ANSIEDADE: Molécula pode desenvolver tratamento
Uma equipa de investigação liderada pela Universidade de Coimbra (UC) identificou um novo mediador responsável pela alteração das memórias de medo, uma descoberta que os cientistas acreditam poder contribuir para criar novas terapias mais eficazes para o tratamento de perturbações de ansiedade, doenças marcadas por um medo exagerado ou inapropriado e por um défice na extinção do medo, sendo uma das condições de saúde mais prevalentes a nível mundial, agravada pela pandemia.
No artigo científico, publicado na revista ‘Molecular Psychiatry’, com recurso a um modelo comportamental de extinção do medo, os cientistas explicam como conseguiram identificar “um aumento da activação da proteína TrkC na amígdala – a região cerebral que controla a resposta do medo – na fase da formação da memória de extinção de medo, o que leva a um aumento da plasticidade sináptica [capacidade dos neurónios alterarem a forma como comunicam entre si em função dos estímulos que recebem]”, explica a investigadora do Centro de Neurociências e Bi-ologia Celular da UC e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia, Mónica Santos.
Actualmente, uma das opções terapêuticas para as perturbações de ansiedade são as terapias de exposição, que se baseiam no mecanismo de extinção do medo. No entanto, “as terapias de exposição, bem como o uso de fármacos, como ansiolíticos e antidepressivos, não são 100% eficazes no tratamento destes problemas de saúde e, por isso, esta investigação abre novas opções terapêuticas para esta categoria de perturbações”, avança Mónica Santos.
“Este estudo valida a via TrkC como um potencial alvo terapêutico para indivíduos com doenças relacionadas com o medo, e revela que a combinação de terapias de exposição com fármacos que potenciam a plasticidade sináptica pode representar uma forma mais eficaz e duradoura para o tratamento de perturbações de ansiedade”, acrescenta a também líder da investigação.
Quanto aos próximos passos, a equipa de investigação pretende “identificar compostos que tenham a capacidade de activar de forma específica a molécula TrkC e, assim, serem usados como fármacos aliados à terapia de exposição no tratamento de doentes com perturbações de ansiedade”, revela a investigadora.