TONY DA SILVA: 35 ANOS DE DEDICAÇÃO AO FOLCLORE PORTUGUÊS NO ESTADO DE NOVA IORQUE

🖋Por HENRIQUE MANO

Quando, aos 14 anos, o então jovem luso-americano Tony da Silva se juntou ao Rancho Folclórico ‘Sonhos e Juventude de Portugal’, o grupo do Mineola Portuguese Center tinha acabado de se formar. Estava longe, em 1986, a fazer o 9.º ano do liceu, de pensar que, um dia, iria ser o pilar da formação folclórica – sucedendo ao histórico Manuel Carlos, o seu primeiro ensaiador.

Hoje, Tony da Silva está à frente de um dos mais sólidos grupos do género na Costa Leste; o ‘Sonhos e Juventude Portugal’ anda mesmo em contraciclo – enquanto outros ranchos se vai dissipando, este mantém os elementos que lhe estão agregados e vai abraçando outros.

A isto se chama liderança.

“O Tony, que já conheço há 43 anos – somos da mesma terra em Portugal, é das pessoas mais dedicadas à nossa comunidade”, afirma Paul Pereira, vice-‘mayor’ de Mineola, em declarações prestadas ao jornal LUSO-AMERICANO. “Não apenas passa horas e horas nos ensaios, como se mostra sempre disponível para ajudar e participar em qualquer iniciativa em Mineola – seja nos festejos do Dia de Portugal ou mesmo na Noite Multicultural no nosso liceu. Está sempre pronto a elevar a cultura portuguesa”.

Acrescenta Pereira: “Precisamos de mais pessoas como o Tony nas nossas comunidades. Um indivíduo que realmente dá muito de si sem esperar nada em troca”.

❝PRECISAMOS DE MAIS PESSOAS COMO O TONY NAS NOSSAS COMUNIDADES. UM INDIVÍDUO QUE REALMENTE DÁ MUITO DE SI SEM ESPERAR NADA EM TROCA❞

➔Paul Pereira, vice-‘mayor’ de Mineola

e amigo de infância

Nasceu há 48 anos em Mineola, região nova-iorquina de Long Island. Os pais emigraram em 1967 para a América, deixando para trás Veiros, a terra natal, no distrito de Aveiro. “Em minha casa falava-se português”, conta Tony da Silva, em entrevista ao jornal LUO-AMERICANO. “Hoje agradeço aos meus pais por me terem dado essa oportunidade, de aprender a língua das minhas origens. Nós íamos de férias a Portugal no inverno, porque o meu pai trabalhava na construção; quando chegava à nossa aldeia, os miúdos da minha idade estavam na escola e eu não não tinha nada para fazer… Até que me matricularam na escola local durante 6 semanas. Comprámos os livros escolares e tudo. Para mim foi uma grande ajuda para cimentar o meu português”.

O inglês, acrescenta, “aprende-se rapidamente naquelas idades. Quando fui para a escola americana já me safava com o que tinha aprendido a brincar com os meus amigos na América”.

O empenho de Silva na dinâmica do rancho deu frutos. Depressa passava a segundo ensaiador, como braço direito do seu fundador, o pioneiro Manuel Carlos. Há cerca de uma década, passou a ensaiador principal e presidente.

“Quando o rancho surgiu, só existia a componente infantil”, nota. “No ano seguinte resolvemos acrescentar elementos juvenis e adultos, numa fórmula que ainda hoje se mantém”.

❝O QUE ME INCENTIVA A FAZER PATTE DESTE MOVIMENTO FOLCLÓRICO É GARANTIR A CONTINUIDADE DA NOSSA CULTURA E TRADIÇÕES❞

➔Tony da Silva, ensaiador e presidente

Rancho Folclórico ‘Sonhos e Juventude de Portugal’

Diz que o êxito do ‘Sonhos e Juventude de Portugal’ está no trabalho de toda uma equipa. Joe Pontes é vice-presidente, Cristina Pontes secretária e tesoureira e Patrícia Murç segunda ensaiadora. “O que me incentiva a fazer parte deste movimento folclórico é garantir a continuidade da nossa cultura e tradições”, afirma. “Desde cedo que fui exposto ao sentir português e gostava de transmitir esse legado não apenas aos meus filhos, mas a todos os que se juntarem a nós”.

Para Tony da Silva, o elo de ligação a Portugal “é muito importante. É o que nos distingue, o que faz de nós autênticos. É bom para a nossa identidade e auto-estima. Não gostaria de ver tudo isto desaparecer, diluir-se na sociedade americana, como sucedeu com muitas outras etnias”.

Com reportório centrado no Minho e a poder chegar aos 30 números, o ‘Sonhos e Juventude de Portugal’ tem levado o seu trabalho a estados como New Jersey, Connecticut, Pensilvânia, Rhode Island, Massachusetts, Virgínia e Flórida e até já atravessou a fronteira a norte, para actuar no Canadá. “Antes da COVID, chegávamos a fazer de 10 a 15 saídas por ano”, diz Tony da Silva.

❝NÃO SE ESQUEÇAM QUE A NOSSA CULTURA É UMA RELÍQUIA E CABE A NÓS PRESERVÁ-LA❞

➔Tony da Silva, ensaiador e presidente

Rancho Folclórico ‘Sonhos e Juventude de Portugal’

Como não seria de estranhar, a filha do ensaiador, Kelly Rose, já perfilha no rancho; com 10 anos, e na 5.ª classe do ensino preparatório, nasceu em Mineola. A mãe, Maria do Céu Silva, é natural de Alheira-Barcelos e responsável pelo sangue minhoto que lhe corre nas veias.

“Tragam os vosso filhos e netos para o rancho”, apela Tony da Silva. “Não se esqueçam que a nossa cultura é um relíquia e cabe a nós preservá-la”.

E dá o tom final com um agradecimento à mulher Maria do Céu pelo apoio de todas as horas dado nesta caminhada ao lado do folclore.