FLÓRIDA: NO CONDADO DE PALM BEACH, UM “CANTINHO” DE PORTUGAL

Por HENRIQUE MANO | Greenacres, FL

Colaboração: GUILHERME CERQUEIRA

Quando, em 2011, Carlos de Jesus resolveu deixar para trás os invernos de New Jersey e assentar arraiais na Flórida, de certa maneira, o Ironbound de Newark (onde cresceu e viveu grande parte da sua vida) seguiu-u para sul…

Senão, veja-se o interior do seu estabelecimento, Ibéria Grill, em Greenacres: naquele que é possivelmente o único espaço de restauração português no condado de Palm Beach, há placas de rua com nomes como Ferry Street viu Wilson Avenue a decorar as paredes.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Carlos de Jesus à entrada do seu restaurante

Ou seja, o emigrante de Praia de Mira, distrito de Coimbra, saiu de Newark, mas Newark nunca saiu dele…

Em 1974, aos 5 anos de idade, Carlos de Jesus fixou-se no Ironbound, o onde cresceu “num prédio na Ferry Street, que ainda é da minha família” e passou por escolas como a Wilson Avenue School e o Liceu East Side.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Especial do dia no ‘Ibéria’: coelho à caçador

“O meu primeiro emprego foi como empregado de mesa no restaurante Sol-Mar, quando ainda era de Diamantino Conceição”, afirma Carlos de Jesus. “Mas ainda trabalhei vários anos para a família Nobre, estive lá uma década”.

Opta depois por obter a licença de imobiliária e torna-se ‘broker’, a geris duas agências da Lucky Realty e da Existência Realty. Ainda abre um bar, o Gaivota, na Merchant Street, que mantém até se casar em 2000 – optando pelo regresso à actividade imobiliária.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Fachada do espaço de restauração

Quando decide mudar-se para a Flórida, em 2011, opta pela região do condado de Palm Beach. E explica porquê: “Como eu ainda não estava reformado, escolhi esta zona que tem muito movimento para me fixar. Já havia aliás uma comunidade portuguesa bem estabelecida, apesar de eu não ser à altura aqui conhecido nem conhecia ninguém”.

Em 2013, resolve abrir uma churrasqueira ao estilo português, a Ibéria Grill, “mais para o conceito take-away. Era um sítio mais pequeno, com 10 mesas e uma janela de atendimento ao público, na Dixie Highway.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | A decoração do espaço não deixa esconder de onde Carlos de Jesus veio, antes de se radicar na Flórida…

Em 2015 mudamos então para estas instalações, na Military Trail, em Green Acres”.

Apesar de proprietário único, Carlos de Jesus conta com a ajuda da esposa Maria Isabel na cozinha, tentando sempre ter empregados portugueses. “Fazemos o que podemos”, garante.

O agora espaçoso restaurante só encerra às segundas-feiras; nos restantes dias da semana, serve almoços e jantares das 11:00 AM às 9:00 PM, num ambiente português. Ou o que mais português se consegue, em plena Flórida…

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Dia de jogo de futebol em Portugal no ‘Ibéria’

“Temos uma ementa bem alargada e especiais para o almoço a preços acessíveis, com pratos como bitoque, bifanas e pregos”, descreve. “Eu faço questão mesmo de só apostar em pratos da nossa gastronomia”.

O Iberia conta com uma ampla sala de jantar e área de bar e um salão para festas que acomoda até 150 pessoas. O catering só é permitido se for da casa.

O ex-morador de New Jersey diz não se arrepender da mudança para sul. “Acho mesmo que as pessoas da minha geração vão acabar, mais cedo ou mais tarde, na Flórida ou pelo menos vão para sul”, palpita. “A minha geração já não pensa reformar-se em Portugal a tempo inteiro, como a minha mãe e os meus avós, que quiseram voltar para Portugal. Construíram casas lá, mas depois estando longe da família que deixaram na América”.

O empresário de restauração vê essa tendência materializar-se “no crescimento das comunidades lusas na Flórida, com segundas e terceiras gerações a virem sobretudo da Nova Inglaterra”.

Acrescenta Jesus: “Aqui na Flórida ainda se consegue comprar casa ou apartamento por menos dinheiro, a quer se acrescenta o clima ameno. Depois, estamos a duas horas de voo de qualquer ponto do norte para revermos a família ou para eles virem ter até nós (e isso faz toda a diferença). Ir a Portugal é mais difícil, tem de ser uma coisa mais planeada”.