DA AMÉRICA PARA A MURTOSA: O BARBEIRO LUSO-AMERICANO QUE TROCOU NEW JERSEY PELA TERRA DOS PAIS, ONDE FAZ SUCESSO

Por HENRIQUE MANO | News Editor

Aos 33 anos, o luso-americano Nathan Michael Ferreira encontrou a realização profissional na terra dos pais – a 3.373 milhas de distância de New Jersey, nos Estados Unidos, onde nasceu. E foi ao fazer o caminho inverso, de cá para lá, que também encontrou a estabilidade emocional e o seu lugar no universo.

Apesar de ter trabalhado em salões de beleza nas melhores zonas de New Jersey, de Summit a Montclair, de ter penteado modelos para a Semana da Moda em Nova Iorque e de ter feito formação com a Wella no Rockefeller Center, Nathan Ferreira descobriu o seu nicho na Murtosa – de onde os pais são originários. É em Pardelhas, na Praça Almirante Jaime Afreixo, onde o jovem luso-descendente mantém aberto o seu salão – Nathan Michael Modern Barbering & Hairdressing.

Foto: CORTESIA NATHAN FERREIRA | O profissional de barbearia Nathan Michael Ferreira

Apesar de ter descoberto que o Portugal real não é o País que os emigrantes visitam na peregrinação anual de Agosto, Ferreira depressa se habituou ao quotidiano na Murtosa, tendo hoje uma carteira de clientes volumosa (“chegam a ter de fazer marcação com três semanas de antecedência”, conta, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO).

Foto: CORTESIA NATHAN FERREIRA | Aspecto do seu salão de beleza em Pardelhas-Murtosa, Portugal

💈O COMEÇO EM NEW JERSEY

A sua trajectória de vida é igual à de tantos outros luso-descendentes. Nasceu no Hospital Saint Barnabas, em Livingston, NJ, filho de emigrantes de Bunheiro (o pai) e da Murtosa (a mãe). Até ao 3.º ciclo, viveu em Harrison, altura em que a família se muda para Union, onde completa o liceu.

“A minha mãe é cabeleireira e um dos meus melhores amigos na escola era barbeiro, pelo que, aos 15 anos, comecei a cortar cabelos em casa”, conta Nathan Ferreira, explicando a escolha de ocupação profissional.

Foto: CORTESIA NATHAN FERREIRA | Um dos seus clientes

Resolve inscrever-se na Parisian Beauty Academy Paul Mitchell Partner School, em Hackensack, NJ, onde tira o curso de cosmetologia “nas suas diversas vertentes, do corte de cabelo para homem e mulher à maquiagem, pedicure e manicure”.

Começa carreira como estagiário num salão em Hoboken, em 2007, onde permanece 9 meses; passa depois por outro estabelecimento em Summit, onde está 3 anos, e, finalmente, trabalha 5 anos em Montclair antes de, aos 26, iniciar a sua aventura por Portugal.

💈A HABITUAÇÃO À MURTOSA

“No primeiro ano, atendia em casa, à medida que fui construindo clientela”, diz. “Depois, chegou a um ponto que não o pude fazer mais em casa e aluguei um pequeno estúdio. Quando a COVID bate, tive de mudar para as actuais instalações, em Pardelhas, no  centro da Murtosa”.

Muito embora não tivesse ido para Portugal com a ideia de aí permanecer, o crescimento rápido do negócio fez com que fosse adiando o regresso “e agora estou cheio de trabalho!”

Nathan Ferreira considera o seu salão “um espaço onde posso executar a minha arte”. O profissional luso-descendente, que atende homens e mulheres, considera ter sido importante levar dos EUA uma forma nova de trabalhar – “pelo menos na zona da Murtosa. As pessoas queriam experimentar uma coisa nova e eu trouxe algo de novo para aqui. Isso também me ajudou um pouco a estabelecer-me, foi uma novidade, mas, por outro lado, esforcei-me para atingir aquilo que tenho hoje em dia, não foi só por ter vindo de fora. Se chegasse aqui e não fizesse um serviço em condições, também não durava tanto”.

💈ENTRE A CLIENTELA, OS EMIGRANTES QUE VÃO DE FÉRIAS A PORTUGAL

Quem também o procura na Murtosa, são luso-americanos de férias em Portugal. “Agora faço casamentos de emigrantes portugueses nos EUA aqui em Portugal”, afirma. “Cheguei a ir a um em Braga onde tive 15 clientes. Desde há 5 anos que faço esse tipo de serviço e, na sexta-feira, tenho 17 clientes para atender que vêm dos Estados Unidos a um casamento cá e que me contrataram”.

“Estou a pensar em lançar-me noutros projectos, sobretudo na área de formação de profissionais neste ramo”, revela.

Depois do período de habituação a Portugal, Nathan Ferreira reconhece que, “agora, quando vou aos Estados Unidos, até sinto um bocado de tédio, não tenho nada para fazer porque a minha vida está aqui. Para já não tenho planos de regressar, mas nunca digo nunca…”.

Aliás, o profissional de barbearia, que já não vem aos EUA desde que a COVID surgiu, planeia uma viagem a New Jersey (onde ainda tem os pais e uma irmã) por altura do Thanksgiving.

A terminar, faz questão de lembrar que o facto de ter tido o cantor Fernando Daniel, que é natural de Estarreja, como cliente, “me ajudou a abrir portas e a estabelecer-me aqui como barbeiro”.