Debate civilizado entre Kamala Harris e Mike Pence

Democrata, que é mulher e é negra, está à altura do momento e critica: “É o maior falhanço na história da América!”. Republicano faz passar a mensagem melhor que Trump, mas atropela os factos também.

Pandemia, justiça e saúde dominam discussão de candidatos a vice-presidente. Mas depois uma mosca pousou no cabelo de Pence… Faltam 25 dias para as eleições.

Depois da cacofonia gritada e do caos corrido de insultos do 1.º debate há uma semana, principalmente da parte de Donald Trump, presidente dos EUA e candidato republicano à reeleição, que pareceu sempre um macho febril a interromper 71 vezes o pretendente democrata Joe Biden, que lhe chamou palhaço e o mandou calar, a expectativa do debate dos vice-presidentes era pelo nível da simples civilidade.

Kamala Harris, 55 anos, democrata, mulher e negra, e Mike Pence, 61, republicano, evangélico e branco, cumpriram a cortesia pelos espectadores: o debate foi civilizado. Não foi exactamente cortês, mas foi brando, quase adestrado e meio manso – pelo menos pela bitola do circo político americano. Pence nunca conseguiu encaixar respostas concluídas no tempo que tinha à disposição, insistindo na ultrapassagem e na infracção. Não por acaso: a frase que a moderadora Susan Page, jornalista veterana do diário “USA Today”, mais vezes usou foi “senhor vice-presidente o seu tempo acabou”, que repetiu em ocasiões duas, três, quatro vezes, enquanto Pence continuava a papear.

Três temas foram fulcrais: a pandemia do coronavírus que na América matou mais de 216 mil pessoas e infectou já 7,7 milhões; a situação da Justiça com a nomeação iminente, apressada pelo partido republicano, de Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal, que inclinará a instituição para a Direita; e o acesso dos americanos às condições de saúde em segurança social e financeira, com a ameaça de Trump, planante, em aniquilar o Obamacare, que deu seguro a milhões de americanos pobres e com pré-condições de debilitação.

Sabendo-se que a candidatura republicana está mais de 10% atrás da democrata, e, a menos de um mês da eleição (3 de Novembro) é preciso estancar a sangria e o desnorte presidencial, então a vitória da senadora Kamala é ressonante – e não só porque se aguentou, mas também porque é uma mulher e também porque é negra e porque se for eleita será a primeira nessa histórica condição.

O debate decorreu na universidade de Utah, em Salt Lake City, com os debatentes sentados, distanciados a 12 pés e com duas grandes barreiras de acrílico erguidas entre eles. A moderadora esteve bem – os candidatos permitiram-no.