Espanha: Possível demissão de Sánchez marca arranque de campanha para eleições na Catalunha

As eleições na Catalunha prometiam, até quarta-feira passada, mobilizar as atenções de todo o país, pelo eventual impacto na governabilidade da Espanha e pela possibilidade de, segundo as sondagens, os socialistas voltarem ao governo da região após 14 anos consecutivos de executivos liderados por nacionalistas e independentistas.

As eleições na Catalunha foram antecipadas e tiveram logo um impacto directo na governação de Espanha: o executivo de Sánchez desistiu de avançar com uma proposta de Orçamento do Estado para este ano e disse que iria gerir o país, prolongando os tectos de despesa e receitas que constavam do documento do ano passado.

Seguiu-se, na semana passada, uma ameaça mais directa pela voz de Carles Puigdemont, de retirar o apoio ao Governo de Sánchez se os socialistas aceitarem os votos do Partido Popular (PP, direita) para inviabilizarem um executivo regional liderado por independentistas, como aconteceu no ano passado na câmara municipal de Barcelona.

Este é candidato nestas eleições apesar de viver na Bélgica desde 2017 para fugir à Justiça espanhola depois de ter protagonizado a declaração unilateral de independência daquele ano.

Este cenário foi pelo perturbado, na quarta-feira passada, quando Pedro Sánchez disse estar a pon- derar demitir-se. Cancelou a agenda dos próximos dias para “parar e refletir” e prometeu uma declara- ção pública sobre o seu futuro para segunda-feira.

Sánchez fez este anúncio depois de um tribunal de Madrid confirmar a abertura de “um inquérito preliminar” à sua mulher, Begoña Gómez, por alegado tráfico de influencias e corrupção, na sequência de uma queixa de uma associação conotada com a extrema-direita espanhola.

O primeiro-ministro argumentou estar a ser vítima, há meses, da “máquina de lodo” do PP e do Vox (extrema-direita), que agora atingiu a mulher, afirmando não ter a certeza de se vale a pena continuar à frente do Governo perante “o lodaçal” e um “ataque sem precedentes”.

Estes partidos acusaram-no de estar a vitimizar-se para desviar as atenções, e que tudo não passa de “um espectáculo” de campanha eleitoral.