Chamava-se Joana
Soube há dias que morreu a Joana. Não lhe conheço o sobrenome. Apenas a tratava por Joana nos tempos em que convivíamos alegremente à mesa do café em Campo de Ourique no tempo da nossa juventude. Quando recebi a notícia de um amigo comum, lembrei-me dos momentos descontraidos que passámos juntos. A Joana era uma jovem lindíssima. Os cabelos alourados caiam-lhe do rosto ao ritmo do pescoço e corriam-lhe pelos ombros. Os olhos cor de amêndoa eram o encanto de quem a olhava. Curiosamente não lhe conheci nenhum namorado nos anos que com ela convivi. Dizia que não tinha paciência para aturar homens com mau feitio e que todos eram iguais. Eu ria-me com estas coisas da Joana.
Deixei de a ver quando fui para Moçambique para o serviço militar, mas soube que juntou os trapinhos com o João, filho de gente abastada mas falida. Disseram-me mais tarde que seguiu o namorado pelo caminho da droga. Tornou-se toxicodependente e frequentava a baixa de lisboa à procura de quem lhe desse o que precisava para saciar o vício. O namora- do morreu mais tarde de Sida e a Joana, pelo que me contaram, deixou de ser a Joana que conhecemos, bonita, bem vestida, sempre aprumada e faladora para se transformar numa sombra do que era. Envelheceu mal. Emagreceu e a beleza morreu com o vício.
O cabelo alourado passou a um branco mal cuidado e desmazelado, a roupa sempre escolhida com requinte passou a uma velha bata, meia rota e pouco mais. O salto alto que lhe faziam sobressair a elegância, deram lugar a um par de chinelos usados e comidos pelo tempo. Perdeu dentes, perdeu vida, perdeu futuro, perdeu amigos, perdeu dignidade, perdeu a beleza e perdeu a vida. Adeus Joana. Que pena.