Cortes e restrições decretadas por Presidente dos EUA pairam sobre Cimeira Empresarial com África

 A 17.ª edição da Cimeira Empresarial EUA-África arranca domingo em Luanda num momento crítico das relações entre Washington e o continente africano, depois do Presidente norte-americano, Donald Trump, tem promovido uma série de cortes e medidas hostis.

O comércio total de bens dos Estados Unidos (EUA) com África foi estimado em 71,6 mil milhões de dólares (61,9 mil milhões de euros) em 2024, segundo dados do Governo norte-americano.

Uma aproximação estratégica entre África e os EUA foi reforçada durante a Presidência de Joe Biden (2021-2025), que no ano passado realizou uma visita histórica a Angola – a primeira de um Presidente norte-americano em funções.

Uma das maiores apostas de Washington em África tem sido o Corredor do Lobito, uma infraestrutura ferroviária que liga Angola à República Democrática do Congo, Zâmbia e Tanzânia, considerada pelos EUA, UE e seus parceiros regionais como um pilar estratégico para o escoamento de minerais críticos.

Contudo, o regresso de Donald Trump à Casa Branca, em Janeiro de 2025, tem deixado líderes africanos apreensivos com um possível distanciamento, que se vem materializando através de uma combinação de medidas executivas, restrições comerciais e de viagens, e de retórica pública.

No início do ano, o Governo Trump anunciou um corte massivo de vários apoios ao continente africano, incluindo a suspensão de alguns projectos da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) que, entre outros, estavam associados ao Corredor do Lobito e direccionados para o apoio às mulheres agricultoras.

Com o desmantelamento da USAID, foi fortemente afectado o mai-or programa de tratamento do vírus da imunodeficiência humana (VIH) do mundo, com especial impacto em países africanos e que fez aumentar o número de desempregados e o encerramento de clínicas.

Analistas alertaram que estes cortes dos EUA na ajuda ao desenvolvimento podem fomentar uma aproximação dos países da África Austral, região que inclui Angola e Moçambique, à China.

Além da retirada de apoio, Trump, que tem em marcha uma política anti-imigração muito restritiva, assinou no início do mês uma ordem executiva que proíbe viagens para território norte-americano a partir de 12 países, incluindo vários Estados africanos, como Chade, República do Congo, Guiné Equatorial, Eritreia, Somália, Sudão, entre outros.

A tudo isto, juntam-se as tarifas impostas pelos EUA a África.

 Luanda recebe, de 22 a 25 de Junho, a 17.ª edição da Cimeira Empresarial EUA-África, o mais importante fórum de negócios entre os EUA e o continente africano.

Mais de 1.500 participantes – incluindo Chefes de Estado, primeiros-ministros, ministros africanos, altos responsáveis do Governo norte-americano e líderes empresariais dos dois continentes – são esperados.