EXCLUSIVO: FILHO DE JOAQUIM DE ALMEIDA FAZ CARREIRA DE ACTOR EM NOVA IORQUE

Por HENRIQUE MANO | News Editor | Nova Iorque

O pai preferia que tivesse sido advogado ou médico. Mas, o que tem de ser tem muita força, e o lisboeta Lourenço de Almeida optou mesmo por seguir carreira como actor. Hoje, vive na mesma Nova Iorque onde também os sonhos do pai famoso, Joaquim de Almeida, ganharam vida.

Aos 29 anos, Lourenço de Almeida é o típico caso em que “filho de peixe sabe nadar”. Com participações na série norte-americana “Queen of the South” (da rede USA Network), na aclamada mini-série “Doce”, da RTP, onde fez “Xavi” (sobre a mais conhecida “girls band” portuguesa) e em projectos como “God Save the Queens”, “Sequía”, “Gamut”, “A Timely Affair” e “Santa Bárbara”, está determinado em percorrer caminho próprio e afirmar-se pelo talento e determinação. Reconhece, ainda assim, não ser tarefa fácil distanciar-ser do facto de ser filho do mais conhecido actor português em Hollywood. De todos os tempos.

Foto: HENRIQUE MANO LUSO-AMERICANO | O actor Lourenço de Almeida, de 29 anos, fotografado em Brooklyn, NY pelo jornal LUSO-AMERICANO: filho de peixe sabe nadar

Lourenço de Almeida nasceu em Lisboa e cresceu em Sintra com a mãe, tendo feito a Escola Americana – “onde o meu pai me pôs com planos de um dia eu poder sair de Portugal. Aos 18 anos, era para ter vindo para os EUA, o que não aconteceu”, conta, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. Opta pela Escócia, a pensar em tirar Economia na Universidade de Glasgow. “Na altura, ainda não tinha admitido aos meus pais que queria ser actor, aliás, nem tinha inteiramente confessado a mim próprio que queria ser actor”, nota. “O meu pai nunca me incentivou, mas também nunca me disse para não ser actor. Disse que era uma vida difícil e que não sabia se queria lidar com um filho actor porque tinha muitos amigos a quem as coisas não tinham corrido bem…”

Há pouco mais de 7 anos, no último ano de faculdade, “já sabia que queria estudar representação”; dá-se então o salto para Nova Iorque, onde se junta à conceituada escola “Tom Todoroff Studio” de representação. “Assim que cheguei a Nova Iorque, como adulto, sozinho, achei, tipo, eu quero mudar-me para aqui, adoro estar aqui – para não falar que tinha um pai que tinha vivido 30 anos em Nova Iorque. Para mim”, prossegue, “era importante perceber parte da minha vida e da vida dele. Depois apaixonei-me por esta cidade, adorei, percebi por que é que ele gosta e porque esteve cá tanto tempo.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Lourenço de Almeida procura seguir o seu próprio caminho à sombra do pai famoso

Lourenço de Almeida, que acabou mesmo a licenciatura em Economia e Teatro na Escócia, faria ainda o Conservatório em Nova Iorque, ferramentas que utiliza para singrar na Arte de Talma.

“Apesar de ter tido nota alta no curso de Economia, apercebi-me de que não queria estar atrás de uma secretária das 9:00 às 5:00”, afirma, “e o engraçado é que o meu pai me tinha dito o mesmo a vida toda, mas que esperava que os filhos o fizessem.”

A inclinação para a vida artística é uma consequência natural da sua vivência. “Cresci à volta do meu pai, as minhas férias eram passadas com ele “on set”, ou seja, tinha visto esse mundo todo que, para mim, parecia normal, mas que não era o mundo normal para as outras crianças.”

Foto: CORTESIA LOURENÇO DE ALMEIDA | Em pequeno com o pai

O que não pretende é “ter 50 ou 60 anos e olhar para os meus filhos e, se calhar, ser um grande economista ou ter uma grande profissão e ter dito: eu nunca tentei fazer aquilo que realmente queria. Achei que preferia ser “unsuccesfully” mas ter tentado e ter lutado e fazer aquilo que gostava, do que ser bem sucedido e passar uma vida a fazer aquilo que não queria.”

Ser filho de Joaquim de Almeida “joga a meu favor e joga contra mim”, admite o actor. “Estamos sempre um bocadinho na sombra, mas, a partir do momento em que admitimos que vivemos a nossa própria vida, vivemos bem com nós próprios.”

Foto: CORTESIA LOURENÇO DE ALMEIDA | Com o pai, já em fase adulta

Reconhece que o pai “é muito profissional, ele safou-se muito bem lá fora e sempre quis trabalhar em Portugal, onde fez muitos filmes. Toda a gente que trabalhou com ele sempre me disse: é profissional, está a horas, sempre lutou pelos actores, só que o meu pai não publicita as coisas que faz pelo país. Em Portugal, às vezes somos demasiado críticos, em vez de estarmos orgulhosos de quem vence lá fora, às vezes a dor de cotovelo custa muito em Portugal.”

Por carregar o ADN do pai famoso, a vida de Lourenço de Almeida não é feita de facilidades. “Eu trabalho num restaurante como qualquer outra pessoa, pago as minhas contas, sou independente, estou a limpar os pratos dos outros, estou a começar debaixo”, diz. “Quem não me conhece, acha que, se calhar, vivi uma vida mimada. Não! Os meus pais ofereceram-me tudo o que puderam dar, educação, ferramentas para a vida, mas, a partir do momento em que tinha 18 anos, o meu pai disse: “desemerdate”, não há aqui favores para ninguém. Eu sei que ele lá está se precisar de ajuda, agora, a educação que me deu foi sempre “go on your own”.

Foto: IMDB Lourenço de Almeida | Numa cena da série norte-americana “Queen of the South” (USA Network)

Vivi sempre com essa ansiedade de ser actor e não ter um salário fixo; qualquer  artista sabe o que isso é, saber que, ao final do mês, não vai cair aquele dinheiro.”

Olha para colegas como Alba Baptista, Pepê Rapazote, Diogo Morgado e Daniela Belchior e diz: “Todos trazemos alguma coisa para a mesa.”

Foto: IMDB Lourenço de Almeida | Na mini-série “Doce”, da RTP – sobre a mais conhecida “girls band”: portuguesa

Certo é, dir-se-á, que, à frente, foi Joaquim de Almeida abrindo caminho por todos eles, daí lembrar incontáveis vezes ao pai: “tu já provaste tudo, já conquistaste, já fizeste, já conseguiste, “you made it”. Tudo o que estás a fazer a seguir a isso, é extra.”