PORTUGUÊS NATURAL DE CANTANHEDE É CHEFE DE GABINETE DO PRESIDENTE DO SENADO DO ESTADO DE NEW JERSEY

Por HENRIQUE MANO | News Editor

A agenda do senador mais poderoso do estado de New Jersey, Nick Scutari, actual presidente da câmara alta da Assembleia Legislativa em Trenton, passa diariamente pelas mãos do português Tony Teixeira, de 43 anos. Emigrante de Cantanhede, distrito de Coimbra, o especialista em campanhas eleitorais tem inclinação nata para a política e já trabalhou para eleger ocupantes da Casa Branca, senadores federais e congressistas.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Tony Teixeira no edifício da Assembleia Legislativa em Trenton, a capital de New Jersey, onde funciona o Senado estadual e onde tem escritório

António José de Jesus Teixeira nasceu em Cantanhede. Tinha 6 meses quando os pais emigraram para Newark, onde viveu até aos 10 anos de idade, mudando-se à altura para Elizabeth, onde se mantém. “Depois de ter feito o liceu, comecei logo a trabalhar em campanhas políticas”, conta Tony Teixeira, na entrevista exclusiva que concedeu em Trenton ao jornal LUSO-AMERICANO. “Foi quando a portuguesa Virgínia Cortiço concorreu ao Comité Escolar de Elizabeth que, pela primeira vez, bati a uma porta a fazer campanha por alguém.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O português Tony Teixeira na sala do Senado no Capitólio em Trenton, cujo senador Nick Scutari, para quem trabalha, preside

Tinha “14, 15 anos”, recorda. Era o início de uma caminhada que o levaria aos corredores do poder que hoje frequenta. Ainda como voluntário, Teixeira participaria na campanha de Donald Gonçalves a Freeholder, no condado de Union, em 1996 (iria mesmo tornar-se no primeiro luso-americano eleito para o cargo). Mas é quando o democrata Jim McGreevey concorre a governador, um ano depois, que o português (já a ser remunerado) se torna no elemento mais novo da equipa. “Pode parecer naive nos dias de hoje dizê-lo, mas a minha grande motivação ao trabalhar na política é mesmo acreditar que, através dela, se pode ajudar as pessoas contribuir para melhorar o sítio onde se vive. Se puder ajudar alguém no meu bairro, por exemplo, a ser eleito, e se essa pessoa tomar as decisões certas que irão impactar positivamente a minha vida, a da minha família e a dos vizinhos, então eu quero ter uma voz activa nesse processo. O problema é que, por vezes, elegemos pessoas que fazem a diferença pela negativa… O mais importante é contribuirmos para que isso não suceda.”

Do seu palmarés político, constam ainda passagens pela campanha de Al Gore à Casa Branca, em 2001, e de Jon Corzine, Cory Booker e Bob Menendez ao senado federal.

❝COMO AMERICANO QUE TEVE DE PASSAR UM TESTE DE CIDADANIA, SEMPRE DEI VALOR AO NOSSO SISTEMA ELEITORAL❞

⤻Tony Teixeira, estratega político

Como se lida com a derrota de um candidato em quem se acredita e a quem se dedica tempo e lealdade? “É complicado”, admite. “Investimos todos os nossos esforços numa pessoa em quem depositamos confiança e, no final, os eleitores decidem por outro candidato. Mas aí está a beleza do sistema americano e da nossa democracia. Especialmente nos nossos dias, é fundamental lembrar isto: como americano que teve de passar um teste de cidadania, sempre dei valor ao nosso sistema eleitoral e ao facto de que as eleições têm consequências. Ou seja, quando um oponente político nosso as ganha, significa que nos irá governar a todos, quer queiramos, quer não. Irá tomar decisões que todos nós, enquanto sociedade, teremos de aceitar; por vezes ficamos tristes, revoltados, mas, ao escolhermos fazer parte deste processo democrático, também escolhemos aceitar os resultados de quem vota.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Com inclinação nata para a política, Tony Teixeira já trabalhou para eleger presidentes, governadores e senadores federais

O português também já foi a votos: tentou chegar a vereador em Elizabeth, em 2002, sem sucesso. Em 2017, contudo, foi eleito presidente do partido democrata na cidade de Elizabeth, e tem, desde então, sido reeleito para mandatos de dois anos. O cargo atribui-lhe peso na escolha de candidatos a nível local e no apoio das bases aos mesmos.

