EXCLUSIVO | É LUSO-AMERICANO E NASCEU EM YONKERS, NY O PRESIDENTE DA CÂMARA DE ESTARREJA (AVEIRO)
Por HENRIQUE MANO | News Editor
Aos 51 anos, Diamantino Sabina é um caso raro na actualidade política portuguesa, sendo um dos poucos (senão mesmo o único) Presidente de Câmara em funções nascido nos Estados Unidos da América. “Não conheço nenhum, e somos 308, mas poderá haver outro”, palpita o autarca de Estarreja, distrito de Aveiro, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO.
O “pequeno” pormenor na sua certidão de nascimento, deve-o aos pais, que, à semelhança de tantos outros estarrejenses, partiram rumo à América na década de 60 do século passado. Foi com carta de chamada do tio Diamantino Valente que a mãe do autarca atravessou o Atlântico, com uma irmã, estabelecendo-se na cidade nova-iorquina de Yonkers, condado de Westchester. “Mais tarde regressou a Portugal para se casar com o meu pai, com quem já namorava, e aí, sim, foram os dois para a América”, conta.
Manuel Sabina e Maria de Lourdes Valente levaram consigo a filha mais velha e teriam ainda Diamantino, que nasceu no St. John’s Hospital, e outra filha, nos EUA. O futuro autarca frequentou as escolas portuguesas do PACC de Yonkers e da Igreja N.ª Sr.ª de Fátima e fez o ensino formal americano na “St. Joseph’s School” até aos 10 anos de idade. “Os meus pais tinham optado por construir a casa deles aqui em Portugal, em Pardilhó, e eu fui directamente para o 6.º ano”, afirma Diamantino Sabina.
Até 1994, foi mantendo o cordão umbilical de ligação à América; aos 15 anos veio de férias a Nova Iorque e nos verões de 1990, 1991 e 1994, regressaria para temporadas sazonais de trabalho. “Depois nunca mais deu para ir, atendendo às minhas obrigações escolares e profissionais aqui em Portugal”, explica o autarca. “É uma pena tremenda, mas pretendo fazê-lo agora, este ano, até, já, ou para o ano, como Presidente de Câmara. Quero visitar a comunidade estarrejense em alguns estados, não sei se irei à cidade de Newark, e, claro, Nova Iorque; aliás, o Paulo Pereira [“mayor” de Mineola] ter-me-á convidado.”
Apesar da ida com tenra idade para a terra dos pais, Diamantino Sabina assume: “Tenho muita influência norte-americana. Sinto que tenho até alguma cultura, mesmo que seja da escola primária. Mantive tudo muito presente; tive uma educação portuguesa com influência grande da cultura norte-americana e mantive isso sempre. De certa forma, mantive sempre contacto com primos e tios meus, e mesmo através de séries e filmes, nunca perdi a língua, falo fluentemente inglês e essas idas aí, ainda que parcas, as idas, onde me mantive por alguns tempos, não deixaram de ter em mim uma influência grande. Eu sinto que tenho uma costela norte-americana ainda presente.”
Em Portugal, após o 11.º, envereda pelo caminho profissional, a trabalhar “uns anos na orçamentação, medição e desenho técnico.” Diz “acordar mais tarde para a vida” ao optar por seguir Direito, aos 25 anos, pela Universidade Moderna do Porto.
Já a vida política acontece “por mero acaso”. Convidado a integrar a equipa da Câmara de Estarreja como jurista, a meio tempo, quando dá por ela, aceita o convite para chefe de gabinete do então autarca. “Foi uma decisão muito difícil na minha vida, sendo certo que, na altura, tive que optar por deixar a advocacia, que só praticava há 5, 6 anos, porque uma nomeação política não é compatível com o exercício daquela actividade.”
Passa a militante do PSD (“ainda nem sequer era”), depois a líder-presidente da concelhia do PSD de Estarreja, vereador e, finalmente, Presidente da Câmara, eleito pela Coligação PPD-PSD/CDS-PP “Sempre Mais!”.
“Ela [a vida política] não me foi imposta, naturalmente, porque aceitei voluntariamente, mas eu não a convidei, as pessoas é que viram em mim alguma coisa e foram assim promovendo os meus passos”, observa Diamantino Sabina.
O político luso-descendente cumpre agora o seu 3.º e último mandato de 4 anos, por imposição da lei que determina o seu limite – faltando-lhe ainda 3 anos e meio.
O futuro pós-Câmara de Estarreja não deverá passar pela política, revela. “Não será por aí, pretendo enveredar pelo sector privado. Esta vida pública é muito interessante e conseguimos coisas que não conseguimos de outra forma, mas é muito desgastante e há que dar lugar aos outros”, afirma.
No concernente à actualidade política americana, “sigo com alguma atenção. Não posso dizer que sou versado em tudo o que acontece, mas estou atento naturalmente ao que se vai passando nos EUA. Sei da influência que isso tem no mundo, alguns aspectos preocupam-me, outros nem tanto – acho pouco positivos, mas sim, sou um interessado com alguma relevância, não um mero espectador.”
Sobre a chegada do mês de Agosto e o retorno dos emigrantes a Estarreja, o autarca comenta: “É um gosto sempre receber os filhos da terra, seja de que canto do mundo for; este ano vê-se muita matrícula estrangeira, alemãs, suíças, francesas, luxemburguesas; dos Estados Unidos, os carros são alugados, mas já estive este ano com primos e tios meus. É sempre um gosto rever esta gente que, apesar de longe, acho que vivem a portugalidade como ninguém. Nós, aqui, somos portugueses, gostamos muito do nosso país, mas eu creio que aqueles que vão para fora e tentam uma vida melhor fora, ou por outros motivos, vivem como ninguém a sua terra, defendem como ninguém a sua terra e são verdadeiros embaixadores daquilo que nós gostamos muito, que é o nosso país, Portugal.”