ESPECIALISTAS DEFENDEM: Medicamentos para obesidade comparticipados

Os especialistas defendem a comparticipação de medicamentos específicos para tratar a obesidade e, para melhorar o acesso a consultas e tratamentos, pedem uma adaptação dos modelos de incentivo e contratualização nos hospitais e centros de saúde.

Em declarações à Lusa no dia em que a Assembleia da República acolheu uma conferência para debater as soluções para agilizar o acesso a consultas e tratamentos, a presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) lembrou que, 20 anos depois de Portugal considerar a obesidade uma doença crónica, “muito pouca coisa foi feita”.

“É preciso tomar medidas. Há todo um processo assistencial integrado de obesidade que é preciso pôr em prática”, disse Paula Freitas, referindo que é preciso aumentar o acesso.

Destacou a importância do tratamento farmacológico na obesidade e insistiu na necessidade de ”pensar também em modelos de comparticipação”.

A presidente da SPEDM considerou ainda que “este é o momento ideal” para agir e pediu que o tratamento da obesidade “seja uma prática na realidade e não apenas um programa no papel”.

Na conferência, que contará com a presença da directora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, e do director executivo do Serviço Nacional e Saúde (SNS), Gandra d’Almeida, a SPEDM e a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) vão apresentar um pacote de quatro medidas para o combate da obesidade em Portugal.

Além da publicação do Processo Assistencial Integrado (PAI) da Obesidade, que estava previsto num despacho governamental de 2023, as sociedades apontam a necessidade de reforçar as ferramentas para garantir o acesso e monitorização, sugerindo um sistema de incentivos que inclua métricas “que impulsionem o reforço da resposta de cuidados” no controlo e combate à obesidade.

Paralelamente ao tratamento cirúrgico, a SPEDM e a SPEO chamam a atenção para a necessidade de optimizar as vias de acesso à consulta especializada e multidisciplinar de obesidade, comparticipar o tratamento farmacológico – “acompanhando a realidade de outros países europeus” – e definir critérios de acesso a estes tratamentos.

“Quando nós tratamos de obesidade, não estamos só a tratar a obesidade, estamos a tratar mais de 200 doenças associadas e estamos a tratar mais de 13 tipos de cancro”, sublinhou a presidente da SPEDM.

A este respeito, o presidente da SPEO, José Silva Nunes, recordou que a sociedade ainda a vê como uma questão estética e um problema “imputada ao indivíduo”.

“Parece que a pessoa tem obesidade porque escolheu. A obesidade é uma doença crónica, é multifatorial, é extremamente complexa e, à luz do conhecimento actual, não sabemos efectivamente o que está envolvido na sua génese”, afirmou, acrescentando: “Mas uma coisa sabemos, é que não é uma escolha individual. Há uma componente genética”.