Acções e a economia: exuberância irracional?

por Fernando Valente

Quando o presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, proferiu o seu famoso depoimento sobre o mercado de ações em 1996, a economia estava se não estou a exagerar, ou talvez no mês de novembro, forte. Na verdade, “exuberância irracional” parece ser um rótulo mais adequado para o mercado de hoje.

Entre 23 de Março e 8 de Junho, o S&P 500 subiu mais de 44%, ficando menos de 5% do seu recor- de histórico registrado em Fevereiro. Enquanto isso, o Dow Jones Industrial Average atingiu 27.500, apenas 7% abaixo de seu recorde.

Para colocar a disparidade em perspectiva, considere alguns mercados em baixa recentes e suas con- sequências económicas. Na crise financeira de 2007-2009, o S&P 500 perdeu 56% de seu valor. Mesmo assim, o desemprego nunca chegou a 10% e o PIB caiu apenas 2,5% em 2009.

Claramente, o mercado actual parece estar em desacordo com a realidade económica.

Acções não são a economia


Paul Samuelson, fez uma famosa piada na década de 1960: o mercado de acções previu nove das últimas cinco recessões.

Como ambos apontam enfaticamente, a dinâmica que impulsiona as acções é diferente daquela que impulsiona a economia. Os principais índices de mer- cado, como o Dow Jones Industrial Average (DJIA) ou o S&P 500, reflectem um segmento limitado da economia, e a maioria das acções pertence a uma pequena percentagem da população.

Os preços do índice de acções também são impulsionados em grande parte pelos ganhos e lucros das empresas constituintes, que podem ter pouco a ver com métricas económicas, como o desemprego. Além disso, as acções são alta- mente sensíveis às taxas de juros e às mudanças na política monetária, que normalmente demoram muito mais para serem sentidas na economia.


Ações do governo para apoiar a economia não têm precedentes

O optimismo dos investidores em face da queda livre económica pode ser justificado em parte pelas medidas ousadas tomadas pelo Federal Reserve e pelo Congresso para conter as consequências dos bloqueios e confinamentos. O Federal Reserve reduziu as taxas de juros, aumentou a oferta de moedA.. De sua parte, o Congresso aprovou uma legislação de estímulo sem precedentes.

As acções ainda são o investimento de escolha

Muito antes de o coronavírus atacar, qualquer pessoa em busca de retorno estava a olhar para o mercado de acções como uma opção. Os rendimentos de títulos e dinheiro eram historicamente baixos há anos. Agora, com os recentes cortes nas taxas de juros, essa tendência é mais pronunciada do que nunca. Em 1 de Junho, a taxa de juros dos títulos do governo dos EUA de 10 anos era de apenas 0,66%, ante mais de 3% no final de 2018.

O Caminho

Se as acções continuarão em um caminho diver- gente da economia, ninguém pode prever. Em última análise, a saúde a longo prazo do mercado de acções e da economia dependerá em grande parte do sucesso em desacelerar e deter a pandemia. Mas qualquer resolução levará tempo.

Para mais informações, contacte Fernando Valente, um consultor financeiro da LPL Financial. Tel. (908) 604-6526. Membro da NAS- DAC/SIPC. (A informação supracitada não deve ser utilizada como base legal e/ou conselho fiscal. Em cada caso específico, se estiverem a pensar planear os seus bens, as partes devem procurar aconselhamento junto do seu contabilista ou advogado).