DUPLO ATLETA OLÍMPICO: ❝CADA VEZ ME SINTO MAIS ORGULHOSO DAS MINHAS RAÍZES PORTUGUESAS❞

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Aos 21 anos, o “sonho de vida” do luso-descendente Donn Cabral tornava-se realidade: representar os Estados Unidos, a maior potência desportiva do mundo, nos Jogos Olímpicos. “Tinha terminado a universidade e, semanas depois, qualificava-me para ir às olimpíadas de Londres, em 2012”, lembra Cabral, que compete numa modalidade olímpica do atletismo com obstáculo em 3000 metros, ‘steeplechase’. “Era tudo com que sonhava! A bem dizer, a ambição de qualquer atleta de excelência é chegar aos Jogos Olímpicos. No meu caso, desde pequeno que esse era um objectivo de vida e tê-lo conquistado aos 21 anos, é uma autêntica loucura.”

O luso-descendente repetiria a proeza quatro anos depois, ganhando o passaporte para os jogos do Rio de Janeiro, em 2016. “Adoro culturas diferentes, idiomas, conhecer pessoas e então só estar nos Olímpicos, rodeado de todas aquelas bandeiras e culturas, foi fantástico”, diz Donn Cabral. “Procurava sempre conhecer outros atletas, fazer amizades e experimentar culinárias distintas.”

As suas comitivas aos jogos incluíam não apenas o seu treinador, como a família – “os meus pais, tios, iam todos”.

O luso-americano não se qualificou este ano para a ‘Team USA’, “mas daqui a três anos volto a tentar”, garante.

Donn Cabral nasceu há 31 anos em Hartford, no estado de Connecticut. É o bisavô Manuel Cabral, natural da ilha açoriana de São Miguel, quem inicia o ciclo emigratório para a América, “no início do século passado”, revela o atleta olímpico, “radicando-se em Taunton, MA.” O avô de Donn, John Cabral, muda-se para Connecticut – one chegaria a ter um bar – e é aí que nasce John Cabral, o pai do atleta. “Sabemos que o meu bisavô chegou a levar o meu avô aos Açores, para ele conhecer a terra das origens”, revela.

Donn Cabral cresceria nos arredores de Hartford, Glastonbury, onde aliás fez o liceu. “Sempre pensei que o futebol, ou o basquetebol, me iriam levar um dia aos Jogos Olímpicos”, nota. “Como jogava futebol, achava que, para ser um bom futebolista, tinha também de saber correr. E foi assim que, no primeiro ano do liceu, me liguei ao atletismo. Acabo por descobrir que não só gostava de correr, como até era bom naquilo. E fico no atletismo.”

O resto é história…

Quando se qualificou para os jogos do Rio, Donn Cabral decidiu aprender português. “Contactei a Berlitz e tive aulas ‘one-on-one’ durante semanas. Também me motiva o facto de nunca ninguém na minha família ter aprendido o idioma – o meu pai sabe dizer coisas tipo ‘chouriço’ e ‘linguiça’. Pensei que também seria giro saber português, para me aproximar mais das raízes e ainda desfrutar da experiência olímpica no Rio.”

Por saber o idioma de Camões, pôde levar um técnico brasileiro de reparações técnicas ao quarto da ginasta Simone Biles – “só me apercebendo que era o seu quarto quando lá cheguei.”

Sobre o facto de não se ter qualificado para Tóquio, diz ter ficado com um sabor “agridoce” na boca. “Fiquei em sexto lugar e só os três primeiros vão os jogos; tenho, contudo, muito orgulho do trabalho que fiz e ter ido a dois olímpicos é obra.”

Donn Cabral entrou este ano para a ordem dos advogados de New Jersey e tem como meta profissional poder também exercer um dia em Nova Iorque e Connecticut. “Veremos como será trabalhar e treinar ao mesmo tempo”, diz.

O atleta reconhece que “ser português é o que me distingue como pessoa, é a identidade que assumo, o que digo aos outros que sou, ao que me sinto mais ligado. Mesmo a nível desportivo, é o que me abre portas para conhecer outros atletas. Apesar de não ter crescido num lar tipicamente português, cada vez me sinto mais orgulhoso das minhas raízes lusas.”

Cabral já conhece, aliás, Portugal continental – “estive em Lisboa, Algarve e fui até Coimbra, onde visitei a Capela dos Ossos”, conta. “A minha irmã e a minha mãe também já lá foram, agora quero levar o meu pai aos Açores.”

UMA CARREIRA OLÍMPICA

🌐Esteve nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e também se qualificou para os do Rio de Janeiro, em 2016.

🌐É um craque em atletismo, especializado numa prova de obstáculos (steeplechase) na sua categoria mais importante, a dos 3 mil metros.

🌐Nascido a 12 de Dezembro de 1989, fez o liceu em Glastonbury, na zona metropolitana de Hartford – onde está concentrada uma importante comunidade lusa.

🌐Com um bolsa de estudos mercê do seu talento como atleta, ingressou na Princeton University, em New Jersey, onde tirou um mestrado na área de económicas.

🌐Passou ainda pelas School of Law e School of Business da UCONN, em 2017, a completar um duplo mestrado – tendo completado um estágio no gabinete do Procurador-Geral do estado de Connecticut.

🌐O luso-americano começou a correr na equipa do liceu em Glastonbury; mais tarde, em Princeton, também fez parte da equipa de atletismo, chegando ao estatuto ‘All-American’ em vários competições.

🌐Em 2012, foi campeão nacional de ‘steeplechase’ da NCAA – o que lhe abriu portas para os Jogos Olímpicos de 2012. 

🌐A popularidade do atleta chegou aos píncaros em 2018, quando a cadeia de comida rápida KFC o convidou a ser estrela de um dos seus anúncios publicitários…