ENTREVISTA: Rede consular vai ser modernizada com mais meios humanos e tecnológicos, diz secretário de estado das Comunidades
Por HENRIQUE MANO | News Editor
Tal como o jornal LUSO-AMERICANO largamente noticiou, o secretário de estado das Comunidades, Paulo Cafôfo, fez a sua primeira visita aos Estados Unidos da América desde que assumiu o cargo. Para além de uma intervenção nas Nações Unidas numa conferência sobre desenvolvimento e sustentabilidade, o ex-presidente da câmara do Funchal teve um encontro com figuras da comunidade portuguesa no Consulado-Geral em Nova Iorque e esteve nas cidades de Newark e Elizabeth, no estado de New Jersey – terminando este périplo pela Costa Leste em Massachusetts.
“A minha principal missão aqui é, na verdade, o contacto com a comunidade portuguesa, uma comunidade muito diversa que tem evoluído ao longo dos anos”, afirma Paulo Cafôfo, na entrevista exclusiva que concedeu ao jornal LUSO-AMERICANO. “Tem-se adaptado porque o mundo também tem mudado, mas é uma das maiores e das mais significativas comunidades portuguesas do mundo. E, se tem mudado e evoluído, há uma coisa que não muda, que é o seu sentimento relativamente a Portugal, o amor ao nosso país e isso tem de ser rentabilizado porque Portugal é um grande país porque tem esta comunidade enorme – e aqui nos EUA são um milhão e 300 mil pessoas, sensivelmente, que, todos os dias, na sua vida pessoal e profissional, representam o nosso país.”
O secretário de estado sublinha também a “relação já histórica com os EUA”, cujo “futuro constrói-se no presente com a nossa comunidade, da qual nós precisamos para esta viragem para o Atlântico. Portugal, quando esteve virado para o Atlântico, ganhou sempre muito com esta relação – e particularmente com os EUA – e esta relação tem de ser reforçada com base nesta nossa comunidade. É com muito orgulho que eu, como secretário de estado, vejo que estas pessoas, estes portugueses e estas portuguesas, para além de manterem a ligação a Portugal, são o nosso melhor cartão de visita aqui nos EUA. E são o nosso melhor cartão de visita porque representam os valores do nosso povo – os valores da democracia (e têm ajudado a construir os valores de democracia aqui nos Estados Unidos, os valores da tolerância, da liberdade e do diálogo intercultural – tudo bandeiras que são a nossa bandeira qui nos Estados Unidos. Por isso, esta minha vinda cá serve precisamente para valorizar a nossa comunidade e fazer dessa valorização o reforço das nossas relações com os EUA.”
A situação actual da rede consular mereceu vários comentários de Paulo Cafôfo, que reconhece as dificuldades actuais no atendimento ao público e a questão da baixa remuneração dos funcionários dos consulados. O governante começa por lembrar não ser possível “termos um consulado em cada sítio onde houver um português”, mas reconhece também haver formas de chegar às pessoas. “Não só com o reforço das permanências consulares, que implica o reforço dos recursos humanos (e estamos a trabalhar nesse sentido, de melhor valorizacão das carreiras dos funcionários, de contratação de recursos humanos para responder às necessidades), mas através dos meios digitais”, nota. “Estamos num processo de reestruturação, de reforma dos consulados, que passa não só por mais funcionários, mas por termos ferramentas digitais. O novo modelo de gestão consular irá possibilitar que actos consulares que hoje exigem a presença da pessoa no consulado, se possam fazer online. Isto é uma grande vantagem porque, estejam onde estiverem, seja a que horas for, 24 horas por dia, 365 dias por ano, há determinados actos que vão ser praticados em casa das pessoas ou pelo seu telemóvel. Este é o desafio que temos pela frente, porque aí a proximidade é garantida e a acessibilidade também.”
PAPEL DOS LUSO-ELEITOS NA MANUTENÇÃO DOS VALORES DEMOCRÁTICOS
Paulo Cafôfo fez questão de evidenciar “o orgulho nos portugueses e portuguesas que são originários de Portugal e que desempenham cargos para os quais foram eleitos por força do voto popular – desde cargos estaduais a cargos federais e locais.”
Na sua óptica, a existência desses luso-eleitos “significa que há um interesse dos portugueses e dos luso-americanos na vida política.”
O secretário de estado considera importante que os emigrantes e os portugueses radicados nos EUA demonstrem o mesmo interesse pela realidade política em Portugal: “O que temos de fazer é que, para além desses luso-eleitos, possam os outros ter interesse e participar na vida política do nosso país. E aí temos de ter uma acção muito concreta em termos de informação, com campanhas viradas para o associativismo, porque aqui as associações também desempenham um papel muito importante na ligação à vida social, cultural, económica e política do nosso país. Portanto, é essa proximidade que se tem de fazer com maior conhecimento, significa maior participação cívica e é nisso que estamos empenhados.”
A comunicação social portuguesa nos EUA é outra ferramenta de peso neste processo, aponta, referindo dever ser apoiada “pelo serviço público que presta às nossas comunidades.”