Designer de Lagos usa ‘naperons’ e edredons em peças desperdício zero

Uma ‘designer’ de moda de Lagos, no Algarve, está a produzir peças de vestuário com desperdício zero, usando ‘naperons’, edredons, lençóis e desperdício têxtil como matéria-prima e técnicas amigas do ambiente como o ‘smock’, bordados e crochê.

É no seu estúdio, na Praia da Luz, que Jéssica António, de 28 anos, produz as peças à mão, algumas com tecidos que compra, mas também com material que tinha em casa, que recebe de outras pessoas e de uma loja de segunda mão em Lagos, que lhe doa vestuário de tamanhos muito grandes ou que não consegue vender.

“Temos algumas peças que são 100% zero desperdício, usando algumas técnicas, como o ‘smock’, que é uma técnica inglesa, que utilizo em muitas das peças”, refere, explicando que se trata de uma técnica “muito delicada”, que aprendeu na Dinamarca, em que se usa uma pequena máquina manual com agulhas curvadas para produzir detalhes para as peças e acessórios.

Sob o nome J-ANT – a marca de ‘slow fashion’ que Jéssica começou a desenvolver em 2020, a ‘designer’ vende as peças no ‘site’ da marca e em algumas plataformas in-ternacionais, sobretudo a estrangeiros, como americanos ou japoneses, ou residentes em Portugal, como britânicos ou russos, uma vez que tem sido difícil, para já, alcançar o mercado nacional.

“A maior parte dos clientes são estrangeiros. Os portugueses mostram interesse, mas temos de ser realistas: talvez não tenham como gastar numa peça destas”, nota a estilista, definindo o estilo das suas criações como “raw” (cru, em português) e um “luxo relaxado”, em que predominam os tons neutros, com um toque romântico e tradicional.

Na sua coleção – em que só usa tecidos naturais como o algodão, linho, lã ou seda -, há casacos que são literalmente edredons reutilizados, usados também noutras peças, como ‘tops’ e ‘bustiers’ e, em breve, malas, além de ‘naperons’ convertidos em ‘tops’ e outras peças feitas a partir de lençóis.

“Também utilizamos muito os fatos de homem, que são desconstruídos para recriar novas peças”, como o ‘blazer’ que Carolina Deslandes vestiu recentemente num programa de televisão e que, depois de a cantora ter divulgado a marca, fez com que Jéssica aumentasse a sua visibilidade nas redes sociais.

Aos 12 anos, a ‘designer’ foi viver com a mãe para a Holanda, onde aprofundou o gosto pela moda que já vinha desde o tempo em que fazia roupa para as suas bonecas e onde tirou o curso de Moda e Design. Mais tarde, fez estágios em Copenhaga, na Dinamarca, e na cidade espanhola de Barcelona.

Foi depois de ter voltado para Portugal, em 2019, que decidiu colocar à venda numa plataforma ‘online’ peças que tinha desenvolvido quando terminou o curso, em 2017, tendo ficado surpreendida com o elevado valor que conseguiu por um casaco, o que a levou a pensar que deveria ter a sua própria marca.

No entanto, depois de ter vivido fora tantos anos, Jéssica admite que teve de se adaptar à realidade portuguesa, país onde desenvolver uma marca é “completamente diferente” daquilo a que estava habituada, uma vez que a indústria é “mais limitada” e onde praticamente não se consegue estabelecer parcerias sem custos.

Outro obstáculo é a recolha e seleção de desperdício têxtil a que Jéssica dá uma nova vida: “em Portugal é um pouco difícil conseguir este material. Na Holanda, toda a gente, quase todos os anos, faz a limpeza às casas e temos imensos edredons que podemos usar. Aqui em Portugal é muito limitado”.

O facto de as peças serem produzidas à mão, únicas, muito detalhadas, e com uma atenção especial nos acabamentos interiores – o ‘blazer’ que Carolina Deslandes usou, por exemplo, exigiu uma dedicação de mais de dois dias, havendo peças que demoram ainda mais -, faz com que as peças atinjam valores que já se enquadram num mercado de luxo.

As mais baratas são os acessórios, que começam nos 60 euros, havendo ‘tops’ em crochê que custam a partir de 120 euros e casacos com valores entre os 950 e os 2.000 euros.

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