EXCLUSIVO | TENENTE CORONEL LINDA CUNHA. UMA ‘BRONZE STAR’ E O CORAÇÃO DIVIDIDO ENTRE DUAS PÁTRIAS

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

A passagem pelo Afeganistão, entre 2011 e 2012, enquadrada na 147th Medical Company da Guarda Nacional (um dos braços das Forças Armadas dos Estados Unidos), valeu à tenente coronel Linda Cunha a atribuição de uma ‘Bronze Star Medal’ por bravura.

“Curiosamente, foi nessa companhia que comecei a minha carreira militar e foi junto dela que estive grande parte dos meus 30 anos de serviço a esta nação”, afirma Linda Cunha, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “O meu início foi no escalão mais baixo, mas acabei como comandante à frente da companhia, que actua na área da assistência médica; montamos clínicas em cenários de guerra para tratamento de militares americanos e de outros países da NATO e até civis.”

A trajectória de Cunha pelo serviço militar não se resume à já citada medalha. A luso-americana carrega ainda ao peito várias outras distinções federais e estaduais: ‘Meritorious Service Medal’, ‘Army Commendation Medal’, ‘Army Achievement Medal’, ‘Karen L. Wagner Leadership Award’… E tudo num universo tradicionalmente dominado pelos homens. “Não sei o que seria se não tivesse escolhido juntar-me à Guarda Nacional, onde se oferecem muitas oportunidades às mulheres – creio mesmo que mais comparativamente ao meio civil”, nota. “Contudo, não deixou de ser uma caminhada difícil, sobretudo no início. Na altura em que comecei, muitas das posições de chefia eram predominantemente masculinas e ter chegado a tenente coronel foi incrível!”.

🌐RAÍZES NA GUARDA E NA MADEIRA

Linda Cunha nasceu em Bridgeport, CT, filho dos emigrantes Augusto e Matilde Cunha – oriundos respectivamente de Moimenta da Serra (Gouveia) e Caniço (Funchal, Madeira). A seguir ao Notre-Dame High School em Fairfield, matriculou-se na University of Connecticut a pensar seguir Ciências e Matemática. “Pagava pelo meus estudos e tinha dois empregos, a situação não era fácil”, conta. “Um dia apareceu-me um recruta num dos meus trabalhos. Disse-me que a Guarda Nacional era uma óptima oportunidade de carreira, para além de também me pagar a universidade.”

Em Março de 1991, ainda na aurora da vida adulta, lança-se ao desafio. Recebe treino militar e profissional em Carolina do Norte e na Geórgia. Torna-se operadora de comunicações via rádio, colocada no 118th Medical Battalion, em New Haven, CT.

🌐❝VI A GUERRA DE PERTO❞

A sua primeira missão no estrangeiro levou-a ao Iraque, em 2004. Já como capitão. “Comecei ao nível de ‘private’, passei a ‘specialist’, sargento, tenente (em 1998), capitão, major e finalmente tenente coronel”, detalha. “Vi a guerra de perto. No Afeganistão, por exemplo, éramos bombardeados quase diariamente.”

A Guarda Nacional abriu-lhe as portas para o mundo. “Conheci outras culturas, estive na Babilónia nas ruínas do palácio, nos Jogos Olímpicos de Inverno em Utah ao pé dos atletas, em missões humanitárias pela América onde conheci o lado humano das pessoas. A Guarda Nacional tem uma vocação especial de intervenção no interior do país, sobretudo em situações de emergência. Ajudamos os nossos compatriotas e isso é muito gratificante.”

🌐LUTAR PELA LIBERDADE

A tenente coronel garante que “usamos farda para que os americanos tenham a liberdade de se expressarem e até de discordarem uns dos outros. É claro que há preocupações válidas que muitas vezes se levantam, nada é preto no branco. É para isso que servimos a nação, pelo direito à liberdade.”

Linda Cunha reconhece que, a princípio, a escolha de carreira não entusiasmou de todo os pais… “Depois, era a minha própria mãe quem me apresentava às pessoas referindo-se a mim como a filha que estava na Guarda Nacional.”

A vida militar nunca a separou das origens. “Tive sempre muito orgulho em ser luso-americana de primeira geração, de dizer que os meus pais vieram de Portugal”, refere. “E claro que também tenho muito orgulho em ser americana e de servir o meu país.”

Agora na reforma, Linda Cunha já descobriu um hóbi: “Estou a fazer a árvore genealógica da minha família”, revela. “Comecei pela minha mãe, consegui recuar cerca de 300 anos. A seguir será o meu pai. Acho mesmo que vou tirar um curso de genealogia.”