EMIGRANTE PORTUGUESA EM NOVA IORQUE FEZ, A PÉ, EM 34 DIAS, OS 800 QUILÓMETROS DO CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA
Por HENRIQUE MANO | Yonkers, NY
Colaboração: JOANA PROENÇA (Correspondente)
Não foi só a fé que levou a emigrante portuguesa Ana Franco, radicada há cerca de três décadas na cidade nova-iorquina de Yonkers, a fazer o chamado “Caminho das Estrelas” – o trajecto francês do Caminho de Santiago de Compostela. “Sou religiosa, sim, mas também o quis fazer para provar que, fisicamente, na minha idade, era capaz. Foi, acima de tudo, uma prova de superação”.
Ao fazer-se ao desafio, Ana Franco optou pelo Caminho de Santiago mais utilizado pelos peregrinos para chegar até ao túmulo do Apóstolo Santiago – uma tradição que remonta à Idade Média, seguindo a Via Láctea rumo à Galiza. “Parti de Saint-Jean-Pied-de-Port, atravessei a cordilheira dos Pirinéus, em França, e a Espanha toda”, conta a emigrante natural de Pedreiras, concelho de Porto de Mós (Leiria), em entrevista aos jornal LUSO-AMERICANO. “Fiz o trajecto sozinha, sem familiares ou amigos; até Santiago, a pé, foram cerca de 800 quilómetros, percorridos em 34 dias”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Ana Franco é natural de Porto-de-Mós e vive há cerca de três décadas em Yonkers, NY
Quando se chega ao destino final, conta, “assiste-se à Missa dos Peregrinos na catedral onde o Apóstolo Santiago está sepultado, o que também fiz”.
Ana Franco diz que o comum dos peregrinos percorre “uma média de 20 a 22 quilómetros por dia. Eu cheguei a fazer 28, 32. Há dias mais complicados, em que se tem de atravessar caminhos montanhosos e enfrentar descidas perigosas”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | No seu regresso, a direcção do PACC de Yonkers fez-lhe uma festa-surpresa
A peregrina reconhece que “convém treinar um bocado” para a (longa) caminhada. “Até as pessoas que treinam não estão, depois, preparadas para o facto de se ter de caminhar muitos quilómetros todos os dias”, nota. “Nem pessoas com físico extraordinário, que vão ao ginásio três vezes por semana… Acabamos todos por ter as mesmas dores, os mesmos problemas nos pés. A fase inicial é mais difícil, mas depois o corpo habitua-se e os músculos ficam com mais força e, pelo final, já é mais fácil”.
Ainda assim, refere que a travessia dos Pirinéus “foi o mais difícil. É sempre a subir e, depois, a descida são dois dias”.
Foto: CORTESIA ANA FRANCO | A peregrina portuguesa fez o trajecto de 800 quilómetros em 34 dias
Outro aspecto a considerar é o alojamento ao longo do Caminho. Ana Franco explica que as opções vão de dormitórios a pousadas, ou “albergues, como lhes chamam em Espanha” – uns de propriedade municipal, outros privados ou regidos pela igreja. A que se juntam casas rurais e pequenos hotéis “que se vão alugando à medida que se percorre o Caminho”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Ana Franco mostra à reportagem do jornal LUSO-AMERICANO documentos da viagem
A experiência foi mais enriquecedora para a peregrina Ana Franco do que imaginava: “encontrei pessoas do mundo inteiro, fiquei muito admirada. Muitos coreanos, australianos, peregrinos da Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos, muitos brasileiros e, claro, franceses e espanhóis. Inclusivamente uma pessoa em cadeira de rodas que todos ajudámos, sobretudo nas jornadas mais complicadas. É uma comunidade muito simples, ninguém julga ninguém, vivemos todos com o temos na mochila”.
Foto: CORTESIA ANA FRANCO | Para Ana Franco, fazer o Caminho foi também uma prova de superação
O Caminho, conta, percorre muitas aldeias rurais que praticamente fecham no inverno e que sobrevivem graças aos peregrinos, tal como igrejas e catedrais.
Ana Franco, que é 2.ª secretária de direcção do Portuguese-American Community Center (PACC) de Yonkers, fez o Caminho com o apoio “a 100%” do marido e dosa filhos.
No regresso a Yonkers, a direcção do PACC ofereceu a Ana Franco um jantar-surpresa onde a felicitou pela aventura e lhe deu as boas-vindas à comunidade onde é muito acarinhada.