FILHO DE MINHOTOS É A 2.ª MAIOR AUTORIDADE DE ORIGEM PORTUGUESA NO ESSEX COUNTY SHERIFF’S OFFICE

Por HENRIQUE MANO | News Editor | Newark, NJ

Em 1980, numa entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO, então com 9 anos, John Gonçalves, integrante à altura do Rancho Infantil “Roca-o-Norte”, de Newark, sonhava: “Quando for grande, quero ser polícia!” A profecia não apenas se concretizou, como hoje, aos 51, se transformou no segundo luso-americano com o cargo mais elevado no Essex County Sheriff’s Office (E.C.S.O.).

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O subxerife John Gonçalves no seu gabinete de trabalho no E.C.S.O.

“Curiosamente, o meu par de dança, na mesma entrevista, dizia querer ser professora, o que acabaria por também acontecer”, conta John Gonçalves, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “Hoje está reformada e eu continuo a trabalhar…”

No próximo mês de Setembro, John Gonçalves chega aos 30 anos de entrega à segurança pública, tendo sido elevado pelo xerife Armando Fontoura (também português) em 2018 para o alto cargo de subxerife. Nessas funções, supervisiona a actividade de cerca de 500 profissionais, a segurança do complexo sistema de tribunais do condado (por onde circulam anualmente mais de 2 milhões de pessoas) e o transporte de prisioneiros. “Também temos sob nossa alçada a segurança dos juízes do condado, na eventualidade de serem alvos de ameaças”, sublinha.

Resta-lhe ainda tempo para co-coordenar o Gabinete de Gestão de Emergências do condado de Essex desde 2018.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O subxerife John Gonçalves em frente a um dos edifícios do condado cuja segurança está sob sua supervisão

❝O JOHN É UM PROFISSIONAL EXPERIENTE DA LUTA CONTRA O CRIME QUE FAZ UM TRABALHO BRILHANTE PARA O E.C.S.O.❞

⤻Armando Fontoura

Xerife, condado de Essex

Ninguém melhor que o xerife Armando Fontoura conhece as qualidades profissionais e humanas de John Gonçalves, que considera “um profissional experiente da luta contra o crime. Faz um trabalho brilhante para o E.C.S.O.”, afirma, em declarações prestadas ao jornal LUSO-AMERICANO para este artigo. “Sempre soube, desde a hora em que o promovi a subxerife, que seria uma mais-valia para todos nós. O John trabalha arduamente e preocupa-se deveras por este departamento, pelos moradores de Newark e de todo o estado de New Jersey – para além de ter muitas qualidades humanas. Claro que também abona a seu favor o facto de ter origem portuguesa e de ter herdado a nossa grande capacidade de entrega ao trabalho.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O subxerife John Gonçalves (esq.) foi nomeado pelo xerife Armando Fontoura

É no Minho que estão vincadas as suas raízes: a mãe, Maria Alice Gonçalves, é de Oliveira da Mosca-Valença e o pai, Anselmo Gonçalves, de Arão. Tendo nascido no Hospital St. James, a sua infância e adolescência repartem-se entre o Ironbound e North Newark (para onde se mudou aos 8 anos). É cedo que a inclinação nata para a ajuda ao próximo se revela e, aos 14, junta-se à North Ward Citizens First Aid Squad, tornando-se técnico socorrista aos 17, enquanto frequenta um liceu técnico em Bloomfield. Aos 22, entra para a academia de formação policial, enquanto à noite tirava criminologia pela Essex County College. “Foi algo que sempre quis fazer, ajudar o próximo”, nota (costela que acredita ter herdado do avô, que fora GNR em Valença do Minho).

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | No dia em que recebeu o título de Figura Portuguesa do Ano 2018 no condado de Essex

❝FOI ALGO QUE SEMPRE QUIS FAZER, AJUDAR O PRÓXIMO❞

⤻John Goncalves,

Subxerife, condado de Essex

A sua trajectória pelos anos que se seguem é uma encruzilhada de experiências e encontros marcados pelo destino; tenta singrar como operador de catering na Flórida, passa (no regresso à polícia) pelo Bureau of Criminal Investigation do E.C.S.O, pela unidade de detectives, por uma brigada de combate ao crime financeiro e por outra de captura a foragidos da lei… Em 1997, num protocolo de serviços, transita para o FBI e Serviços Secretos, onde se manteve até à ascensão a subxerife.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | No universo de improbabilidades da carreira policial, nem tudo foram rosas para John Goncalves: chegou a ter de disparar a sua arma para se defender, esteve envolvido num tiroteio e também ajudou a salvar uma vida (acto de bravura que, aliás, lhe valeu um reconhecimento público)

Nessa década, trabalhou no combate à actividade criminosa na área financeira, tornou-se agente de protecção a dignitários (deu protecção a 5 primeiras-damas norte-americanas de passagem por New Jersey e à Madre Teresa de Calcutá, numa visita a Newark) e ganhou estatuto de US Marshal. Tem ainda tempo para a tarefa de mediador na unidade de negociações da polícia.

❝TRATEM TODA A GENTE DA MESMA FORMA COMO GOSTARIAM DE SER TRATADOS❞

⤻John Goncalves, subxerife, condado de Essex

No universo de improbabilidades da carreira policial, nem tudo foram rosas para John Goncalves: chegou a ter de disparar a sua arma para se defender, esteve envolvido num tiroteio e também ajudou a salvar uma vida (acto de bravura que, aliás, lhe valeu um reconhecimento público). Para enfrentar os “espinhos” da carreira, valeu-lhe “a formação e o treino que recebemos” – garante.

A descrição das suas funções no portal oficial do E.C.S.O.

Gonçalves não se vê, no horizonte, a concorrer, por exemplo, ao cargo de xerife (que, no condado de Essex, é eleito por força do voto popular). “A componente política deste trabalho não é o meu forte, movimento-me mais à-vontade nos bastidores”, afirma. “O meu trabalho é assessorar o xerife e fazer com que ele se saia sempre bem no desempenho das suas tarefas.”

Xerife que, por sinal, o nomeou e que merece de John Gonçalves “um agradecimento pela oportunidade que me foi dada de chegar até aqui. É muito gratificante fazer parte do seu núcleo duro.”

Foto: CORTESIA JOHN GONÇALVES | Com o irmão, agente da Polícia de Newark, e a mãe

Do alto dos 30 anos de carreira, tem uma ou duas palavras a dirigir a quem tiver nos planos abraçar o caminho da lei e da ordem: “Tratem toda a gente da mesmo forma como gostariam de ser tratados, como gostariam que tratassem os membros da vossa família. É o meu conselho! Outra coisa: o xerife [Armando Fontoura] faz-nos lembrar também isto todos os dias: não levem a peito as ofensas por que passamos no exercício das nossas funções, não se trata de nenhum ataque pessoal. E se não capturarmos um fora-da-lei hoje, amanhã será apanhado.”

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