BIDEN VAI NOMEAR O 75.º REPRESENTANTE DIPLOMÁTICO DOS EUA EM PORTUGAL

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

As relações diplomáticas entre Portugal e os Estados Unidos da América são uma história antiga. Quando o presidente Joe Biden nomear o próximo embaixador americano em Lisboa, o indigitado entrará para a história como o 75.º representante a nível diplomático de Washington, DC na capital portuguesa.

As relações bilaterais entre Portugal e os Estados Unidos recuam aos primórdios da história americana. Logo a seguir à Guerra da Independência, Portugal tornou-se de imediato no primeiro país neutral a reconhecer a nova nação. O seu primeiro presidente, George Washington, não perdeu tempo e a 21 de Fevereiro de 1791 estabeleceu relações diplomáticas formais com Lisboa – reinava em Portugal D. João VI.

É Washington quem também escolhe um dos heróis da guerra de independência da corte inglesa – o coronel David Humphreys – para primeiro representante diplomático americano em Portugal, elevando-o a Ministro residente.

David Humphreys, de Connecticut, foi o primeiro representante diplomático americano em Portugal – indigitado por George Washington

O 1.º REPRESENTANTE DIPLOMÁTICO AMERICANO EM LISBOA ERA NATURAL DE CONNECTICUT

Humphreys desempenhou o cargo de 13 de Maio de 1791, data em que apresenta credenciais à corte portuguesa, até 25 de Julho de 1797.

Nasceu a 10 de Julho de 1752 naquilo que é hoje Derby, no estado de Connecticut, e viria a morrer a 21 de Fevereiro de 1818 em New Haven, CT, aos 65 anos. Assumiu o papel de ajudante de campo de George Washington durante a guerra, passando mais tarde a secretário de Benjamin Franklin em Paris e ainda a deputado estadual em Connecticut. Também poeta, fez parte do movimento ‘Hartford Wits’ e atribui-se-lhe mesmo o primeiro soneto de que há registo escrito na América, assim que a Independência foi declarada.

Para o luso-americano Frank Ferreira, colocado em Washington, DC no escritório do Bureau of Arms Control, Verification & Compliance junto do Departamento de Estado (o Ministério dos Negócios Estrangeiros norte-americano), “esta espera para saber quem irá o presidente Biden nomear para a embaixada em Lisboa é um período bastante interessante, especialmente para aqueles, como eu, que acompanham e apreciam as relações bilaterais entre estes aliados de longa data.”

QUEM IRÁ BIDEN NOMEAR?

O cargo de embaixador dos EUA em Portugal está vago desde 20 de Janeiro de 2021; o seu último ocupante, o empresário George Edward Glass, foi uma das nomeações políticas feitas pelo ex-presidente Donald Trump. Glass apresentou cartas credenciais ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa a 30 de Agosto de 2017. Fundador da Pacific Crest Securities, Glass, que se formou pela University of Oregon, teria o seu nome ainda ligado à firma MGG Development LCC.

Até à nomeação de um sucessor, a chefia da embaixada americana em Lisboa está a cargo da ministra-conselheira Kristin M. Kane, diplomata de carreira.

Para o luso-americano Frank Ferreira, colocado em Washington, DC no escritório do Bureau of Arms Control, Verification & Compliance junto do Departamento de Estado (o Ministério dos Negócios Estrangeiros norte-americano), “esta espera para saber quem irá o presidente Biden nomear para a embaixada em Lisboa é um período bastante interessante, especialmente para aqueles, como eu, que acompanham e apreciam as relações bilaterais entre estes aliados de longa data.”

Ferreira, que diz falar apenas em seu nome e não como funcionário do Departamento de Estado, lembra que os potenciais candidatos ao posto, nesta fase, são apenas conhecidos por Biden, pelo Secretário de Estado Tony Blinken e pelos próprios. A escolha final, que recairá sobre Biden, será depois avaliada “pelo Comité de Relações Exteriores do Senado, cujo actual presidente é o senador Robert Menendez (D-NJ), um amigo da comunidade luso-americana” – sublinha.

Na opinião de Frank Ferreira, Biden deverá ter em conta a escolha de uma mulher (“dada a tendência desta Administração para a nomeação de mulheres competentes para cargos de responsabilidade”); de um “amigo próximo ou conselheiro, com ligações ao presidente ou ao secretário de estado”; de alguém que tenha feito importantes contribuições monetárias de campanha” ou “obviamente, nomear um luso-americano. Alguém com competências e qualificações superiores seria bem recebido, sem precedentes e de carácter histórico. Seria uma imensa fonte de orgulho para a comunidade luso-americana.”

Ferreira acredita que a escolha de um luso-americano para o posto que saiba defender os interesses da sua nação e representar ao mesmo tempo as suas origens, colocaria Biden nos anais da história das relações bilaterais Portugal/EUA. “Não seria uma tarefa fácil, mas também não é impossível”, nota. “Manter uma lealdade equilibrada a duas nações que se dão bem não é apenas uma responsabilidade, mas uma mais-valia.”

Frank Ferreira considera iminente a nomeação do novo embaixador, dado que se aproxima não apenas a Cimeira da NATO na Europa como o 10 de Junho, altura em que, por norma, a Casa Branca assinala a data com uma Proclamação protocolar.

NOTAS HISTÓRICAS

🇺🇸🇵🇹O segundo representante diplomático americano em Portugal foi outra ilustre figura histórica – John Quincy Adams (o 6.º presidente dos Estados Unidos e filho de John Adams, o 2.º presidente). Nomeado a 30 de Maio de 1796.

John Quincy Adams

🇺🇸🇵🇹A partir de 1893, o posto de representante diplomático em Portugal é elevado ao cargo de Representante Extraordinário e Ministro Plenipotenciário. George William Caruth foi o primeiro nomeado ao abrigo do novo estatuto.

🇺🇸🇵🇹Outros representantes diplomáticos de prestígio enviados a Lisboa foram Herbert Claiborn Pell (1937-41), patriarca de uma das mais conhecidas famílias políticas em Rhode Island e Robert Guggenheim (1953-54), membro da proeminente família Guggenheim, de Nova Iorque, ligada ao mundo das artes e da finança.

🇺🇸🇵🇹O mais conhecido embaixador norte-americano, contudo, é mesmo Frank C. Carlucci, que desempenhou as funções de 24 de Janeiro de 1975 a 5 de Fevereiro de 1978, durante um conturbado período histórico político português.

Frank Carlucci

🇺🇸🇵🇹Foi o democrata Bill Clinton quem nomeou a primeira mulher para o cargo de embaixadora em Portugal, mandando para Lisboa a advogada Elizabeth Frawley Bagley, que esteve em funções de 1994 a 1997.

Elizabeth Frawley Bagley

🇺🇸🇵🇹A partir de 1882, os representantes diplomáticos americanos em Portugal passaram a designar-se Ministro Residente/Cônsul Geral. Uma década depois, passavam a Representante Extraordinário e Ministro Plenipotenciário.

🇺🇸🇵🇹Só em 1944, em plena 2.ª Guerra Mundial, o cargo de representante diplomático sobe a Embaixador – com Raymond Henry Norweb a tornar-se no primeiro a ocupar o cargo.