As guerras a que não estamos a prestar atenção, mas que mesmo assim, ainda existem…

Existem 18 conflictos activos em vários pontos do mundo. Por exemplo a Venezuela, onde o regime ditactorial de Nicolás Maduro continua a alimentar uma gigantesca crise humanitária. No entanto, não há notícia de mortes relacionadas com a instabilidade política e a oposição ao regime desde o início do ano e muito menos desde que a Guerra na Ucrânia começou.

Na América do Sul, há o caso do México, o crime organizado relacionado com o tráfico de droga está cada vez mais violento e a ser combatido pela polícia e pelas forças armadas do Estado.

O mundo é um jogo de xadrez extremamente complexo e os seres humanos parecem ter um apetite voraz para se matarem uns aos outros.

Apesar de não abrirem o noticiário, há dezenas de conflictos que estão neste momento a acontecer por todo o mundo, uns são recentes, alguns já duram há décadas.

No século XXI, o terror acontece sobretudo em África, no Médio Oriente e na Ásia Meridional, entre guerras civis, disputas territoriais, genocídios ou terrorismo interno. São muitas as batalhas e demasiadas as vítimas. As razões são várias, as justificações nenhumas.

Nesta lista de paises em sofrimento podemos acrescentar paises tais como: Moçambique, Iémen, Caxemira, República Democrática do Congo, Paquistão, Afeganistão, Nigéria, Turquia, Síria, Líbia, Índia, Mali, Sudão, Etiópia e Somália.

Mapa dos Conflictos Armados no Mundo

Cabo Delgado

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, nunca registou tantas pessoas raptadas nem casas destruídas como em 2022. A região é alvo de ataques terroristas desde 2017, levados a cabo por rebeldes armados ligados ao Estado Islâmico.

A insegurança tem aumentado desde Julho, quando uma ofensiva de tropas governamentais apoiadas por Ruanda começou a reconquistar algumas regiões dominadas por rebeldes. Além de Ruanda, os grupos armados estão a ser combatidos pelas forças governamentais de Moçambique e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.

“A grave situação militar e de insegurança das populações em Cabo Delgado continuam a constituir uma preocupação nacional”, notou o chefe da bancada do Movimento Democrático de Moçambique, Lutero Simango.

Segundo o projecto ACLED, o número de mortes já ultrapassou as 3100. Há também mais de 859 mil deslocados, dão conta as autoridades moçambicanas.

Iémen

A 16 de Fevereiro, numa das maiores crises humanitárias do mundo, rebeldes houthis tentaram assumir o controlo de Marib, a última grande cidade do Iémen ainda gerida pelo governo.

Os ataques destruíram alvos militares mas também uma escola, ferindo e matando vários civis. O grupo de insurgentes originário do norte do país é composto por zaiditas, uma corrente xiita à qual pertence 35% da população do Iémen, que tomou a capital do país, Sana’a, em 2014, exigindo novo governo e a descida dos preços dos combustíveis.

O presidente demitiu-se e o conflicto começou, em outra tentativa o presidente voltou ao poder mas a guerra civil continua.

Nigéria

“O Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP) tem morto vários soldados”. Foi o mais recente registo de atentado suicida registado na Nigéria, onde o grupo fundamentalista Boko Haram e mais recentemente o ISWAP têm feito milhares de vítimas desde 2009. As últimas estimativas apontam para 350 mil mortes.

O Boko Haram teve um pico de violência entre 2014 e 2015, dirigida sobretudo a mulheres e crianças.

O Boko Haram raptou mais de 200 meninas que estavam numa escola, um caso que fez aumentar a atenção internacional para o conflito.

República Democrática do Congo

No primeiro dia de Fevereiro, em transição para a paz que não chega, um tribunal militar da República Democrática do Congo condenou 51 pessoas à morte pelo envolvimento no assassinato, em 2017, de dois oficiais da ONU que estavam a investigar relactos de violência na província de Kasai.

No dia seguinte, supostos militares mataram “dezenas” de pessoas num campo de deslocados em Ituri. Acto esse que fez António Guterres reforçar o número de capacetes azuis no país (na altura já eram cerca de 16 mil). 

O Congo é sinónimo de violência há décadas. As tensões entre a etnias Hutu e Tutsi continuam até hoje, e a política tem sido incapaz de trazer a paz. Os resultados das últimas eleições presidenciais de 2019 foram postos em causa, há surtos de ébola activos no leste do país, e a 20 de Março, 14 pessoas foram mortas em Ituri, incluindo 7 crianças.

Dias antes, tinha sido notícia um ataque terrorista levado a cabo por extremistas islâmicos onde 60 pessoas perderam a vida em várias aldeias ao longo de cinco dias.

O povo tem saído à rua nos últimos meses em protesto contra a violência. Mas a margem de manobra é pouca. Há mais de 130 grupos armados a atacar civis por todo o país, muitos deles compostos por crianças-soldados.

A ONU reportou 601 novos casos de recrutamento infantil por milícias. Há mais de 5,5 milhões de deslocados internos e mais de 800 mil refugiados noutros países. 

Caxemira

Caxemira é uma região tripartida sendo que a Índia controla cerca de 43% do território, o Paquistão 37% e a China 20%. Mas Caxemira é sobretudo cobiçada pelos primeiros dois países desde a descolonização britânica.

Caxemira continua a ser um amplo palco de violência pois cada lado acusa o outro de violar o acordo de paz e, por isso, as retaliações são frequentes onde o risco de um confronto militar sério entre a Índia e o Paquistão permanece elevado.

Ambas as potências têm armas nucleares e isso é uma preocupação acrescida.

Afeganistão

O controlo do resto do país culminou no dia 15 de Agosto, quando os talibãs ocuparam simbolicamente o Palácio Presidencial, em Cabul, a capital do país.

O anterior regime do movimento fundamentalista governou o Afeganistão entre 1996 e 2001. Duas décadas depois, os talibãs ganharam a guerra contra o exército afegão.

No início deste ano, a Human Rights Watch alertou que os talibãs estão a causar uma “crise abrupta e crescente” de direitos humanos no país: “fizeram recuar imediatamente os avanços dos direitos das mulheres e a liberdade de expressão”.

As acções militares das forças islamitas aumentaram quando as tropas estrangeiras, nomeadamente Estados Unidos e forças da NATO, começaram a fase final da retirada do Afeganistão.

O Presidente Ashraf Ghani culpou a deterioração da segurança com a retirada rápida dessas tropas, após 20 anos de operações militares no país. A crise humanitária está em marcha e agora o Ocidente está a prestar muito menos atenção.