É FILHA DE EMIGRANTES DE LEIRIA, VIVE EM WASHINGTON, DC E JÁ CONHECEU 5 PRESIDENTES AMERICANOS
Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
Apesar de ter nascido em França filha de emigrantes de uma vila perto de Pombal, distrito de Leiria, a empresária portuguesa Natália Luís é washingtoniana de alma e coração. Para além de viver numa zona nobre da capital dos Estados Unidos, “a menos de cinco minutos do edifício do Capitólio”, a CEO de uma empresa no ramo da construção civil e pesada [www.mluisconstruction.com] participa com fervor na vida política que se respira em Washington, DC – fazendo por exercer os seus direitos e deveres como cidadã da pátria que o destino lhe colocou no caminho.
“Washington, DC é uma cidade fantástica para se viver e criar família”, garante Natália Luís, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “A maior parte dos museus são grátis, o Kennedy Center oferece um programa artístico e cultural com eventos quase todos os dias, temos parques com festividades a toda a hora, as embaixadas proporcionam inúmeras actividades, enfim, temos acesso a um ambiente culturalmente diverso que nos enriquece enquanto seres humanos”.
➝FAMÍLIA PORTUGUESA ACTIVA E PARTICIPANTE NOS MEANDROS POLÍTICOS
Parte de uma família portuguesa com consciência cívica que participa no processo político americano desde que o falecido presidente George H. Bush ocupou a Casa Branca, Natália Luís – que se assume “independente desde há décadas” – está habituada a entrar no 1600 da Pensilvânia Avenue; afinal, a bem sucedida empresária conhece 5 presidentes (George H. Bush, Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump). Obama chegou mesmo a escolher a firma dos Luís em Maryland para apresentar uma das suas iniciativas de apoio ao pequeno e médio empresariado e Trump escolheu Natália para estar no Salão Oval a seu lado numa das vezes em que fez passar uma das suas ordens executivas.
Quando apoiantes do presidente Trump invadiram o Capitólio, interrompendo a sessão conjunta das duas câmaras do Congresso onde era validada a vitória eleitoral de Joe Biden, no passado dia 6, Natália Luís fazia anos e estava com os pais nos arredores de Washington, DC (muito embora o marido e os dois filhos adolescentes tivessem ficado na capital). “Foi uma pessoa amiga que me contactou a avisar do que se estava a passar”, conta. “É realmente um momento muito triste este que se está a viver na América. Washington, DC parece uma zona de guerra: há polícia por todo o lado, membros da Guarda Nacional, a Pensilvânia Avenue está praticamente deserta, lojas encerradas. Como americanos, não vamos poder participar numa cerimónia que é tradicionalmente festiva e já faz parte dos costumes políticos deste país – a passagem pacífica do poder de um presidente para outro. É sabido que, por causa da COVID, as cerimónias deste ano não seriam as mesmas, mas não podermos sair à rua pelo perigo de ameaças de violência à nossa integridade física? Isto é inaceitável numa democracia como a nossa.”
➝O 6 DE JANEIRO NÃO REPRESENTA A FIBRA DA AMÉRICA, CONSIDERA A EMPRESÁRIA
A empresária, que participou já em diversas cerimónias de tomada de posse (um dos filhos, inclusive, António Jorge Monteiro, fez parte do coro da Catedral Nacional que há quatro anos actuou na tomada de posse de Trump), vai quarta-feira ficar em casa em frente à TV “e explicar aos filhos que a transferência pacífica de poderes é um direito fundamental na América e um dos pilares que faz do país um farol de democracia perante o mundo. E que somos mis fortes”, acrescenta, “quando temos dois partidos e mais que uma ideologia a contribuir de forma positiva para o país.”
Natália Luís é dura ao analisar os acontecimentos de 6 de Junho. “Não representam nem de longe aquilo que são os Estados Unidos nem a fibra desta nação. Foi um dos momentos mais baixos da nossa História, uma representação verdadeiramente deplorável do clima de divisionismo que nos está a consumir.”
Vai mais longe e afirma: “Estou mesmo em crer que estamos actualmente num estado de Guerra Civil não declarada.”
➝A PRESIDÊNCIA, COMO INSTITUIÇÃO, DEVE SER RESPEITADA POR TODOS
Natália tinha 7 anos quando os pais, Manuel e Albertina Luís, emigraram para Kensington, Maryland, com carta de chamada de um tio já ali estabelecido. “Nasci em Franca mas estive em Portugal dos 3 aos 7 anos”, conta. A empresária hoje é co-CEO, a par da irmã Cidália (também residente em Washington, DC), de duas firmas sediadas em Maryland – a M. Luís Construction e a M. Luís Products, criadas pelos pais na década de 80.
Para Natália, “todos nós, cidadãos ou não, que vivemos nos Estamos Unidos, temos por obrigação respeitar a instituição q ue representa a Presidência”, nota. “Quem quer que seja que ocupe aquele lugar, vai precisar da ajuda de todos.”
Como mulher em posição de chefia num sector profissional ainda muito dominado pelos homens – a construção civil e pesada, Natália Luís diz-se “em êxtase” com a subida de Kamala Harris ao cargo de vice-presidente. “Para além de assertiva, tem dedicado toda a sua vida ao serviço público e acredito que esteja preparada para enfrentar este desafio. Vindo de uma família multiracial e ela própria fazendo parte de uma família nas mesmas condições, irá entender certamente muitas das questões que neste momento nos dividem como país – nomeadamente as disparidades raciais e económicas.”