MASSACHUSETTS | Apesar da COVID, carteira luso-americana faz chegar correspondência a 500 casas
Faça sol ou faça chuva, de terça-feira a sábado, a rotina de Rosa Venâncio, 50 anos, é a mesma: fazer chegar centenas de cartas a meio milhar de casas em Massachusetts. Considerada pelas autoridades trabalhadora essencial, a carteira nem parou nem abrandou quando a pandemia explodiu na América.
“Temos de fazer o correio chegar a casa das pessoas todos os dias, com ou sem COVID”, afirma Rosa Venâncio, na entrevista que concedeu ao jornal LUSO-AMERICANO. “Foi assim quando o novo coronavírus apareceu e continua a ser assim agora, e nem por isso estamos menos expostos ao perigo. Tocamos nas caixas de correio das pessoas e passamnos milhares de cartas e embalagens pelas mãos. Nunca deixámos de trabalhar”.
Venâncio, que pertence à sucursal 47 do sindicato de carteiros ‘National Association of Letter Carriers AFL-CIO’, lembra que todos os mecanismos de protecção e defesa foram accionados pelos Correios para evitar o pior. “Deram-nos desde gel desinfectante para as mãos como máscaras”, diz. “Também há regras a seguir: quando fazemos a entrega em edifícios, temos sempre de estar de máscara”.
Rosa é o segundo carteiro na família; o irmão mais velho, Madail Venâncio, trabalhou 36 anos para os Correios em Massachusetts e goza já a reforma (o companheiro de vida de Rosa também é funcionário dos Correios).
A luso-americana nasceu em Springfield, MA, filha dos imigrantes Maximino e Marta Venâncio; os pais trocaram em 1966 Sobral da Lagoa, no concelho de Óbidos, pelos Estados Unidos, radicando-se em Indian Orchard. Mais tarde mudam-se para Ludlow, onde Rosa passa toda a infância e adolescência, fazendo também aí o liceu. Seguidamente obtém um ‘associate degree’ na área de gestão e entra no mercado de trabalho.
“Fiz o exame de admissão aos Correios em 1993 e dois anos depois fui contratada”, adianta. “Comecei num centro de distribuição e ordenação em Springfield, onde estive uma década a fazer os turnos da noite. Em 2005 fui colocada aqui em Palmer, afecta à entrega directa de correspondência em casa das pessoas”.
A carteira tem a seu cargo um raio a englobar 500 residências e calcula que percorre a pé 7 milhas por dia. “Passam- me milhares de cartas e embalagens pelas mãos todas as semanas”, diz. O seu dia de trabalho, con- tudo, começa no posto dos correios, onde ordena toda a correspondência antes de se pôr na estrada.
Os carteiros trazem- nos boas (e por vezes menos boas…) notícias a casa. Rosa Venâncio confessa gostar do contacto com o público, “muito embora não possa dis- pensar muito tempo à conversa – estamos, aliás, ligados a um sistema de GPS que determina o tempo em que permanecemos num determinado local. Mas temos autorização para interagir com os nossos clientes”.
Venâncio reconhece que o movimento de cartas baixou em consequência do factor internet. “Por outro lado”, ressalva, “há cada vez mais embalagens e pacotes para entregar, o que acaba por compensar”.
A carteira, que espera reformar-se daqui a 7 anos, também acha piada quando lhe passa pelas mãos correspondência com origem em Portugal para destinatários com apelidos portugueses… “Os meus pais não aprenderam inglês, por isso a primeira língua que falei foi português”, conta Rosa Venâncio. “Também andei na escola portuguesa em Ludlow e fiz os três anos de português no liceu, pelo que falo, escrevo e leio, graças a Deus”.
O que mais lhe apraz na carreira de carteira? “O facto de trabalhar ao ar livre (apesar da adversidade das condições climáticas), de conhecer pessoas e de saber que a grande maioria do tempo são boas notícias as que lhes coloco na caixa do correio”, responde Rosa Venâncio.