CONSTRUTOR PORTUGUÊS VIU REDUÇÃO DE 95% NO VOLUME DE TRABALHO E ESTIMA PREJUÍZOS DE $110 MILHÕES
Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
Quando a pandemia da COVID-19 obrigou à suspensão de actividades no sector das obras em Boston, o construtor português António Frias, 82, estava envolvido num mega projecto na capital de Massachusetts – o Winthrop Center, orçado em 1,4 mil milhões de dólares.
“O nosso volume de trabalho viu uma redução na ordem dos 95%”, revela o empresário, que continua à cabeça da S&F Concrete, com sede em Hudson, onde tem sociedade com um irmão. “Está quase tudo parado. Vamos fazendo pequenas obras com os 5% de mão-de-obra que temos no terreno.”
Se tivesse de calcular o prejuízo financeiro da COVID-19 na sua empresa? “Diria na ordem dos 110 milhões de dólares”, dispara.
No entanto, Frias está optimista em relação ao futuro. Acredita mesmo que vão ser poucas as empresas no sector da construção a desaparecer, quando a pandemia passar. “A construção vai ter de recomeçar, mas a recuperação vai ser lenta e gradual. É o motor da economia. É o que mexe com o país.”
❝A SUSPENSÃO DA ACTIVIDADE ECONÓMICA FOI UMA BOA IDEIA, NÃO SE BRINCA COM A SAÚDE❞
➔António Frias, empresário no ramo da construção civil
O empresário acredita que as obras deverão voltar ao normal “dentro de 3 a 5 semanas” na Nova Inglaterra. “Esta suspensão foi uma boa ideia, não se brinca com a saúde. A economia tem o seu peso, mas a vida é mais importante.”
A S&F, considerada uma das maiores empresas no sector de cimento armado na Nova Inglaterra e mesmo no país, tem cerca de 800 trabalhadores, pelo que – explica António Frias – exclui-se das ajudas federais aprovadas pelo Congresso para estimular a economia.
“Estamos a pagar a muitos dos empregados por forma a mantermos a nossa equipa intacta”, explica o empresário.
O impacto da pandemia vai fazer-se sentir com mais evidência em sectores como a restauração e viagens, analisa, “mas mesmo nós na construção iremos ter de nos adaptar a novas regras, sobretudo normas na área da higienização – muito embora já tivéssemos grande parte delas implementadas.”
❝VAI-SE FAZER O MELHOR QUE SE PODE E HAJA FÉ, QUE É O QUE NOS SALVA❞
➔António Frias, empresário no ramo da construção civil
De quarentena em casa (o filho Rodney, vice-presidente da firma, é quem vai ao escritório), António Frias também prevê que “os apertos de mãos e cumprimentos com beijinhos vão desaparecer. Vai-se fazer o melhor que se pode e haja fé, que é o que nos salva.”
O industrial, que nasceu em Santa Maria, Açores, criou empresa de construção civil em 1965 com apenas 2 mil dólares e hoje factura milhões. A empresa do imigrante português foi fundamental na construção de elementos arquitectónicos que definem Boston, da luxuosa torre Millennium (o edifício residencial mais alto da capital de Massachusetts), ao Ray & Maria Stata Center do Massachusetts Institute of Technology, desenhado pelo arquitecto-estrela Frank Gehry, passando pelo Gillette Stadium, TD Bank Center, Fenway Park e muitos outros.