São eles que melhor se adaptam a essas tendências”, refere Ilídio Rodrigues, dizendo que a ‘Cousins Furniture’ investe ainda na formação dos seus funcionários. “A introdução de tecnologias onde o fabrico de mobiliário foi dependendo da informática, assim o exigiu.”
O grupo de topo da empresa, onde se tomam as grandes decisões, continua a ser português. E inclui agora três filhos dos Rodrigues fundadores – Elizabeth, na área administrativa, e Ricardo e Filipe, na criativa.
“Contamos com o seu entusiasmo para um dia nos podernos reformar e passar-lhes os destinos da Cousins Furniture”, diz Jack Rodrigues.
Filipe Rodrigues, 25, nasceu em Mineola e tirou arquitectura no New York Institute of Technology; está a tempo inteiro na empresa, onde diz ter aprendido na prática tudo o que sabe, tendo já investido, entretanto, num curso de programação de informática ligado ao sector.
Já Ricardo Rodrigues, 23, formou-se em gestão de empresas no St. Joseph’s College e desde os 18 anos que trabalha na firma do pai. “Sou responsável pela nossa presença nas redes sociais e estou ainda ligado a várias outras tarefas dentro do mecanismo da empresa”, conta.
O futuro das nova geração de Rodrigues está vinculado a uma parceria que envolve desenhadores no Porto e a marca Lacrau, com a qual pretendem muito em breve lançar uma linha de móveis e objectos de decoração. “Temos ideias nossas e já criámos as peças protótipo que vão servir de base para a colecção”, avança Ricardo. “Para competir, teremos que ter originalidade e qualidade.”
Tanto Ricardo como Filipe dizem ter aprendido o português antes mesmo de se expressarem no idioma do país onde nasceram (Filipe passou pela Escola Júlio Dinis de Mineola, onde fez os 6 anos de escolaridade). Uma ferramenta que esperam poder utilizar ao apostarem agora na parceria com Portugal – num regresso às origens que tem início na pequena localidade de Alheira, no Minho, onde, afinal, a história dos Rodrigues começa.