CARLOS QUEIROZ LEMBRA ‘GERAÇÃO DE OURO’: Trinta e seis futebolistas tornaram-se treinadores
Vinte e cinco dos 36 futebolistas portugueses campeões mundiais de sub-20 em 1989 e 1991 já trabalharam em equipas técnicas de clubes ou selecções, tendência nada inesperada para o então seleccionador luso Carlos Queiroz.
“A apetência normal e comum dos ex-jogadores é quererem ser treinadores. Isto já foi mais do que agora, porque nem todas as pessoas têm essa vocação. Uma coisa é certa: quando acabam as carreiras, estão mais à vontade para definir os objectivos de vida consoante as suas motivações pessoais e familiares”, notou à Lusa o treinador.
Filipe Ramos e Rui Bento, ambos vitoriosos no Mundial de 1989, na Arábia Saudita, são os actuais seleccionadores de sub-20 e sub-19, respectivamente, enquanto Emílio Peixe, considerado o melhor jogador do torneio de 1991, em Portugal, comanda os sub-18.
“Quando voltei à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em 2008 e me pediram para rever as plataformas de funcionamento que lá estavam desde que saí em 1993, decidi abrir a porta a jovens treinadores que tinham feito carreiras brilhantes no nosso futebol e tinham esse sabor de campeões europeus e mundiais debaixo da boca”, rememorou.
A intenção de Carlos Queiroz era consciencializar as novas fornadas de talentos para a necessidade de corresponderem a elevados padrões de exigência, usando ex-atletas convertidos em treinadores para “transmitir imagens emocionais de ambição e glória”.
“Claro que os títulos fazem crescer e são sabores que nos ficam para sempre debaixo da língua. Ser campeão em qualquer coisa é como um estupefaciente: temos de conviver com ele até ao resto da nossa vida. É isso que nos faz ir lá abaixo e querer treinar mais para que esse sabor nunca mais termine. Agora, não foram estes títulos que criaram grandes ilusões neles. O sonho começa quando querem ser profissionais”, defendeu.
Parte do lote de campeões entregou-se a funções directivas em clubes portugueses ou trabalha no agenciamento de futebolistas, ao passo que outros desligaram-se de vez, após trajectos nos relvados bem distintos quanto a sucesso desportivo e mediatismo.
“Ninguém me surpreendeu pela positiva, porque esperei sempre e imaginava um futuro risonho e brilhante para todos eles. Talvez uns mais e outros menos, mas tive a ideia de que todos eles iriam cumprir o sonho que os fez levar ali. Só que depois vem a vida, rígida e sólida, abana e às vezes tem buracos pelo meio”, admitiu.
Como em tudo na vida, “nem todos chegam aos sonhos”, penalizados por “lesões e infelicidades de carreira” ou “metendo a mão na consciência por razões mais próprias”, panorama que não impede Carlos Queiroz de designar todos como “lutadores da vida”.