EX-EMBAIXADOR NORTE-AMERICANO JÁ FOI 70 VEZES A PORTUGAL – DESDE QUE CESSOU FUNÇÕES EM 2017
Por HENRIQUE MANO | Cambridge, MA
De 2014 a 2017, Robert A. Sherman, de Boston, desempenhou o cargo de embaixador dos Estados Unidos da América. Nomeado pelo antigo Presidente Barack Obama, o advogado de carreira pode ter deixado Portugal no final do seu mandato, mas Portugal parece nunca ter saído de si…
“Fiz 70 viagens de regresso a Portugal desde que saí como embaixador”, revela Robert A. Sherman, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO concedida em Cambridge, MA, onde recebeu o Preemio Internacional de Liderança do PALCUS. “Por isso, quando saí, disse que Portugal estaria sempre na minha alma e os portugueses no meu coração. Isso permanece verdadeiro até hoje”.
Foto: EMBAIXADA DOS EUA EM LISBOA | Robert A.Sherman na entrega de credenciais ao então Presidente Aníbal Cavaco Silva
O ex-embaixador quis continuar a ser útil às relações bilaterais entre o seu País e Portugal, tendo mesmo aceitado fazer parte do conselho consultivo do Novo Banco e de outras empresas nacionais.
Sherman acredita que o seu legado em Portugal, como embaixador, passa por ter contribuído para causas como “iniciativas económicas e de carácter social na área da mulher” que “tiveram impacto na vida dos portugueses”.
Quando indagado sobre se Portugal é hoje um país muito mais conhecido pelos americanos, a sua resposta é rápida: “Com certeza é. Não passa uma semana sem que eu receba várias chamadas de pessoas que vão ou que estiveram em Portugal”.
Foto: EMBAIXADA DOS EUA EM LISBOA | Em Portugal, enquanto embaixador, recebeu da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi atribuída pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa
Diz mesmo, em tom de brincadeira, que não se importava de trabalhar para a AICEP ou o Turismo de Portugal “como promotor do País. Mas fá-lo-ia com muito carinho!”
Quando regressa a Portugal e apanha um táxi no aeroporto, o embaixador cumpre um ritual: “Pergunto sempre ao motorista: quem é que vê mais aqui chegar do estrangeiro? E ele diz que são os americanos, facto de que muito me orgulho”.
Robert Sherman afirma que “jeringonça” é a palavra que mais gosta do vocabulário português. “Agora, se me perguntar se falo português, a minha resposta é: um pouquinho”.
O ex-embaixador formou-se em Ciências Políticas pela Universidade de Rochester em 1975, tirando seguidamente Direito na University School of Law. Começou carreira como advogado no sector privado na década de 1980 mas passaria depois pela área governamental, tendo sido um dos primeiros apoiantes da campanha de Barack Obama à Casa Branca.
Em Portugal, enquanto embaixador, recebeu da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi atribuída pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS PORTUGAL-EUA
•As relações bilaterais entre Portugal e os Estados Unidos recuam aos primórdios da história americana. Logo a seguir à Guerra da Independência, Portugal tornou-se de imediato no primeiro país neutral a reconhecer a nova nação. O seu primeiro presidente, George Washington, não perdeu tempo e a 21 de Fevereiro de 1791 estabeleceu relações diplomáticas formais com Lisboa – reinava em Portugal D. João VI.
•É Washington quem também escolhe um dos heróis da guerra de independência da corte inglesa – o coronel David Humphreys – para primeiro representante diplomático americano em Portugal, elevando-o a Ministro residente.
•Humphreys desempenhou o cargo de 13 de Maio de 1791, data em que apresenta credenciais à corte portuguesa, até 25 de Julho de 1797.
•Nasceu a 10 de Julho de 1752 naquilo que é hoje Derby, no estado de Connecticut, e viria a morrer a 21 de Fevereiro de 1818 em New Haven, CT, aos 65 anos. Assumiu o papel de ajudante de campo de George Washington durante a guerra, passando mais tarde a secretário de Benjamin Franklin em Paris e ainda a deputado estadual em Connecticut. Também poeta, fez parte do movimento ‘Hartford Wits’ e atribui-se-lhe mesmo o primeiro soneto de que há registo escrito na América, assim que a Independência foi declarada.
•O segundo representante diplomático americano em Portugal foi outra ilustre figura histórica – John Quincy Adams (o 6.º presidente dos Estados Unidos e filho de John Adams, o 2.º presidente). Nomeado a 30 de Maio de 1796.
•A partir de 1893, o posto de representante diplomático em Portugal é elevado ao cargo de Representante Extraordinário e Ministro Plenipotenciário. George William Caruth foi o primeiro nomeado ao abrigo do novo estatuto.
•Outros representantes diplomáticos de prestígio enviados a Lisboa foram Herbert Claiborn Pell (1937-41), patriarca de uma das mais conhecidas famílias políticas em Rhode Island e Robert Guggenheim (1953-54), membro da proeminente família Guggenheim, de Nova Iorque, ligada ao mundo das artes e da finança.
•O mais conhecido embaixador norte-americano, contudo, é mesmo Frank C. Carlucci, que desempenhou as funções de 24 de Janeiro de 1975 a 5 de Fevereiro de 1978, durante um conturbado período histórico político português.
•Foi o democrata Bill Clinton quem nomeou a primeira mulher para o cargo de embaixadora em Portugal, mandando para Lisboa a advogada Elizabeth Frawley Bagley, que esteve em funções de 1994 a 1997.
•A partir de 1882, os representantes diplomáticos americanos em Portugal passaram a designar-se Ministro Residente/Cônsul Geral. Uma década depois, passavam a Representante Extraordinário e Ministro Plenipotenciário.
•Só em 1944, em plena 2.ª Guerra Mundial, o cargo de representante diplomático sobe a Embaixador – com Raymond Henry Norweb a tornar-se no primeiro a ocupar o cargo.