APÓS 15 DIAS E 6.400 QUILÓMETROS DE MOTA: Portugueses de NJ ‘conquistaram’ Terra Nova e Labrador
Seis mil e quatrocentos quilómetros em cima de uma mota é a mais recente aventura de Eusébio Pedro, bem conhecido nestas andanças de duas rodas um pouco por todo o mundo.
Umas vezes só outras vezes na companhia de outros entusiastas da modalidade, Eusébio, residente em Hillside e profissional de seguros na Agência Morais, em Newark, vem acumulando milhares de quilómetros de viagens únicas e inesquecíveis.
Desta vez, na companhia do casal Manuel e Cátia Alves, a aventura decorreu entre finais de Junho e os primeiros dias de Julho deste ano, e o destino foi a Terra Nova e Labrador, no Canadá.
Depois de um percalço inicial (uma avaria obrigou Eusébio a mudar de mota), a aventura começou com a saída de Hillside em direcção ao Maine, um total de 365 milhas.
No dia seguinte, 2 de Julho, o grupo saiu de Weel, no Maine, rumo a St. John, New Brunswick, já no Canadá, uma etapa que teve de tudo: desde céu azul e calor a chuva forte, frio e nevoeiro. Só faltou mesmo a neve.
O dia 3, marcado pela chuva forte e fria, foi preenchido com a viagem em direcção a New Glasgow, e no dia seguinte rumaram a North Sydney, um trajecto curto mas nada fácil, visto que, embora tenha começado com tempo morno, terminou com chuva forte e temperaturas baixas, clima bem característico da Nova Escócia.
No dia seguinte, o grupo saiu de North Sydney e apanhou o barco para Argentia, de onde saíram rumo a St. John’s, na Costa do Atlântico, a capital de Newfoundland e de Labrador.
O dia ficou marcado pelas drásticas e constantes mudanças de temperaturas. Tão depressa estavam 25º C como, cinco minutos depois, baixava para 15º C.
De St. John’s saíram, no dia seguinte, em direcção a Gander, uma viagem debaixo de temperaturas agradáveis, feita a maior parte do tempo por entre pitorescas aldeias piscatórias, quase paradas no tempo e com vistas fabulosas.
De Gander seguiram para Grand Falls, num dia marcado pelo calor e paisagens pitorescas, no qual houve tempo para um almoço de bacalhau frito num restaurante típico em frente ao mar, de onde puderam avistar os icebergs ao longe.
St. Barbe, um pequeno povoado com pouco mais de uma centena de pessoas, foi o destino próximo. A viagem proporcionou vistas magníficas, com passagens pelo Gros Morne National Park, um santuário natural onde, entre outras actividades, se podem fazer passeios de barco, acampar e caminhadas.
Em St. Barbe apanharam o barco para Labrador. A viagem começou com chuva e nevoeiro e grandes variações de temperatura — começa com 10º C e por vezes termina com 27º C. A beleza natural e constante da província não desapontou. Como dizem os locais, foi “muito de nada”.
O dia 11 amanheceu com 8º C. Foi ocupado com a primeira longa travessia, de Labrador até Happy Valley Goose-Bay, a cidade mais populosa da região.
Após abastecer as motas numa estação de serviço muito rudimentar, três quilómetros depois depararam com um sinal a avisar que a próxima área de serviço seria dali a 410 quilómetros. Contas feitas, a gasolina nos depósitos era capaz de não chegar.
Decidiram voltar para trás em busca de um jerrycan que lhes permitisse alguma gasolina suplementar, e, à cautela, resolveram viajar a uma velocidade constante de 90 k/h.
Apesar de alguma apreensão, tiveram tempo, durante o percurso, para almoçar uma lata de atum e ver dois ursos a fazer brincadeiras no meio de uma estrada deserta.
O percurso de Happy Valley Goose Bay e Labrador City, no dia seguinte, com um total de 560 quilómetros, foi feito em duas partes, com apenas uma área de serviço pelo meio em Churchill Falls.
O dia, com uma temperatura acima dos 30º C, foi bastante quente. As rectas foram de perder de vista. Para quebrar a monotonia, Eusébio resolveu contar os pinheiros, e quando já ia em muitos milhares apareceu, de repente, uma curva no meio do nada, e lá se foi a contagem. As paragens tiveram que ser rápidas, pois as moscas eram muitas e não davam descanso.
O dia seguinte, 13º da viagem, foi consumido no percurso entre Labrador City e o Motel L’Energie, a caminho de Quebec City. Além do calor e das moscas, foram quase de 500 quilómetros de mota, 160 dos quais em terra batida em mau estado.
Os camiões com que se cruzaram, a grande velocidade, deixando uma enorme poeirada e impedindo a visibilidade, também não a ajudavam. Chegaram, por isso, ao motel todos da mesma côr, tal era a quantidade de pó que lhes tinha caído em cima.
Do motel saíram, no dia seguinte, rumo a Quebec City. Uma vez lá, um qualquer acontecimento especial fez com que demorassem duas horas a encontrar estacionamento. Aí, numa passadeira reservada aos peões, viram mais gente do que durante a travessia de Labrador e Newfoundland.
Quebec City-Hillside, no 15º e último dia da viagem, era para ter sido dividido em dois, pois estavam a 800 quilómetros de casa.
Depois de resolver um problema mecânico nu-ma das motas, e como o dia estava excelente, ganharam coragem e depois do almoço decidiram fazer o percurso total num só dia.
Chegaram a Hillside por volta da meia-noite, após um total de 6.400 quilómetros percorridos em duas semanas.
Era o fim de mais uma aventura a recordar para sempre, registada em vídeo já disponível no Youtube.
Por ILÍDIO MARTINS
LUSO-AMERICANO