Nasceu em Portugal enfermeira em conceituado hospital universitário no estado de Connecticut
Passou pela Universidade Nova de Ciências Médicas de Lisboa e obteve duas licenciaturas na área da saúde nos Estados unidos a ‘advanced registered nurse’ portuguesa Patrícia Lucas Almeida, hoje afecta ao prestigiado UCONN Health; a moderna unidade hospitalar, localizada em Farmington, é um braço da University of Connecticut que inclui um complexo educacional, o UCONN John Dempsey Hospital, a UCONN School of Medicine, a School of Dental Medicine e ainda um avançado centro de investigação e pesquisa bio- médica intitulado ‘Bio- science Connecticut’.
“Adoro o que faço”, reconhece a enfermeira, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Os meus pais emigraram com a 4.ª classe; eu ter completado o ensino superior representa obviamente muito para mim, mas sobretudo para eles”.
A trajectória de vida de Patrícia Lucas Almeida é um vai e vem entre o país que carrega no ADN e aquele que o destino lhe colocou no caminho. Nasceu em Amiais de Baixo, Santarém, há 45 anos, e tinha 23 meses quando em 1977 os pais atravessaram o Atlântico e escolheram Hartford para viver. Aos 8 anos, a família muda-se para West Hartford, onde Patrícia termina o liceu e regressa a Portugal, para frequentar a Universidade Nova de Ciências Médicas de Lisboa; depois do casamento, volta à emigração, em 2000. “Deci- dimos que, em termos de futuro, aqui tínhamos muito mais oportunida- des, tanto para nós, como para a família que planeávamos formar”, explica.
Então com 25 anos, e sem acabar a universidade em Portugal, opta por duas licenciaturas na área da saúde – um bacharelato em Biologia e outro em Enfermagem, ambos arduamente obtidos pela St. Joseph College, em West Hartford.
Começa carreira como técnica no St. Francis Hospital de Hartford, onde iria estar 12 anos, primeiro nos arquivos de Raio-X e mais tarde como técnica laboratorial. Já com o canudo de Enfermagem, que foi obtendo enquanto trabalhava, passa então para esse sector, ainda no St. Francis, ligada a uma unidade cardíaca no bloco pós-operatório. Há 9 anos, mudou-se para o UCOON Health, onde faz os turnos da noite como enfermeira especializada a dar cuidados gerais de saúde, de nível crítico.
A epidemia da COVID faz agora parte da sua experiência como profis- sional. Lucas Almeida revive os horrores do pico do novo coronavírus: três meses entre um hotel e a cave de sua casa para não expor a família, com quem só se comunicava via FaceTime. “Saber que estamos a verificar agora um possível retorno a essa situação, é algo que nos preocupa a todos”, diz.
O combate à COVID foi um processo de aprendizagem longo e difícil para os profissio- nais de saúde. “Tivemos que ir aprendendo como lidar com ele à medida que as coisas iam evoluindo”, conta a enfermeira. “Lembro-me de, no mesmo dia, termos de mudar de protocolos de intervenção mais que uma vez, porque íamos aprendendo com a prática. Era tudo novo e des- conhecido”.
Naquele período, Pa- trícia Lucas Almeida foi transferida para uma enfermaria COVID, onde viveu de perto os efeitos da epidemia. “Lembro-me de ter cuidado de uma senhora que, já entubada e a quem nada mais po- díamos fazer para salvar a vida, escolheu, em pleno gozo das suas capacida- des mentais, não receber mais tratamento; a única coisa que pedia era ver a filha antes de morrer. Peguei no meu telemóvel pessoal e pus as duas em FaceTime durante uns minutos; foi assim que se despediram. A senhora viria a falecer dois dias depois. Como estas há muitas histórias: os doentes morriam sem a família por perto, sem poderem dizer adeus aos seus entes queridos, sem receberem visitas e nós completamente impotentes, sem podermos alterar esse estado de coisas – a não ser dar os cuidados que podíamos e confortálos. Também nós, quando saíamos dos quartos dos doentes e nos recolhíamos às nossas áreas, chorávamos para ganhar forças e continuar o combate, porque a nossa profissão é mesmo assim”.
Quando ouve dizer que a COVID não passa de um embuste, é de sen- timento “de revolta” que se apodera. “Nós vivemos tudo isto na pele e, para mim, trata-se de uma questão de saúde pública que implica todos nós termos responsabilidades. O uso da máscara é mais para protegermos o próximo e, assim, protegermo-nos a todos. Não custa nada, até os meus filhos já se habituaram: pegam na mochila da escola e ao mesmo tempo na máscara”.
A enfermeira diz que o medo não pode vencer nem orientar as nossas vidas, “mas temos de tomar decisões em fun- ção da razão, não da emoção. Decisões que façam sentido: eu, por exemplo, já não vejo os meus pais, que estão em Portugal desde Setembro de 2019, há um ano. Não tem sido fácil, mas acredito que assim nos protegemos todos até isto passar”.
A enfermeira também pede que se reduza “o nosso círculo social a um grupo restrito de amigos e familiares” para contermos o vírus “e estarmos sempre atentos ao que se passa em nosso redor, para além, claro de seguirmos as orientações dos cientistas e dos médicos emanadas do Centro de Controlo de Doenças”.