A GLÓRIA DO FUTEBOL LUSO-AMERICANO QUE SAIU ILESO DA GUERRA DO VIETNAME E AGORA, AOS 74 ANOS, COMBATE OUTRO INIMIGO…

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

É feito de fibra forte, em terra de gente determinada – Aljubarrota. Em Abril de 1958, tinha apenas 11 anos quando os pais deixam a pequena e heróica freguesia do concelho de Alcobaça e completam a travessia transatlântica a caminho do Novo Mundo e de uma vida melhor. “Trazia a 4.ª classe feita”, nota Victor Santos, que é filho único, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Estabelecemo-nos em Ludlow, MA, mas, como o meu pai não arranjou trabalho aí, meses depois fomos para Hartford”.

O pai era mestre de pedraria e a mãe depressa se empregou numa fábrica. Victor faz o liceu numa escola pública da capital de Connecticut e aos 19 anos cai nas malhas do serviço militar. “Fui para o Vietname enquadrado na 199th Light Infantry Brigade”, narra. “Estive lá um ano como soldado na linha da frente; éramos 149 homens. Eu fui um dos 5 do grupo que nunca foi ferido”.

Victor Santos é uma das glórias do futebol luso-americano na Nova Inglaterra

De regresso aos Estados Unidos a 5 de Abril, no dia 26 de Julho contrai matrimónio com a luso-americana Pamela, de Hartford, com origens na zona de Viseu. Admitido num sindicato que representa pedreiros, passa pela empresa do pai sediada em East Hartford e ainda chega a encarregado de obras numa companhia de construção, onde permanece cerca de 14 anos.

A restauração acontece quando compra o ‘Oak Street Pub & Restaurant’, em Manchester, onde nos dias que correm passa parte da reforma a ajudar o filho Victor Santos Jr.

❝COMECEI A JOGAR FUTEBOL EM MIÚDO, À BEIRA DAS ESTRADAS EM ALCOBAÇA❞

➔Victor Santos,

ex-jogador e treinador

A carreira de futebolista dá o pontapé de saída em 1961, a jogar pela Connecticut Soccer League, onde esteve até 1982. Entretanto cria a ‘Portuguese Dragons’, em 1970, já como treinador, e entre 1974 e 1994 esteve como técnico à frente do Wethersfield Soccer Club, onde conquista 12 campeonatos. Em 1993 vai para a equipa da Quinnipiac University, chegando 5 anos depois a ‘Northeast-10 Coach of the Year’. Ao leme da equipa do Liceu de Wethersfield, ganhou em 1991 o campeonato nacional de futebol. Presentemente, está à frente do Connecticut Junior Soccer Association Olympic Development Program, como director e treinador.

O segundo da esquerda, agachado: com a Hartford Portuguese Soccer Team

“Comecei a jogar futebol em miúdo, à beira das estradas em Alcobaça”, diz. “Como jogador, a minha primeira equipa aqui foi a Portuguese Soccer Team, a que me juntei aos 14 anos e onde estive quase quatro décadas. Era meio-campista e usava a camisola número 10”.

Em 2007 é induzido ao Connecticut Soccer Hall of Fame, na sua 9.ª cerimónia anual, e quatro anos depois entra para a New England Soccer Hall of Fame – honrarias que diz dever “ao conjunto da minha carreira como jogador e treinador”. Fica em boa companhia – com outros ‘grandes’ como Daniel Gaspar, Tony Horta e João Raposo.

❝É CLARO QUE GOSTAVA DE TER JOGADO EM PORTUGAL, MAS O MEU FOCO ERA O FUTEBOL LUSO-AMERICANO EM CONNECTICUT❞

➔Victor Santos,

ex-jogador e treinador

Adepto do Benfica, lamenta ver pouco talento nacional a jogar – e não morre de amores por Jorge Jesus… Das Velhas Guardas salienta Matateu, Eusébio, Coluna e Simões. Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva e Bruno de Carvalho – na actualidade – atraem a sua admiração.

“É claro que gostava de ter jogado em Portugal, mas a oportunidade nunca apareceu e o meu foco era o futebol luso-americano em Connecticut”, refere.

Santos transmitiu aos seus a paixão pelo futebol: ambos os filhos (Victor e Lori) jogam futebol, tal como o neto Nathan, que alinha pelo Liceu de Newington.

Aos 74 anos, combate agora uma patologia do foro oncológico, “um linfoma que me apareceu de repente. Está tudo a correr bem”, revela, “embora tenha mais uma sessão de quimioterapia. Estou a lutar com todas as minhas forças”.