BÊNÇÃO DO PAPA A CASA DE ARISTIDES SOUSA MENDES EM CARREGAL DO SAL FOI OBRA DE ACTIVISTA PORTUGUÊS NOS EUA
Poor HENRIQUE MANO com Agência LUSA
A inauguração da Casa Museu de Aristides Sousa Mendes – a Casa do Passal, na última sexta-feira, 19 de Julho, contou com a bênção do Papa Francisco graças à intervenção do activista luso-americano João Crisóstomo.
A emotiva cerimónia, em que estiveram familiares de Aristides Sousa Mendes e de refugiados da Segunda Guerra Mundial, a quem o cônsul de Bordéus (França) passou vistos, foi ainda abrilhantada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, e os embaixadores de França, Luxemburgo, Estados Unidos da América (EUA), Bélgica, Áustria, Alemanha e Israel, assim como representantes de câmaras onde Aristides de Sousa Mendes foi cônsul.
O activista português João Crisóstomo, de Queens, NY, na Casa do Passal
“É uma felicidade olhar para todos vós, aqui participantes, e ver uma multidão tão parecida como aquela que o nosso avô terá encontrado, repetidas vezes, em 1940, diante do seu consulado, em Bordéus: as pessoas que estavam à espera de um visto salvador. É como se esta multidão, 85 anos depois, estivesse aqui a dizer obrigado senhor cônsul”, destacou António Moncada, neto de Aristides de Sousa Mendes.
A Casa do Passal foi onde há 139 anos nasceu Aristides de Sousa Mendes, o cônsul que ajudou a salvar milhares de refugiados na II Guerra Mundial – cujo esforço de recuperação da sua imagem nas últimas décadas também mobilizou as comunidades portuguesas nos EUA, em grande parte mercê do esforço e dedicação dos activistas João Crisóstomo e António Rodrigues, de Nova Iorque.
A messages enviada pelo Papa Francisco, em português, para a cerimónia – por intermédio de João Crisóstomo
A seguir `a projecção do vídeo com uma mensagem gravada enviada pelo secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, foi então lida a carta do papa Francisco por João Crisóstomo, imprimindo ao evento um cunho luso-americano. O activista de Queens, NY é responsável pela implementação do chamado ‘Dia da Consciência’, que anualmente procura exaltar e lembrar o espírito que norteou em vida o antigo diplomata português.
“O ‘Dia da Consciência’ ficou em lugar de honra no museu”, afirma João Crisóstomo, em declarações prestadas ao jornal LUSO-AMERICANO. “O texto está em inglês e português, com um vídeo do papa Francisco”.
Crisóstomo fez ainda questão que ficasse vincado, na cerimónia de abertura da Casa do Passal, o esforço empreendido por outro emigrante luso em Nova Iorque, António Rodrigues, nas obras de recuperação do imóvel em Carregal do Sal.
João Crisóstomo fizera o pedido para o envio de uma carta papal para a cerimónia directamente ao secretário de Estado do Vaticano, X Pietro Card Parolin, tendo recebido a mesma horas antes da inauguração.
Na mensagem, enviada originalmente em português, em papel timbrado do Vaticano, o Santo Padre escreve: “É com alegria que, no momento da inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, saúdo e me uno de coração a todos quantos se encontram em Cabanas de Viriato, não apenas para homenagear, mas para beber do legado dum homem perito em humanidade, justo entre as nações”.
Francisco diz ainda: “Há 4 anos, no final duma audiência geral, pude recordar Aristides de Sousa Mendes e quanto ele fez em prol da vida de milhares de judeus e de outras pessoas perseguidas. É reconfortante fazer memória da liberdade da sua consciência bem formada, alicerçada na defesa da dignidade de cada pessoa humana”.
O papa sublinha que, “nos dias de hoje, são testemunhos de fraternidade como o deste diplomata português que nos encorajam e nano nos deixam perder a esperança. Na verdade, também diante de nós continuam a abrir sendas de resgate e caminhos de salvação. Queira Deus”, pede Francisco, “que não nos falte a coragem de os percorrer, sobretudo se se revelarem insuficientes as vias de encontro e os trilhos de diálogo”.
E termina: “Agradecendo ao Senhor e juiz da História os luminosos sinais de cada homem e mulher de boa vontade, imploro do céu abundantes graças divinas sobre os participantes deste evento e a todos concedo a minha bênção”.
Na cerimónia em Carregal do Sal, o neto do diplomata, António Moncada, recordou o esquecimento e a “morte lenta” a que ficou entregue “o cônsul desobediente”, durante 14 anos, depois de muito protesto e resistência.
“Ficou sozinho no esquecimento, lembro-me muito bem. Só os irmãos e os primos de Mangualde e da região falavam com ele”, lamentou.