ENTREVISTA: Fernando Grilo, presidente da União de Clubes Luso-Americanos de New Jersey
Por HENRIQUE MANO | News Editor
Figura atenta ao movimento associativo, o presidente da União de Clubes Luso-Americanos de New Jersey, Fernando Grilo, é igualmente um observador interessado pela vida política no Bairro Leste.
“Temos de tomar consciência de que votar é a nossa melhor arma”, afirma o emigrante ribatejano de Vila Franca de Xira, convidado pelo jornal LUSO-AMERICANO a comentar as eleições municipais de 10 de Maio em Newark. “Calcula-se que existam de 4 a 6 mil luso-americanos registados para votar no Ironbound mas, na melhor das hipóteses, só 1500 vão às urnas.”
O líder associativo considera a abstenção no Bairro Leste lamentável: “Não podemos continuar assim. A abstenção não nos dá, depois, o direito a fazermos reclamações e exigências perante quem está no poder, tira-nos essa legitimidade. Como eleitores, temos a faca e o queijo na mão, mas não tiramos partido disso.”
O seu apelo é claro: “Registem-se e, depois, votem. Se aqueles que pusermos no poder não corresponderem às promessas feitas, ou não atenderem às exigências do eleitorado, no próximo ciclo eleitoral temos o poder de os tirar de lá.”
Na óptica de Grilo, 71, os últimos anos foram de marasmo político para o Bairro Leste, “o que nos prejudicou. Falta-nos in-fluência política junto dos círculos municipais de poder. O que afectou a nossa qualidade de vida, mesmo apesar de termos sobre nós grande parte da carga fiscal da cidade.
Fernando Grilo emigrou com cerca de 19 anos para os EUA, no longínquo ano de 1969 (com a escola industrial feita). Após um ano em Massachusetts, a família mudou-se para Newark, onde o seu envolvimento associativo se dá pela mão de Pita Ferraz e do Sport Club Português, que o convida a fazer parte da sua direcção – em 1971.
Com passagem pelo Vila Franquense em Portugal, também se envolve no futebol comunitário (primeiro no S.C.P. e, mais tarde, na equipa da Luso-American Fraternal Association). Durante 15 anos, fez parte do grupo de voluntários que ajudou a criar a Escola Portuguesa de St. James, no Ironbound, “com aulas diárias de português.”
Transita depois para a Casa do Ribatejo de Newark, onde é presidente da Mesa da Assembleia Geral desde então.
Quando, em 2008, as autoridades de Newark encerram 4 associações por irregularidades burocráticas, o vereador Augusto Amador inicia um movimento organizado de apoio aos clubes, com reuniões mensais que acabariam por dar lugar à criação da U.C.L.A.N.J., que arrancava à altura com 12 agremiações.
Para Fernando Grilo, uma figura respeitada em New Jersey, a vida associativa “é o meu ócio, sempre gostei de fazer algo sem o interesse monetário por trás, para me sentir útil ao próximo. E, se puder ajudar a comunidade a ter voz junto das autoridades municipais, continuarei a dar o meu contributo.”
Diz ser do tempo em que grande parte dos edifícios na Ferry Street estavam em mãos de portugueses, diz não vislumbrar condições (dada a natureza do estado da imigração actual de Portugal) para que todos os clubes portugueses se mantenham de porta aberta por muitas mais décadas. “A excepção serão os mais antigos, com um espólio maior e condições de sobrevivência”, sublinha. “Mas vai depender muito também da força de vontade do nosso associativismo, que tende a esmorecer. E Deus queria que esteja errado…”.