🌎 DOIS IRMÃOS DE FARDA, COM RAÍZES NO MINHO, AO SERVIÇO DA MAIOR CIDADE DA AMÉRICA

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Quando José Pereira Dias e Rosa Machado Dias imigraram para os Estados Unidos, trocando Vila Verde, no distrito de Braga, pelo bairro nova-iorquino de Queens, estavam longe de imaginar que iriam ver os dois filhos de farda, ao serviço da maior cidade da América.

José Filipe Dias, o mais velho, de 33 anos, é hoje sargento da NYPD (New York Police Department), uma autêntica instituição nacional desde 1845 com mais de 38 mil agentes na rua a defender a lei e a ordem.

Michael Dias, 30, também optou por uma profissão onde põe os interesses dos outros acima dos seus e tornou-se primeiro paramédico, depois bombeiro, sempre na não menos emblemática FDNY (Fire Department of New York), onde alinha desde os 21 anos.

Os irmãos Dias nasceram em Queens e falaram sempre português em casa. “Íamos todos os verões de férias a Portugal”, conta o sargento José Filipe Dias, na entrevista que concedeu ao jornal LUSO-AMERICANO. “Hoje o domínio da língua é uma mais-valia no nosso trabalho, tanto para mim, como para o meu irmão.”

Michael Dias na cerimónia de graduação como bombeiro em Nova Iorque, à esquerda, com os pais José e Rosa e o irmão José Filipe, sargento da NYPD

❝HOJE O DOMÍNIO DA LÍNGUA [PORTUGUESA] É UMA MAIS-VALIA NO NOSSO TRABALHO, TANTO PARA MIM, COMO PARA O MEU IRMÃO❞

➔José Filipe Dias, Sargento NYPD

José Filipe Dias fez o liceu na Saint John’s Preparatory School e seguiu depois para o LaGuardia Community College; pensou tirar enfermagem ou educação física, mas teve sempre o bichinho da lei e da ordem dentro de si (“tanto que, aos 17 anos, fiz o teste de aptidão pública de ingresso à polícia”, conta).

Quando, anos depois, é chamado a servir, ingressa na Academia da NYPD em Manhattan, onde recebe treino, e em Julho de 2009 já fazia patrulha pelas ruas da ‘Big Apple’, afecto à 30.ª Esquadra, na zona alta da cidade. Mais tarde passaria pela 44.ª Esquadra, em Bronx, e, ao ser promovido a sargento – em Junho de 2017 – transita para a 30.ª Esquadra, que abrange a área circunscrita a uma estação do Metropolitano em Brooklyn, a Hoyt-Schermerhorn.

“Como sargento, tenho a meu cargo um grupo de cerca de 15 agentes, para além de também fazer patrulha para me certificar de que anda tudo no bom caminho”, explica o sargento José Filipe Dias. “Também é nossa responsabilidade controlar a situação dos desabrigados dentro da estação, verificar se necessitam de ajuda, assim como o bem-estar dos funcionários da MTA, a entidade responsável pelo funcionamento do Metro.”

❝ESTOU, ANTES DE TUDO, FOCADO EM FAZER O MEU TRABALHO E TRATAR TODA A GENTE DA MESMA FORMA COMO GOSTARIA QUE ME TRATASSEM A MIM❞

➔José Filipe Dias, Sargento NYPD

A COVID-19 acresce de responsabilidades – e preocupações – o trabalho do sargento luso-americano, que cumpre em regra o turno das 7:00 da manhã às 4:00 da tarde (em 2018 esteve mais de duas mil horas em funções). “Temos de tomar todas as precauções, sobretudo quando estamos na rua em contacto com o público”, afirma. “O uso de máscara é uma das regras de segurança fundamentais; estou sempre a lembrar aos meus agentes que as normas de segurança, ao serem seguidas, diminuem o risco de podermos expor as pessoas que nos são próximas ao vírus”.

O sargento Dias reconhece que, “a princípio, os meus pais ficaram um tanto apreensivos com as nossas escolhas de carreira, mas hoje agradecem-nos por estarmos em serviço público.”

O luso-americano diz tentar não se impressionar com o peso do emblema que carrega ao ombro. “Estou, antes de tudo, focado em fazer o meu trabalho e tratar toda a gente da mesma forma como gostaria que me tratassem a mim. Isso, para mim, é serviço público.”

❝DESDE MIÚDO QUE O MEU SONHO ERA SER BOMBEIRO E PARAMÉDICO FOI UM BOM COMEÇO PARA MIM❞

➔Michael Dias, Bombeiro FDNY

O irmão, Michael Dias, optou também por uma carreira de entrega ao próximo – mas como ‘Soldado da Paz’. Faz parte da maior corporação de bombeiros profissionais dos EUA, a FDNY, e a segunda do mundo (logo a seguir aos Bombeiros de Tóquio). São mais de 11 mil profissionais nas ruas dos 5 bairros de Nova Iorque, ao serviço de mais de 8,5 milhões de pessoas.

Michael frequentou o Martin Luther High School, em Maspeth, e ainda passou pelo LaGuardia Community College; aos 21 anos, contudo, já era paramédico do FDNY – com formação obtida na Fort Totten Academy.

“Desde miúdo que o meu sonho era ser bombeiro e paramédico foi um bom início para mim”, conta. Dois anos depois, contudo, aos 23, tornava-se bombeiro, afecto à Engine 211-Ladder 119, em Brooklyn, onde ainda está.

O luso-americano é um dos 50 profissionais daquela estação de bombeiros e está treinado para avançar frente às situações de incêndio e fazer não apenas o controlo das chamas, como operações de busca a vidas humanas.

❝QUANTO MAIS SEGUIRMOS AS REGRAS DE PREVENÇÃO À COVID-19, MAIS DEPRESSA SAÍREMOS DISTO❞

➔Michael Dias, Bombeiro FDNY

José Filipe e Michael Dias com os primos Manuel, José e Jason, todos bombeiros em Nova Iorque para a FDNY

O novo coronavírus também impôs mudanças à forma como os bombeiros trabalham. “Antes chegávamos ao local onde a nossa presença nos tinha sido pedida e era só entrar, por exemplo, num edifício; agora têm de se tomar todas as precauções de segurança primeiro. Como bombeiros, estamos na linha da frente e damos os primeiros socorros; ressuscitamos as pessoas por respiração boca a boca, o que nos pode expor a muitos perigos”, detalha.

Casado, com uma filha, tem procurado manter distância social dos pais – “desde Março que falamos por FaceTime. Durante uns tempos vai ter de ser assim.”

Termina com um apelo: “As pessoas têm de levar esta situação mais a sério: uso de máscaras, higienização das mãos, evitar andar em multidões e perceber que, quanto mais seguirmos estas regras, mais depressa saíremos disto.”