É LUSO-AMERICANO O SEGUNDO ELEMENTO EM COMANDO DE UM DOS MAIS INFLUENTES SINDICATOS DE CARPINTARIA DOS EUA
Por HENRIQUE MANO | Edison, NJ
É luso-americano o segundo elemento em comando de um dos maiores e mais influentes sindicatos de carpintaria dos Estados Unidos – o Eastern Atlantic State Regional Council of Carpenters (EASRCC). Anthony Abrantes, natural de Newark, NJ, acumula as funções de secretário-executivo e tesoureiro na alta hierarquia deste organismo com cerca de 43 mil membros em seis estados norte-americanos – New Jersey, Maryland, Delaware, Pensilvânia, Washington, DC, Virgínia e Virgínia Ocidental.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Anthony Abrantes nas instalações do Eastern Atlantic State Regional Council of Carpenters em Edison, NJ
“Como parte das minhas responsabilidades, coordeno o funcionamento de 25 centros de treino, uma equipa de duzentos funcionários, 25 sindicatos locais e 15 escritórios regionais”, detalha Anthony Abrantes, falando em exclusivo ao jornal LUSO-AMERICANO no seu gabinete de trabalho em Linden, NJ. “Somos um dos sindicatos com maior impacto nos EUA precisamente pelo número de membros que aglomeramos e pelo volume de recursos financeiros que possuímos, que nos permite investir em políticos que defendem a causa dos trabalhadores”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Aspecto das instalações do sindicato, onde também funciona um moderno centro de formação
Apesar de ter subido depressa no organograma do EASRCC, Abrantes não esquece as origens. Nasceu no extinto Hospital Saint James, em pleno Ironbound, filho do emigrante português António Abrantes, natural de Girabolhos, município de Seia; a mãe, Teresa, é galega. O líder sindical cresceu em Newark do Norte e, por indicação dos pais, seguiu estudos superiores pela Central Connecticut State University (com uma bolsa por mérito desportivo), Montclair State University e Rutgers University – acumulando ainda acções de formação associadas à Harvard Law, The Wharton School e Cornell.
Do pai, guarda ensinamentos como “trabalhar arduamente, nunca esquecer as nossas origens e sermos sempre uns para os outros”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Anthony Abrantes é o segundo em comando na hierarquia do sindicato
Tendo crescido num lar onde as influências sindicais tinham pesado (“eu via como a minha família tinha muito mais oportunidades por o meu pai ter sido membro do Local 472 e, mais tarde, empresário que dava trabalho a operários sindicalizados”), o destino encarregou-se de o colocar no mesmo caminho… “Comecei a trabalhar numa companhia de construção enquanto procurava emprego, depois da universidade”, conta. “Por inerência, tive de me tornar membro da união de carpintaria”.
Foto: CORTESIA ANTHONY ABRANTES | Com o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o Governador de New Jersey, Phil Murphy
Em 2008, é-lhe oferecida a posição de orientador no terreno, “onde basicamente sensibilizava os trabalhadores para os direitos que os assistiam”.
Antes da ascensão ao actual cargo, foi ainda representante e director político, subindo os vários degraus hierárquicos do EASRCC.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Aspecto do centro de formação em Edison, NJ
“Nessa altura, tal como agora, as minhas funções implicavam criar pontes com políticos dos dois partidos que apostam na protecção da classe operária e do patronato responsável, ajudando a esboçar legislação que vá de encontro a tal”.
Por inerência do cargo, Anthony Abrantes conheceu os últimos três ocupantes da Casa Branca (Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden) “todos os membros dos nossos seis estados nas duas câmaras do Congresso”, nota. “Graças a isso, aprendi que, sem essas ligações, nunca conseguiríamos os benefícios que arranjamos para os nossos membros. Ainda assim, são processos morosos, as coisas não mudam de um dia para o outro”.
Abrantes diz que “grande parte” dos membros do sindicato que representa afectos à área de construção civil pesada é portuguesa, “sobretudo se envolver concreto, a trabalhar para empresas concentradas em New Jersey”.
Na óptica de Anthony Abrantes, a resistência ao movimento sindical parte sobretudo “do patronato, quase sempre por não perceber as vantagens que este traz para todas as partes envolvidas. Por não querer pagar um bom salário, dar seguro de saúde e uma boa pensão para o futuro. Nos EUA, acredite-se ou não, apenas 10% dos empregadores recorre aos sindicatos. O que quer dizer que 90% da força laboral não goza dos benefícios de que desfrutam os nossos membros”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Na sua secretária de trabalho em Edison, NJ
Ao colocar a ganância à frente dos interesses da sociedade, “o patronato não contribui para o fortalecimento da classe média e de uma economia mais robusta”.
Abrantes sublinha que “os sindicatos querem que toda a gente faça dinheiro, nós somos capitalistas. Mas achamos que deve haver um equilíbrio na distribuição dessa riqueza, para que todos ganhem”.
Abrantes, que fala português, diz passar muito tempo no Ironbound – “onde está grande parte dos nossos membros” – e continuar ligado a Portugal, indo mesmo pedir este ano a dupla nacionalidade.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | “Temos cerca de 16 mil pessoas interessadas em juntar-se ao nosso sindicato”
SECTOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL VAI DE VENTO EM POPA
O líder sindical considera que o sector da construção atravessa desde há dois anos um período de muito prosperidade. E a previsão “é de que prossiga nesse caminho”, opima. “Temos mesmo cerca de 16 mil pessoas interessadas em juntar-se ao nosso sindicato”.
Abrantes observa que a construção civil tem atraído muita gente a querer evitar as altas dívidas da frequência universitária. “Mesmo com os juros elevados e a inflação, esta é uma boa opção de emprego”, diz. “ Nem vimos um desacelerar do sector, apesar de algumas obras estarem em stand-by à espera da descida dis juros. Mas isso combatemos porque temos recursos para investir na sociedade e estimular a economia”.