CARLOS QUEIROZ: ‘Futebol internacional corre graves riscos’

Carlos Queiroz completou quarta-feira, 1 de Março, 70 anos, 40 de carreira, e assinalou a efeméride com uma entrevista à federação do Qatar, na qual o português aponta o pai como principal referência e considera que o futebol internacional corre graves riscos.

“No princípio treinavam-se heróis ingénuos e românticos. Depois começámos a chamar-lhes profissionais. Mais adiante começámos a treinar milionários. Hoje treinamos autênticas empresas, verdadeiras companhias, com interesses diferenciados e por vezes até antagónicos na mesma equipa”, afirmou o treinador português, actual seleccionador do Qatar.

Queiroz, que assumiu a selecção após o Mundial2022, considera que se cedeu “espaço de importância e território de intervenção aos chamados agentes do futebol e aos media em geral, que se impõem numa postura e posição perversamente confortável: agentes que curiosamente nunca perdem jogos, mas que também nunca ganharam nenhum”.

“Aos treinadores cabe sempre, por responsabilidade e exigência própria, cuidar da génese do jogo e da sua única verdade aceitável: os três pontos. E, por isso, a eles compete trabalhar o progresso, defendendo e promovendo ao mesmo tempo esse conceito sublime de triunfar em equipa, e ao mesmo tempo zelar pela ética fundamental do jogo”, disse.

Carlos Queiroz afirma que quando olha para o futebol contemporâneo não sabe bem do que se trata, nem se se pode chamar do mesmo futebol, mas ainda encontra “vestígios da ética do futebol original, do seu romantismo”, mas prefere chamar-lhe hoje “o jogo do ‘winning business’, ou de uma outra coisa qualquer”.

“Antes, primeiro criavam-se os troféus, as competições e logo as mais-valias financeiras e o mérito eram atribuídos aos campeões. Hoje criam-se e calculam-se mais-valias financeiras, e logo, lhe atribuímos o nome de um troféu qualquer. Daí, o futebol internacional de selecções e de clubes correr graves riscos”, considera.

O treinador português passou em revista as suas principais memórias no futebol, em que viveu momentos únicos junto daqueles que têm vindo a constituir-se como as suas “famílias do futebol” (dirigentes, técnicos e jogadores), e destacou três marcos na sua carreira e na sua vida profissional.

Carlos Queiroz, que foi seleccionador português em dois períodos (1991/93 e 2008/10), assumiu a selecção do Qatar após deixar a do Irão também após o Mundial, para o qual tinha sido contratado em substituição do croata Dragan Skocic.

Ao longo da sua carreira, Queiroz orientou seis selecções, tendo passado pelo comando dos Emirados Árabes Unidos (1999), África do Sul (2000 a 2001) e Colômbia (2019 a 2020), além de Portugal (1991 a 1993 e 2008 a 2010), Irão (2011 a 2019 e 2022) e Egipto (2021 a 2022).

Depois de conquistar dois mundiais de sub-20 com Portugal, em 1989 e 1991, com a denominada ‘geração de ouro’, Queiroz foi o escolhido para levar a selecção principal ao Campeonato do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, mas falhou o objectivo e abandonou o cargo, na altura, com críticas fortes à Federação Portuguesa de Futebol (FPF).