CNE já prevê recorde de 400 mil votos de emigrantes (e agora, mais do que nunca, os resultados podem desempatar PSD e PS)
Até quarta-feira, a CNE tinha já recebido cerca de “286 mil votos”, avançou ao Expresso o porta-voz da Comissão, Fernando Anastácio. O último relatório confirma que o ritmo a que chegaram os votos aumentou bastante desde o início da semana (na segunda-feira eram 211 mil), batendo todos os recordes de anteriores legislativas: os 221 mil das eleições de 2022 — que acabaram reduzidos a 173 mil depois de um diferindo entre PS e PSD que obrigou a nova votação no círculo da Europa.
Faltando ainda 4 dias para receber votos e tendo em conta o ritmo a que chegam, normalmente por via postal, o porta-voz da CNE admite que “por este ritmo, e a manter-se, é muito possível chegar-se aos 380/400 mil”. Serão, em qualquer caso, os votos mais importantes de sempre dos emigrantes. É que, até aqui, o PS elegeu 77 deputados e a coligação de centro-direita 79, mas, tendo em conta que, pela lei em vigor, as coligações pré-eleitorais acabam no momento da eleição e acrescentando que o CDS tem dois eleitos, estamos ainda perante um empate em mandatos entre os dois maiores partidos: 77 para o PSD e 77 para o PS. De repente, face aos mais de 300 mil votos que chegaram dos emigrantes, até os 51.385 que separam a AD do PS em termos nacionais podem — pelo menos em teoria — ser poucos para o centro-direita dar por garantida a vitória.
De acordo com os dados a que o Expresso teve acesso, entre os que já chegaram — e ainda não foram contados —, a esmagadora maioria vem da Europa (82%) e 16% do continente americano, de onde chegou a maior parte dos remetidos nos últimos dias, quase todos por votação postal (houve 5200 emigrantes apenas a pedir para votar presencialmente). Até aqui, destacam-se os votos recebidos de França (83 mil), Suíça (43 mil), Reino Unido (31 mil), Brasil (21 mil), Alemanha (20 mil), Luxemburgo (13 mil) e Canadá (11 mil).
Com o Presidente da República a receber, um a um, os partidos e coligações eleitos em Belém, mas estando a contagem destes votos marcada apenas para de 18 a 20 deste mês, o Livre pediu esta quarta-feira a Marcelo Rebelo de Sousa que volte a chamar todos os líderes partidários para uma segunda reunião de avaliação dos resultados — e das suas consequências.
O Livre já avisou o PR que deve voltar a ouvir os partidos depois de contados os votos da emigração
“Tivemos esta audiência num momento em que ainda não estão contados todos os votos da nossa comunidade, que ainda tem um peso, não só matematicamente, com hipótese bem realista de poder alterar o resultado final das eleições”, disse Rui Tavares à saída da audiência, reforçando que “não é líquido que força política sairá vencedora das eleições”. A solução governativa, frisa, deve ter como base o “bloco político mais amplo e coeso” (direita moderada ou esquerda).
Com o PSD cauteloso e em silêncio, o PS resiste mais à ideia de um volte-face. Os socialistas leem o aumento de votos como reflexo do que aconteceu no território português e admitem até como provável a eleição de um deputado para o Chega no círculo Fora da Europa à custa do lugar de Augusto Santos Silva — alegadamente por uma comunidade mais bolsonarista no Brasil.
As expectativas baixas explicam, em parte, a forma como Pedro Nuno Santos reconheceu a derrota na noite eleitoral de domingo, vincando um dos critérios possíveis para a indigitação do novo primeiro-ministro — não o de quem tem mais deputados, mas o de quem teve mais votos: “Tudo indica que o resultado não permitirá ao PS ser o partido mais votado.”
O Presidente, em qualquer caso, decidiu chamar Luís Montenegro a Belém, para consulta pós-eleitoral, em último lugar e como representante da AD, e não do PSD (ao contrário do que fez, por exemplo, em 1999, quando recebeu isoladamente Os Verdes, que iam coligados com o PCP). O argumento — contestado por constitucionalistas como Vital Moreira — poderá ser o de que o CDS não tem agora nenhum deputado na AR, mas serve como uma luva para o cenário de uma improvável reviravolta nos resultados da emigração.
De resto, como noticiou a SIC-Notícias esta quinta-feira, só há um cenário em que Marcelo admite reabrir as contas que fez a esta eleição: caso haja um empate em deputados entre PS e… AD.