MÃE DA POLÍCIA FELÍCIA SALGADO NÃO RECEBE HOJE UM ABRAÇO DA FILHA: “É UM SACRIFÍCIO PESSOAL IMPOSTO PELA FARDA”

Por HENRIQUE MANOJornal | LUSO-AMERICANO

Quando grande parte dos 62 mil moradores da cidade de Fairfield, no estado norte-americano de Connecticut, se deita à noite, Felícia Salgado põe a farda de polícia e dá início a mais um turno de trabalho.

A luso-descendente começou a patrulhar as ruas desta municipalidade banhada pela Island Island Sound em Julho de 2018. “A minha responsabilidade maior, como agente, é manter segura e em paz a cidade de Fairfield”, afirma Felícia Salgado, na entrevista que concedeu ao jornal LUSO-AMERICANO.

A pandemia da COVID-19 veio agregar à carreira da lei e da ordem “mais uma componente de risco inesperado”, afirma Salgado. “No fundo, não deixámos de cumprir com as nossas tarefas. Temos é cuidados acrescidos.”

❝PARA EVITAR RISCOS DE SAÚDE, TENHO DE FAZER O SACRIFÍCIO PESSOAL DE NÃO VER OS MEUS PAIS, O MEU IRMÃO E OUTROS FAMILIARES E MIGOS❞

➔Felícia Salgado, agente da polícia em Fairfield, Connecticut

Felícia Salgado com os pais

Por estar constantemente exposta ao público, “para evitar riscos de saúde, tenho de fazer o sacrifício pessoal de não ver os meus pais, o meu irmão e outros familiares e amigos. Quando prestei juramento como polícia, fi-lo com a perfeita noção de que iria ter de fazer sacrifícios e enfrentar os obstáculos com que se me deparasse.”

Quando desempenha as suas funções, resguarda-se a si, aos colegas e àqueles com quem possa ter contacto com o equipamento de protecção pessoal devido.

O pai de Felícia é de Sapiãos, Chaves, e emigrou para os EUA com vinte e poucos ano. A mãe já cá nasceu, com origens na Guarda (Trinta) e Madeira. A agente cresceu em Bridgeport, CT, e formou-se em criminologia pela University of New Haven, em 2017. Foi uma tragédia familiar que a levou a seguir carreira na polícia.

“Já há muito tempo que esta actividade despertava interesse em mim”, conta Felícia Salgado, que recebeu treino na Meriden Police Academy. “Depois, em 2015, um tio meu paterno foi morto num assalto à mercearia que tinha em Bridgeport, a ‘Sapiãos Grocery’. Muito embora nada lhe devolverá a vida, fiquei impressionada com a forma como a polícia tratou o caso. Estava mais que decidido que iria seguir este caminho; um estágio no verão de 2016 na Polícia de Fairfield foi a confirmação final: não restavam dúvidas que era mesmo o que queria fazer.”

❝APESAR DE NÃO SER UMA JORNADA DE VIDA FÁCIL, A EXIGIR PAIXÃO, INTEGRIDADE E RESILIÊNCIA, É CERTAMENTE UMA DAS PROFISSÕES MAIS GRATIFICANTES❞

➔Felícia Salgado, agente da polícia em Fairfield, Connecticut

A outras luso-americanas a pensar em seguir carreira semelhante, ensina Felícia Salgado: “Apesar de não ser uma jornada de vida fácil, a exigir paixão, integridade e resiliência, é certamente uma das profissões mais gratificantes. Nós, as mulheres, temos infindáveis capacidades; quantas vezes não me disseram que não era ‘suficientemente forte’ ou ‘grande’ para ser polícia. No entanto, sempre que visto a farda e anuncio no rádio transmissor que estou pronta para o trabalho, dou provas precisamente do contrário.”