EMIGRANTE MINHOTO DÁ “TOQUE PORTUGUÊS” A NOVO TERMINAL FERROVIÁRIO NO CENTRO DE NOVA IORQUE

Por HENRIQUE MANO | Nova Iorque

Uma empresa luso-americana especializada em serviços de alvenaria de pedra, a JMC Stone Corp., do subempreiteiro minhoto José Araújo, é responsável pela instalação de 55 mil peças de granito e mármore no terminal Grand Central Madison – recentemente inaugurado no coração de Nova Iorque. Para fazer parte do mega-projecto, um dos maiores na área de transportes nos EUA (custou 11,1 mil milhões de dólares aos cofres públicos), a firma sediada em Mineola, Long Island arrebatou um contrato de subempreitada a rondar os $15 milhões de dólares.

“Quando me convidaram a fazer parte do projecto, fiquei radiante, foi daquelas oportunidades que não se podem desperdiçar”, afirma o subempreiteiro de 58 anos, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “Nem cabia em mim de satisfação por saber que iria deixar o nosso nome e, de certa maneira, o da mão-de-obra portuguesa num espaço emblemático desta grande cidade”.

A JMC Stone Corp., criada em 2006, trabalha com construtores e empreiteiros em grandes projectos públicos de construção e engenharia na zona metropolitana de Nova Iorque, fornecendo uma variedade de pedras para uma ampla gama de aplicações. “Os meus grandes clientes são a Autoridade Metropolitana de Transportes [conhecida pela sua sigla em inglês, MTA] e o Departamento de Transportes [DOT]”, sublinha José Araújo

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | José Araújo em Nova Iorque, com a majestosa Grand Central Station por trás

O novo terminal ferroviário, Grand Central Madison, tem 43 metros de profundidade e foi construído numa ampla área de extensão sob a histórica Grand Central Station, na zona “Midtown” de Manhattan; a estação tem uma área total de 65,000 m2, incluindo 11,000 m2 de espaço destinado aos passageiros, para além de 22 elevadores e 47 escadas rolantes.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Uma das entradas para o novo terminal ferroviário em Nova Iorque

Feito a pensar na redução do tempo de viagem entre os vários pontos de Long Island e Manhattan, e para desviar utentes da ultra-congestionada Penn Station (inaugurada em 1910), o terminal serve a linha ferroviária LIRR (Long Island Rail Road) e faz parte do projecto East Side Access, cuja construção arrancou em 2018.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O empreiteiro português José Araujo no interior do terminal Madison Grand Central, que ajudou a construir

José Araújo trabalhara já com a equipa MTA do novo terminal noutras obras, incluindo a da estação do Metropolitano da 86.ª Rua, da nova linha da 2.ª Avenida. “Daí surge o convite para que concorresse à componente pedra da obra”, conta. O contrato é assinado em 2017, com a JMC Stone a começar de imediato o processo de selecção e importação de mármore e granito (que veio do estado de Tennessee, Canadá, Itália e Turquia). “Em 2018 começámos a instalação dos materiais na obra; a nossa actuação toca quase todas as áreas do terminal, das paredes a escadas, pilares, tectos, átrios, etc.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | As escadas rolantes de acesso às plataformas de embarque

Com a sua parte da grande obra concluída há um mês, a empresa luso-americana está agora envolvida em pequenas obras de reparações em 19 estações do Metro de Nova Iorque.

Natural de Arcos de Valdevez, Minho, José Araújo tinha 22 anos (e 7 de escolaridade) quando chegou à América das grandes oportunidades, cheio de sonhos para concretizar. “Tinha feito a tropa em Portugal e trazia uma enorme vontade de vencer, de ter sucesso”, nota. “Nova Iorque foi um casamento perfeito, tudo nesta cidade me estimula – a dinâmica, a diversidade e a forma como acolhem as pessoas.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | José Araujo junto a um dos pilares que revestiu de granito e mármore

A JMC Stone Corp. surge em 2006, em sociedade com o irmão Luís Araújo, “que é responsável pelos nossos projectos mais importantes no terreno. Eu sou o CEO e CFO. A minha esposa Luciane tem a gerência administrativa a seu cargo.” Araújo garante que “cerca de 60% dos seus 45 funcionários são portugueses.”

Entretanto, passa ainda pelo Queensborough College, onde estuda gestão de empresas e estatística – “deu-me autoconfiança e fez-me diminuir o receio ao enfrentar certas situações profissionais”, explica Araújo, que está habituado a lidar com projectos de 200 mil a vários milhões de dólares.

Embora não os tenha utilizado neste projecto, José Aráujo recorre inúmeras vezes à importação de materiais de Portugal – das pedras salgadas ao bianco lago, que o Grupo Galvão exporta.

O subempreiteiro diz que, às vezes, se belisca para acreditar que está sentado à mesma mesa “com arquitectos e engenheiros formados pelas melhores universidades da América, que me dão valor, confiam em mim e me pedem opiniões sobre o melhor a fazer neste e naquele caso. Eles, responsáveis por algumas das maiores obras de engenharia do país, a pedirem a minha opinião! Por vezes tenho de me aguentar para conter as lágrimas… Só na América é que esse valor e essas oportunidades são dadas a pessoas como eu.”

Casado e pai de uma filha de 8 anos, Catarina, e de dois filhos da 1.ª união matrimonial (“o meu filho mais velho é engenheiro na área da segurança laboral e também está na nossa empresa”), José Araújo diz que vai a Portugal “pelo menos uma vez por ano, visito a minha mãe no Minho e, depois, vou pelo país a conhecer outras regiões.”

A sua filosofia de gestão na JMC Stone tem sido: “antes de tudo, está a segurança no trabalho dos nossos empregados, depois a qualidade imprimida à obra e, finalmente, a produtividade.”