Alunos do Bairro Leste estão a ser transferidos de escolas com melhor desempenho
• Por THERESE JACOB TAPInto Newark | Colaboração
As escolas do Bairro Leste estão tão sobrelotadas, que mais de 150 alunos são transportados diariamente para escolas nos bairros Central e Norte.
Muitos desses alunos estão a aprender inglês e são colocados em escolas com desempenhos académicos significativamente inferiores às escolas onde as suas famílias tentaram inscrevê-los, embora algumas não estejam cientes dessas diferenças.
Um porta-voz do distrito escolar afirmou que as famílias podem escolher se colocam ou não os filhos no autocarro escolar, mas todas as famílias com quem o TAPinto Newark falou, disseram que foram automaticamente inscritas para o transporte e que lhes foi dito que as escolas na sua zona estavam demasiado cheias para receber os seus filhos.
O vereador do Bairro Leste, Michael Silva, afirmou que considera “completamente inaceitável e desrespeitoso que o distrito escolar continue a ignorar a grave sobrelotação das escolas do Bairro Leste”.
“Este não é um problema novo e, na verdade, existe há mais de 20 anos”, diz Silva. “Porque é que as nossas famílias têm de ser incomodadas com o transporte diário de crianças pequenas por toda a cidade, simplesmente devido à negligência da administração escolar?”
A sobrelotação tem sido um problema de longa data no Bairro Leste. Por exemplo, a Lafayette Street School tem 1.235 alunos num edifício projectado para 650. A da Wilson Avenue tem 1.033 alunos num espaço que deveria acolher apenas 415.
Segundo documentos do Comité Escolar de Newark, os alunos estão a ser transportados das escolas Ann Street, Lafayette, Oliver Street e South Street para a Sussex Avenue (no Bairro Norte), bem como para as escolas Camden Street, Quitman Street e Louise A. Spencer (no Bairro Central).
Defensores de crianças e famílias recém-chegadas criticaram a política distrital de transporte de alunos para fora do Bairro Leste.
“Não podemos permitir que o distrito trate isto como um mero problema logístico. Para nós, trata-se de justiça, dignidade e oportunidades para todos os alunos,” disse Carlos Castañeda, organizador comunitário do “Movimiento Cosecha”, um grupo de defesa dos direitos dos imigrantes.
“As famílias merecem transparência, escolhas reais e a garantia de que todas as crianças terão acesso a uma educação de qualidade, independentemente do seu código postal, língua materna ou estatuto migratório. Os pais não devem sentir-se impotentes ou mal informados”, afirmou Castañeda.
Paul Brubaker, porta-voz do distrito escolar, afirmou que actualmente 154 crianças estão a ser transportadas diariamente para outras escolas do distrito e que esse número é “significativamente mais baixo” do que em anos anteriores, devido à estratégia para o Bairro Leste. “Esta estratégia inclui a abertura de três escolas primárias, duas escolas secundárias, três anexos, cinco imóveis arrendados e a expansão de níveis de ensino nas escolas existentes”, explica. “Sabemos que o espaço no Bairro Leste é limitado, mas fomos abordados por entidades interessadas em arrendar imóveis a terceiros, e que agora redireccionaram esses esforços para nós”.
Questionado sobre o transporte de alunos para escolas com pior desempenho, Brubaker enviou a seguinte resposta do superintendente das Escolas de Newark, Roger Leon: “discordamos veementemente da sua contínua e desrespeitosa deturpação e retórica intencionalmente divisiva sobre as nossas escolas,” declarou Leon. “Faz perguntas erradas, tenta montar um quebra-cabeças com ideias inventadas, e pior, pede a pessoas respeitáveis que comentem declarações falsas para validar uma história (e é mesmo uma história) que escreve. Dito isto, os pais escolhem as escolas, e é o sistema Newark Enrolls que faz o emparelhamento”.
Todos os pais disseram que os filhos estão a aprender inglês nas novas escolas, e nenhum sabia das diferenças nos resultados académicos entre as escolas.
“A verdade é que sou imigrante, foi essa a escola que nos atribuíram, por isso mandámo-lo para lá,” disse uma mãe cujo filho não pôde frequentar a Lafayette Street School e está agora na Camden Street School. O TAPinto está a proteger a sua identidade e não revela o nome.
Quando questionada se sabia da diferença de desempenho entre as escolas da Camden Street e Lafayette, respondeu: “Não sei nada sobre isso”.
Cerca de 45% dos alunos da Lafayette, do 3.º ao 8.º ano, passaram nos exames estaduais de leitura no ano passado, quase o triplo dos 17% que o fizeram na Camden Street. A Lafayette também tem quase metade da percentagem de alunos com necessidades educativas especiais, em comparação com a Camden.
O Bairro Leste é conhecido por ter algumas das escolas com melhor desempenho do distrito. Na Ann Street School, uma das que deixou de aceitar mais alunos, 40% passaram no exame de leitura do 3.º ano no ano passado, significativamente acima da média distrital de 24%.
Os alunos transportados para fora do Bairro Leste acabam em escolas como a Camden Street e a Quitman Street, onde as taxas de sucesso em leitura no 3.º ano foram de 5% e 10%, respectivamente.
Outra mãe disse que tentou insistir para o seu filho frequentar a escola do bairro, mas o distrito não cedeu. Disse que gostaria que o filho estudasse mais perto de casa, mas não acredita que haja algo que possa fazer.
A Dra. Sophia Rodriguez, professora da NYU Steinhardt School e fundadora do ImmigrantEdNext Lab, onde estuda, entre outros temas, as experiências de jovens latinos com racismo, discriminação e pertença em escolas e comunidades, afirmou que a transparência é especialmente importante para famílias imigrantes.
“Se as famílias são novas no país, pode haver medo ou receio de reivindicar, e isso perpetua esta discriminação e desigualdade, porque os pais imigrantes muitas vezes nem sabem que têm o direito de fazer perguntas,” disse Rodriguez.
A Dra. Rodriguez acredita que esta estratégia de transporte pode trazer vários prejuízos para a comunidade. “A minha primeira reacção foi pensar que estamos a segregar ainda mais as escolas, e isso é preocupante”, afirmou. “Não apenas uma segregação racial e étnica, mas também a concentração de alunos que estão a aprender a língua e de alunos com necessidades educativas especiais numa só escola, porque parece ser isso que está a acontecer”.
Na sua investigação, os alunos que estão a aprender inglês são os que apresentam o menor sentido de pertença na escola e na comunidade. Esta falta de pertença pode levar a vários resultados negativos, como o aumento da taxa de abandono escolar e do absentismo.
Carlos Castañeda, do Movimiento Cosecha, afirmou que o distrito tem de ser totalmente transparente quanto ao processo de colocação nas escolas e deve comunicar de forma proactiva com as famílias na sua língua preferida. “Outra coisa, têm de priorizar o investimento nas escolas sobrelotadas, como as do East Ward”, nota. “Se for mesmo inevitável transportar crianças no curto prazo, o distrito deve garantir que elas sejam colocadas em escolas com desempenhos semelhantes ou melhores, não piores. E devem garantir que existam sistemas de apoio adequados nas escolas de destino, especialmente para os alunos que estão a aprender inglês”.
Michael Silva reitera que o bairro precisa de novas escolas: “a construção de novas escolas no Bairro Leste, para dar aos nossos residentes a mesma dignidade e respeito que o resto da cidade recebe, deve ser a principal prioridade do distrito,” disse. “Já chega”.