FALA PORTUGUÊS E É ENFERMEIRA NOS CUIDADOS AO PACIENTE NA ÁREA DE ONCOLOGIA

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Para os pacientes portugueses com dificuldades de expressão em inglês (e não são poucos…) que cheguem ao Saint Barnabas Medical Center no contexto de um quadro médico ligado ao cancro, Sílvia Mariano é a mão – e a voz – amigas que farão toda a diferença…

“O facto de saber falar português é realmente uma mais-valia para o meu trabalho”, reconhece a profissional de saúde, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Poder comunicar-me com os doentes que nos chegam na lingua que melhor dominam, torna-se uma ferramenta valiosa tanto para nós, como para eles – aliada à compaixão.”

“O facto de saber falar português é realmente uma mais-valia para o meu trabalho”, reconhece a profissional de saúde, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO

🌐O SAINT BARNABAS: UMA REFERÊNCIA DE QUALIDADE

Filha de emigrantes da Murtosa, a profissional de saúde está desde 1998 nos quadros daquele que a revista ‘AARP Modern Maturity’ considera a 13.ª melhor unidade médica dos Estados Unidos. O Saint Barnabas Medical Center, parte do grupo RWJBarnabas Health, tem 577 camas e é o maior e o mais antigo hospital sem fins lucrativos e não-sectário do estado de New Jersey – com as suas origens a recuarem ao distante ano de 1865. Da revista ‘U.S. News & World Report’, o Saint Barnabas obteve altas marcas a nível do estado nas áreas da Neurologia/Neurocirurgia, doenças renais, Ginecologia e Urologia. É igualmente uma das 15 unidades médicas no país que obteve, no biénio 2009/10, prémios de excelência da ‘HealthGrades’ pela qualidade de serviço proporcionado ao sector feminino.

A enfermeira de origem portuguesa faz parte de uma robusta equipa médica que mantém operational o Saint Barnabas Medical Center: são cerca de 35 utentes internados por ano e próximo dos 90 mil atendimentos nas urgências.

🌐RAÍZES NO DISTRITO DE AVEIRO

A história de vida de Sílvia Simões Mariano cruza-se com todos os contornos da emigração. Nasceu no extinto St. James hospital, sete dias depois de os pais terem chegado a Newark, oriundos da Murtosa. “Vieram num sábado e eu nasci sete dias depois”, conta. “A minha dizia que eu era uma americana feita à pressa.”

Depois da escola secundária em Union, obteve a licenciatura em Ciências e Enfermagem. “Tive sempre inclinação para o ramo da saúde”, afirma Sílvia Mariano. “Quando era pequena e na escola primária nos perguntavam que profissão queríamos seguir um dia, lembro-me de dizer que queria ser pediatra.”

A vivência familiar também influenciou na escolha de carreira. Tinha 10 anos quando o avô, que vivia em sua casa, teve de enfrentar um linfoma. “Como não falava inglês, cheguei muitas vezes a fazer de intérprete nas visitas aos médicos – o que iria cimentar a minha vontade em tornar-me enfermeira”, refere.

Aos 22 anos começou trajectória profissional numa agência de assistência a doentes terminais e como enfermeira ao domicílio. Não tardaria muito e estava também no West Hudson Hospital, em Kearny – “a experiência prática em ambiente de hospital era importante para mim.”

Dois anos depois, em 1998, entrava para o Saint Barnabas, colocada de imediata na unidade interna de assistência a pacientes oncológicos – onde esteve 12 anos. “Lidava com doentes que fazem tratamentos de quimioterapia, no controlo de efeitos colaterais e na gestão da dor, sobretudo em estado terminal, pessoas com muita necessidade de cuidados de saúde.”

🌐OS TRAUMAS EMOCIONAIS DA COVID-19

Em 2011 transita para a unidade ambulatória, onde ainda se encontra, no mesmo centro de cancro do hospital.

“Por vezes é difícil separar a realidade do hospital da nossa própria realidade”, diz Sílvia Mariano. “Até porque muitas vezes nos revemos nas pessoas que tratamos e compreendemos o seu sofrimento. Chegamos a acompanhar doentes durante anos e quando nos apegamos às pessoas, por via da compaixão, de alguma forma elas passam a fazer parte das nossas vidas. A grande lição que tiro da proximidade com a doença, é dar graças ao facto de termos saúde.”

Apesar dos pesares, a enfermagem “é uma carreira muito gratificante, que exige bastante de nós. E pode ser praticada tanto a nível de contacto directo com os pacientes, como na área da farmacêutica ou do ensino – são várias as vertentes. A grande recompensa, contudo, é o reconhecimento daqueles que tratamos.”

No tocante à COVID, afirma: “Se quiserem contribuir para o fim desta pandemia, e ajudarem os profissionais de saúde a combatê-la, sigam as regras de segurança pública estabelecidas pelo Centro de Controlo de Doenças: usem máscara, lavem as mãos, pratiquem o distanciamento social. Isto ainda não acabou e o público em geral não faz ideia do trauma emocional por que temos passado para podermos operar.”