Como chefe de gabinete do senador estadual Nick Scutari, cargo que ocupa desde Fevereiro deste ano, Tony Teixeira coordena uma equipa de mais de meia centena de pessoas.

De Elizabeth, diz sem receios “ter a comunidade mais activa do estado de New Jersey, o que se traduz no elevado número de luso-eleitos. Foi um trabalho de consciencialização que vem de longe, a quem devemos bastante a figuras como Al Correia e Carlos Santos, por exemplo, líderes fenomenais que ajudaram a catapultar a nossa comunidade para o patamar em que hoje se encontra.”

❝A COMUNIDADE LUSA DE ELIZABETH É A MAIS ACTIVA DO ESTADO, O QUE SE TRADUZ NO ELEVADO NÚMERO DE FIGURAS ELEITAS❞

⤻Tony Teixeira, estratega político

A sua formação como indivíduo está intrinsecamente ligada à sua vivência de emigrante. Dos pais, aprendeu o valor do trabalho árduo; a mãe era funcionária da Coutinho’s Bakery e o pai operário da construção. Tony trabalhou no restaurante ‘Ibéria’ para ajudar no orçamento familiar. E diz ter sido no Leos Club, que ajudou a fundar, “que adquiri as ferramentas de liderança que me têm ajudado a enfrentar a vida.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Tony Teixeira movimenta-se com à vontade nos corredores da política em Trenton

Vida que o tem posto à prova, sem nunca, contudo, fazer com que deixe de acreditar na sua auto-confiança. “Eu sou um dependente de drogas em recuperação”, assume. “Estou em constante processo de recuperação, é uma luta constante. É estarmos vigilantes com nós próprios, sempre atentos àqueles comportamentos e tendências que sabemos levarem-nos à fraqueza do vício.”

Tony Teixeira fala abertamente dos obstáculos que enfrentou, incluindo a dependência da cocaína que, quando tinha 20 e poucos anos, o levaria a ser detido. “Foi uma dependência que aconteceu; experimentei, gostei. Era uma pessoa de sucesso, com dinheiro. Trabalhava arduamente, é certo, mas era um jovem com fartura de tudo.”

Reconhece ter-lhe faltado, na altura, a preparação para enfrentar um mundo de excessos. E ‘permitiu’ que o êxito o controlasse a si, em vez do oposto. “Não culpo ninguém, foi apenas falta de conhecimento.”

Foi após a separação da primeira mulher, em 2009, que começou o processo de reabilitação. “A minha esposa era incrível, mas, em retrospectiva, não era a altura para nos casarmos”, observa.

No Dia dos Namorados de 2014 conhece a segunda esposa, de ascendência afro-cubana. “Em Agosto do mesmo ano, casámos.” Três anos depois, dava-lhe filhos gémeos, mas a vida proporcionava-lhe outro rude golpe: a seguir ao parto, a mulher sofre um acidente cerebral vascular, entra em coma e, 5 meses depois, deixa-o viúvo.

❝CONSEGUI ULTRAPASSAR TUDO PORQUE ACREDITO EM MIM E NUM PODER SUPERIOR❞

⤻Tony Teixeira, estratega político

Teixeira, que não voltou a casar, passa a conciliar a vida familiar (sendo que um dos gémeos é autista e requer muita atenção) com a profissional. Sem perder a fé, mas considerando-se, mais que religioso, “uma pessoa espiritual. Tenho com Deus uma relação à minha maneira. Consegui ultrapassar tudo porque acredito em mim e num poder superior.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Tony Teixeira acredita na política como força motivadora para melhorar a vida das pessoas

À altura da sua força interior, coloca a solidariedade de todas as pessoas que lhe deram a mão “e que nunca vou poder agradecer.”

Tony Teixeira está ciente do poder que tem nas mãos, como chefe de gabinete de uma das figuras políticas mais influentes em New Jersey. Mas não se deslumbra… “O poder hoje tenho-o, mas amanhã posso não o ter mais. Por isso, enquanto o tiver, quero alcançar coisas positivas que transformem a vida das pessoas para melhor.”

Revela dizer todos os dias, às vezes repetidas vezes, a “prece da serenidade”, onde roga a Deus que lhe dê “a serenidade de aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem de mudar as que estão ao meu alcance e a sabedoria de distinguir a diferença entre ambas. Acredito que só quando se começa a olhar para a vida sob esta perspectiva, se pode enfrentar aquilo que o destino nos põe no caminho.”