INVESTIGAÇÃO PORTUGUESA: Coletes sem vantagens para tratamento de fracturas
Investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), no Porto, concluem num artigo científico que os coletes ortopédicos “não aparentam ter vantagens” no tratamento de fracturas da coluna, revelou hoje a responsável.
Em declarações à agência Lusa, Daniela Linhares, investigadora do centro do Porto, explicou que o estudo, publicado na revista científica ‘Spine’, visava perceber se “seria ou não necessário” recorrer a coletes ortopédicos para o tratamento de fracturas da coluna torácica ou lombar.
“De facto, descobrimos que os coletes ortopédicos não trazem vantagens. Não há problema em serem usados, até porque não acarretam desvantagens, mas também não trazem vantagens na recuperação do doente”, afirmou Daniela Linhares, primeira autora do artigo.
Com vários estudos científicos e investigadores a indicarem que estes equipamentos poderiam causar “depressão, desconforto e atrofia dos músculos” nos doentes, a equipa do CINTESIS e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) decidiu fazer uma revisão sistemática do tema.
“Este estudo é baseado nos vários artigos científicos que têm sido desenvolvidos sobre o tema”, esclareceu a investigadora, adiantando que a publicação portuguesa foi “muito bem recebida” internacionalmente, tendo neste momento “uma elevada taxa de atenção”.
Além de sugerirem que a utilização dos coletes ortopédicos não é vantajosa para a recuperação de fracturas da coluna, os investigadores consideram que não utilizar este equipamento será uma “mais-valia” para os sistemas de saúde.
“Há várias vantagens, uma delas é a vantagem real da não utilização do colete com a recuperação dos doentes a ser ligeiramente mais rápida e, por outro lado, a vantagem económica”, disse, acrescentando que tal “contribuirá para a sustentabilidade dos sistemas de saúde”.
“A eliminação destas práticas faz sempre diferença. Embora sejam tradicionalmente usadas, temos de ir mais longe e questionar as práticas que estão instituídas e a sua eficácia no tratamento dos doentes”, sublinhou.
Além da revisão sistemática, num outro estudo, os investigadores inquiriram 130 cirurgiões de 33 países sobre a utilização deste equipamento, tendo concluído que “apenas 10% ainda usam coletes ortopédicos nos doentes”.
De acordo com Daniela Linhares, os investigadores pretendem no futuro perceber se, no entanto, o colete ortopédico é vantajoso e benéfico para o tratamento de algum “subtipo de fracturas”, bem como se a realidade em Portugal é semelhante à dos restantes países.